sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Solitude





O tabuleiro está ali e as flores sequer notam a minha presença,
As aves vão e vêm sobrevoando o prado longínquo,
E o espelho d’água esgueira-se pelas encostas das montanhas;
O rio inunda o meu olhar e este se faz mar no oceano da vida.
A beleza pede carona na estrada dos sonhos de gente como eu.

Minha alma silente flui com a brisa que sopra a face da flor,
Mas as flores sorriem quando os versos tocam das pétalas a pele.
O sol brilha e sua luz passa pelas frestas das janelas entreabertas;
A sombra avisa a hora e o homem do campo descansa o chapéu,
Na estaca, onde corujas resvalam as asas no pouso noturno.

O douro do sol cora a tudo e o vermelho do céu tinge a terra,
Faz-se rubro o meu olhar e a ternura do mato molhado destila.
O verde versa a vida, vinda no vento de fim de tarde,
À voz dos arvoredos onde as cigarras vibram a melodia da aurora
Que encanta a alma e refaz o homem que sente a poesia junto ao poço.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Psicossomática




O corpo é o maior patrimônio do ser humano,

Mas, para mim, o meu, me parece ser o limite da alma.

O meu corpo é a extremidade do espírito que em mim habita.

Se amo ele sente,

Se choro, padece.

Se me alegro, parece querer pular sorridente,

Se me encanto, sua reação logo transparece.

Eu confesso que não entendo o meu corpo.



Este, participa de tudo o que eu sou.

É o inverso do eu lá dentro: côncavo e convexo.


Diga-se de passagem, é mais fácil ler o mundo interior pelo exterior.

Se eu adoro, meu corpo se encurva, flexiona e vibra,

Quando me aborreço, ele se envolve e as veias se alteram.

Eu confesso que não compreendo o meu corpo.


Se eu tenho fome, ele sente,

Se sede, ele grita,

Se eu sinto sono ele me abate.

Criatura exigente é o meu corpo.

Acho que ele precisa de cruz e túmulo.

Mas, às vezes, de paraíso e ressurreição.

Se eu estou triste ele encolhe-se entre cobertores,

Acho que o meu corpo é cúmplice da minha alma.


Se minha alma se alegra, minha face aformoseia,

Se esta sofre, este o traduz em dor,

Mas, se lhe falta pão, veste ou um teto,

A minha alma sorve em angústia os dias frios.

Se me falta Deus, meu espírito migra à alma a sua carência e esta,

Faz do corpo o alvo dos açoites de seu chicote.

O soma, soma em mim a dor e o ardor do sol que só aquece.

E, assim, eu vou vivendo entre o martelo e a bigorna,


Onde existir não é outra coisa, senão o encontro das águas


De rios que vão para o mar,


do mar em mim que fecunda a eternidade.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Se acaso




Se acaso vires no inverno uma pétala vermelha na neve,

Ou no outono um trevo amarelo deitado na estrada de chão,

Saiba que a vida vence o tempo e em silêncio faz brotar a beleza da próxima estação.

Se acaso vires o sol com seus raios esgueirar-se nas montanhas,

Ou nos jardins abelhas, borboletas e beija-flores sobre o néctar da flor,

Saiba que é primavera a estação das cores e das delícias de aromas suaves.

Se acaso vires no mar barcos à vela, windsurf e garotos correndo na areia,

Ou asa deltas no ar sob o manto azul do céu,

É o verão dos sonhos vívidos onde o amor e a alegria não têm hora para acontecer.

Se acaso nada disto vires,

Acorda, pois a vida é breve,

Um conto ligeiro na espera do trem da meia-noite.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

O Que Fazer Se...?



O que fazer se ontem eu não pude adejar no vento,
o redemoinho se foi e eu sequer dancei à sua volta.
Se no arco-íris, eu não pude semear a flor-de-lis que destila a ternura,
E se nas nuvens eu não pude construir a minha casa da árvore?

O que fazer se a neblina fez nascer a relva que descansa os pés,
mas minha alma sozinha e sedenta corre atrás de ribeiros que o tempo secou?
Se as marés levaram os sonhos para o outro lado do amor,
e se o silêncio fez ruir a canção que guiava as estrelas?

O que fazer se o sorvete de morango derramado fez brotar o desejo,
Se a calçada onde passam pés sem destinos certos,
ruma para ruas escuras que o olhar teme percorrer?
Se as amoras que brotam no verão negam sua cor e frutos a mim?

O que fazer se já não sei se a poesia leve leva além o tom da esperança,
Se me faz bem saber da noite com janela aberta para a lua ali,
Se o olhar não pode ver além da vida, a lida que desfaz o pote junto à fonte?

O que fazer se eu aqui não passo de uma doce ilusão,
Enquanto espero o ignoto?
Nada, simplesmente nada,

Além da beleza, pois a vida é a arte de saber esperar,
O tempo que não mente e germina a justiça do amor que fecunda os sonhos.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Estação Das Flores



A primavera é assim,

Chega despretensiosa e faz-se notar imperiosa.

No campo as flores versam o inverso do inverno,

A vida vívida colore o mundo em tons diversos;

A açucena deu seu broto ao olhar de quem passa na estrada,

O beija-flor voou riscando o céu de azul-turquesa,

As borboletas encantam enquanto a mãe menina colhe o botão de rosa.

A primavera é assim,

Não tarda expor o amor que o inverno fez hibernar no tempo,

É verso de canção de poetas renascidos das cinzas de verões de outrora;

E eu meu senhor, daqui da minha janela,

Vejo jardins floridos que dão à alma do artista o tom de beleza no olhar.

Olhar que compreende o mar, o sol, a chuva, o mundo e o amor.

A primavera é assim...

Esse encanto multicor.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

O Véu Da Noite




O véu da noite deslisa na face da lua;
daqui da minha janela avisto as estrelas,
enquato a brisa leve que vem do mar assopra
em mim a saudade de outonos idos.

Daqui da minha janela eu vejo o mar,
suas ondas tecem a valsa encatada,
e versa o tom de poemas belos,
o aroma que da areia vem,
traz o sabor das amoras das montanhas.

O véu da noite continua ali,
e eu, calo em mim a grandeza desse instante.