sábado, 27 de fevereiro de 2010

Verso Molhado





As folhas parecem fazer greve para mim,

Despidas, as árvores em silêncio esperam a primavera,

Galhos secos, retorcidos e a alma hiberna ao pé do fogão a lenha.

O bonde segue os trilhos na direção das chuvas,

E eu na chuva faço o meu abrigo entre gotas cristalinas.

Ontem o vento uivou como um lobo,

Outra vez parecia um menino a chorar,

E daqui eu me fiz silêncio para ouvir o seu lamento.

O vento chora quando as flores não vêem.

Parecia brincar sozinho e chamava-me para sua dança solitária.

Ele bateu na minha porta e se fez notar em minha quietude.

Essa terra me faz sentir o passado distante,

Ternura de mim que se faz pétala nos sonhos encantados.

Apenas o oceano me separa do meu ser.

É que ser em terra alheia é não ser mais para o ninho.

Sinto a estrada absorver-me,

E assim, sou verme que só ao ver-me enverniza o linho.

A chuva molha o meu corpo e em mim acolho aquilo que só a neblina pode ocultar.

Sinto-me verso molhado,

Orvalho que as palavras encharcam de amor o poema que nasce do silêncio.

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