sexta-feira, 10 de junho de 2011

Na Teia da Palavra



Detesto a tudo que não é liberdade.

Fosso profundo de escravidão é o mundo.

Como a guilhotina está para o corpo, assim, a cidade está para a alma.

Ruas escuras, esquinas turvas e faces sombrias: colisão.



Certo pavor me invade o coração ao notar que os totens de ontem se foram.

O sagrado é mero obscuro segredo contado e partilhado às escuras.

Essa religião de assassinos cujas mãos acariciam a morte.

A sorte está posta para o holocausto de inocentes.



Já não há mais certezas. Os homens disfarçam, fazem de conta.

Os políticos estão partidos em seus partidos: roubam, enquanto riem para as câmeras.

Os fiéis se amontoam ante a mão humana que finge vestir-ser da divindade.

A ignorância mutila os incautos, domados por falsos deuses.



Soltos no espaço, degeneramos numa sociedade em degeneração.

Para onde caminha a humanidade? O que fizemos com a paz?

Onde andará Deus, tão presente no discurso dos loucos?

Estou cansado dessa divindade que disfarça o capitalismo.



O reino de Deus onde andará? Nas igrejas?

Se eu ando nas ruas, vejo os vícios grassando os homens.

Se pelos templos descubro as ruas como um paraíso.

Onde andará a justiça? Maranata!



Contra o que lutamos? Para onde vão os homens-bombas?

Onde querem chegar os homens barbudos de chapéus pretos?

O que querem os homossexuais? O que querem os ricos? Os ladrões?

Somos todos fabricantes de ilusões. É isso mesmo: meras ilusões.



Os poetas, os teólogos e os capitalistas. Diferem em que?

Sistemas viciados. Ar poluído onde a morte pede carona.

A natureza regurgita a humanidade: causa da sua indigestão.

Somos todos como escórias. Corremos atrás do vento.  



Amo os poetas porque dos mentirosos são os mais amáveis.

Dos ladrões são os menos nocivos.

Amos os poetas porque roubam o tempo e a dor, enquanto distraem a alma.

Estes são os únicos cuja finalidade não é levar o seu dinheiro, que também nada é.



Amo jardineiros e coveiros, mas prefiro os poetas.

São três espécies de gente que plantam a verdade.

Lidam com sementes diferentes: um, planta a vida e o outro a morte.

Os poetas, entretanto, entremeiam jardineiros e coveiros, visto que plantam versos, entre a vida e a morte.  

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