A terra estava ali, linda como sempre e cercada por um ar de eternidade.
O mar, o sol e o vento compunham a melodia que enternecia o olhar.
Eu sempre soube que a beleza jamais poderia ser possuída,
Mas, agora constatei que, como tal, esta só precisa estar ai,
Ao alcance do olhar e de olhos que saibam ver.
A beleza não é algo que se possa pegar ou possuir.
Uma coisa só é bela se sua integridade não pertencer a outrem.
A beleza transcende ao palpável, ao tangível e ao domínio dos homens.
Uma coisa só é bela se pertencer a todos não pertencendo a ninguém.
Andei por areias indígenas e toquei a natureza que seus pés tocaram antes.
É duro ser derradeiro onde um dia já se foi o primeiro.
Penso que nestas terras, brasis, ser índio é vestir-se da negação.
É humilhante não poder ser outra coisa além de mera paisagem.
É humilhante não poder ser outra coisa além de mera paisagem.
Despatriado, desterrado e desaparecendo o índio desintegra-se.
Visto que o que era seu, agora está possuído por não-índios.
Visto que o que era seu, agora está possuído por não-índios.
O índio não sabe ser sem o seu mundo.
Eles estão rareando aqui e ali, escondidos e em extinção.
Eles estão rareando aqui e ali, escondidos e em extinção.
A ânsia por suas terras faz do homem-branco, seu demônio, seu algoz.
Meus olhos viram índios vendendo bugingangas, esmolando e escutando pagode;
Pousando coloridos para fotos por dois reais,
Vendendo sua imagem para sobreviver.
Pois suas almas já foram vendidas há séculos.
Pois suas almas já foram vendidas há séculos.
Esse país é injusto: índios cobrando impostos para sobreviverem!
Sorveteiros pagando impostos a índios para sobreviverem.
No Brasil meu senhor, é duro ser negro, ser pobre, ser nordestino,
Ser mulher, ser criança, ser deficiente físico, ser mestiço e ser índio.
Nesse país é duro ser. Apenas ser, subsistir.
Não-ser parece ser a forma mais adequada de existir.
Não-ser parece ser a forma mais adequada de existir.
A beleza está ai, mas paga-se para ver.
Paga-se caro para ver o que é nosso.
No céu, no mar e na terra.
Eles chegam aqui, põem uma cerca no que era livre e de todos e dizem:
Custa tanto para entrar e outro tanto para ver.
A desgraça do Brasil é o brasileiro.
Essa gente mestiça, sem pátria e sem coração.
Os que não vendem o país assistem em silêncio os que vendem.
Esse mal é antigo, mas em nós ganhou requinte de coisa peçonhenta.
Eles estavam lá, com tacapes na mão.
Quem estava lá?
Ninguém, ninguém além de Neo-capitalistas com vestes palha.
Peles vermelhas a procura de uma nota de um real.
Não fosse assim já teriam sido extintos para sempre.
Eles são vítimas da ORDEM E PROGRESSO,
De uma pátria sem coroa e sem coronárias.
A coroa é vermelha como a pele e como o sangue.
Porém, vermelha mesmo ficou minha face ao notar tal calamidade.
Dizem que o Porto é Seguro,
Mas seguro para quem?
Na terra do salve-se quem puder, seguro mesmo só de morte.
Las Casas até que tentou, no entanto, o mundo vergou a sanidade.
A beleza estava ali diante dos meus olhos,
Então eu pude entender o sentido da sentença teológica:
"A natureza geme aguardando a redenção dos filhos de Deus!"
E ainda a afirmação paulina,
"Miseráveis homens que somos!"