sexta-feira, 6 de julho de 2012


Eu e O Velho Chico!


 O Velho Chico está ali, imponente, colossal e impávido.

Sua história escorre em suas águas sertão abaixo.

É para o mar que correm todos os rios cheios de vida e desejos.

Um sol dono de um d’ouro extasiante enche a face das águas de estrelas cintilantes.

Na calma do tempo, um pescador navega sutil sobre a flor do espelho d’água, silente.

 O meu coração veleja altaneiro mesmo quando os meus pés estão distantes e sedentos da margem do tempo.

A porta do coração são os olhos, mas as águas do Velho Chico percorrem-me minha retina.

 Uma nuvem acinzentada escurece suas torrentes, mas não lhe rouba a beleza.

 O Rio São Francisco é assim como eu, suporta as quatro estações e os quatro ventos.

 O véu da noite chega e um quebranto envolve o vale e eu me acolho ante a vidraça.

 O rio segue em silêncio, mas segue e quanto a mim, em silêncio quedo-me sonhando.

Segue sempre quem sabe de onde vem e para onde vai.

 Será que sei onde estou?

 Sem pressa, sem ansiedade, sem medo e sendo ele mesmo, segue o rio.

 A vegetação verde e rasteira estão à sua volta, exuberantes, mas um deserto é dessedentado em mim.

Onde passa o rio, passa a vida, o amor e a morte, e passando, a vida fica como anelo mais profundo em meu ser.

Como o amor em mim, o rio transporta sonhos, poesias, versos e canções.

 Minha poesia nasce como flores que surgem ao pé do Velho Chico, eclodem.

 Meu poema é árvore ribeirinha onde pousam as aves.

Há frutos, ternura, beleza e um sabor de eternidade e mel silvestre.

O brilho que vejo agora na face do rio é o das estrelas.

 É que os rios espelham os céus.

 Quem quer que deseje ver a beleza da face dos céus, deve fazê-lo fitando os espelhos d’água dos rios.

Os rios sempre refletem os céus que descansam ou se agitam acima de si.

 Daqui do meu lugar, em alguma janela de Neópolis, navega o meu olhar. Para onde vai?

Minha embarcação quer encontrar a flor das montanhas.

Não sou pescador de peixes, mas de alegria, simplicidade, amor e paz.

Eu e o Velho Chico seguimos juntos.

Este para o mar e eu para amar.

 Eu, como um pescador sigo singrando para o amor, e este, o Velho Chico se tornou para mim, poema de um sonhador.

 Poema de Robério Jesus.

Em agum lugar à margem do Rio São Francisco entre Sergipe e Alagoas.



O Vento E Eu!



O vento entrou pela porta aberta beijou minha face e seguiu faceiro.

Uma porta entreaberta permite entrar o amor que viaja silente.

O amor é como ave de arribação, procura sempre os lugares altos e de afetos.

Quero voar rumo ao fio da linha do horizonte em busca de um galho de alegria onde possa pousar.

Eu já não vôo só, aves de arribação voam em bando.

Sinto-me seguro no meu vôo e me abrigo nos sonhos.

Estão em Deus as minhas mais tenras alturas.

Sigo seu vôo e me abrigo sob suas asas nas montanhas.

O meu desejo é ser pássaro que voa sertão afora.

Um arbusto.

Um canto.

O cicio do vento.

O silêncio da imensidão agreste.

Enquanto o menino dorme, despido, uma ave voa por ai, vestida de alegria e um canto no bico.

Um sorriso.

Um alento.

O arfar de uma alma que voa por ai com asas como águia.

O vento que refresca a face é vento singelo.

Sigo desejando estradas no azul do céu.

Sigo desejando o canto das estrelas.

Eu quero o novo de Deus raiando em meu ser como raia o sol nas manhãs de outono.


Poema de Robério Jesus.