domingo, 29 de janeiro de 2012

Vida De Cão!




Eu admiro os cães porque são belos. Sabê-los todos belos e possuidores de várias competências é coisa que exige um dedicado e requintado estudo. Há cães dóceis como os poodles, caçadores como os Pointers, inteligentes como os são-bernardos, ferozes como os chow-chows e os pit bulls; brincalhões como os labradores, hábeis como os cocker spaniels e até, cães notáveis e famosos como Lesse, Scooby-Doo, Marley, a cadela Baleia do romance Vidas Secas, de Graciliano Ramos e outros tantos que levam a vida como profissionais de circos, e ainda, há os que fazem parte das corporações policial pelo mundo afora, como o conhecido Rin Tin Tin e Max. Eu aprendi que cães felizes, alegres são cães que devolvem afeto.

Não era incomum na minha infância ver muitos cães mendigos. Estes eram aqueles que passavam o dia inteiro na porta do mercado ou dos açougues pleiteando numa disputa mortal por um osso. Eu assisti à batalhas titânicas. Cães com instinto assassino, vagabundos, indomáveis e sem donos; violentos porque foram violentados. Cães fétidos, vestidos de uma pelagem suja e com visíveis feridas pelo corpo, esperando a morte chegar. Outros houvera que venciam os seus dias como ébrios nos cantos ou portas de botecos, esperando que fortuitamente, alguém lhes desse um naco de pão, mortadela, requeijão ou qualquer outra coisa que lhes saciassem a fome. Eram cães pulguentos, indolentes. Eu mesmo conheci alguns pelo nome de batismo: Relógio, Piau, Flick, Don e Ravel e mesmo aqueles dos quais cantou Luiz Gonzaga em Samarica Parteira, cachorros vira-latas, cães da roça e de raça que corriam atrás do gado, ao lado dos vaqueiros, com nomes esquisitos:

“Um rancho, rancho de pobe...
- Au au!
Cachorro de pobe, cachorro de pobe late fino...
- Tá me estranhan'o cruvina?
Era cruvina mermo. Balançô o rabo.

Não sei porque cachorro de pobe tem sempre nome de peixe: é cruvina, traíra, piaba,

matrinxã, baleia, piranha.
Há! Maguinho mas caçadozinh' como o diabo!
Cachorro de rico é gooordo, num caça nada, rabo grosso, só vive dormindo.

Há há ... num presta prá nada, só presta prá bufar, agora o nome é bonito: é white, flike, rex,

whiski, jumm. Há! Cachorro de pobe é ximbica!”

Por esses dias, no entanto, eu notei num soberbo flagrante, que existe uma falange de cães que estão mais para PCC e CV canino do que para uma simples canzoada de rua. Cães perversos, de índole torpe, perfil de mau caráter e ardilosos. Por que digo isso? Eu pensava que banditismo, agressividade e covardia fossem coisas dos seres humanos apenas, os encontrei também entre os cães vadios da minha vizinhança.

Era noite e eu vinha ouvindo o rádio do meu carro numa rua escura, que de alguma maneira escondia a vida e a morte de outras ruas claras próximas à minha casa, cheias de olhares repentinos e sub-reptícios. Foi assim que ao entrar na curva e as curvas sempre revelam velados segredos. As esquinas escondem as sombras e as assombrações. Eu avistei, aturdido, à matilha, uma malta de cães ruidosos e raivosos devorando sua presa. Eram doze contra meio. Pois aquele cão enorme punha a sua pata dianteira direita sobre o peito do cãozinho inofensivo, vencido, ultrajado, mordido e de honra destruída, deitado de barriga para cima, cercado pelos outros onze algozes seus, os donos da rua.

Desesperado e impotente, o cãozinho chorava, enquanto os outros se riam. Pareciam rir da miséria alheia. No meu desvario inopinado, acometi-lhes com o meu carro sem pestanejar, mas temi ferir o pequeno pobre coitado. A ideia de socorrer um desvalido e fraco cão me percorreu as veias e de súbito, arremessei o veículo sobre aquela farândola canina, que logo se evadiu, deixando o cãozinho em paz, momentaneamente. Todavia, assim que eu olhei para o retrovisor, avistei a refrega humilhante sobrevir ao desvalido que agonizando, gemia sem esperança alguma de salvação.

Os agressores eram cães feios, maltrapilhos, sujos, cujo líder psicótico e valentão punha novamente a sua pata suja e onipotente sobre o peito de sua pobre vítima. Eu suspeito que o abandono seja uma coisa ruim que transforma os homens e até os bichos. Desprezados, maltratados e largados ao relento à sua própria sorte, a natureza dócil e inofensiva de qualquer indivíduo assume drasticamente a selvageria e comportamento violento que num habitat naturalmente confortável e de acolhimento jamais desenvolveria mesmo nos irracionais. Cedo aprendi que os cães refletem os seus donos.

Como psicanalista de pessoas e observador dos bichos, ouso a dizer que os animais refletem seus donos. Aqueles são reflexos destes. Eu gosto da figura bíblica de Noé. O seu poder de atração e cuidado pelos animais parecia ser tão grande que o Criador decidiu confiar-lhe a vida e o destino dos mesmos na sua arca. No dilúvio Deus se importa com os bichos pela dignidade e destrói os homens pela bestialidade.

Por esses dias alguém me perguntou: “Pastor é errado orar pelos nossos animais de estimação?” E ainda, “Podemos pedir um milagre em favor deles?”. Eu disse “não” para a primeira pergunta e “sim” para a segunda, visto que, com a suspeição teológica que acompanha a minha lógica interpretativa, da narrativa do Gênesis, compreendendo que se Deus fez os animais e os fez Nefesh Haia, ‘alma vivente’ como nós, povoou a terra com eles, antes de coloca-los no Éden, pois Ele tem carinho pelas coisas mais tenras, criadas por Ele mesmo.

Há uma característica nos cães que me fazem pensar. Os cães são fiéis. Fidelidade canina é sempre um mote de bravura e louvor. Eu sou um homem de poucos amigos. Trago em mim, por força das circunstâncias da vida, um traço da fidelidade canina. Sou amigo dos meus amigos. Entretanto, transporto uma dor que como azougue, insiste em permanecer como uma marca presente na minha história. Os meus amigos, salvo raras, raríssimas exceções, não possuem fidelidade canina. Dai o meu naufrágio no mar da sociedade. Tornei-me habitante da ilha da solidão. Devoro minha solitude como o último fruto doce da última estação de frutos. Faz tempo que parei de andar em bando. As matilhas já não são mais confiáveis.

Não sei se foi uma identificação projetiva o que me comoveu naquela cena em que o cãozinho estava sendo esmagado pelos cães grandes, covardes e agressivos. Suspeito que sim. Há mais fidelidade entre os cães do que entre os homens. Foi Thomas Hobbes quem disse: “Homo Homini Lupus” – O homem é lobo do homem – para falar de sua condição de predador de si mesmo e dos outros. Estamos num munod onde homens e cães se parecem. Os cães de agora possuem o espírito das alcatéias. Herdaram dos lobos a selvageria necessária para esmagarem outros, seus iguais, indefesos, por razões de uma simples micção (palavra bonita para falar do ato de mijar) na funesta demarcação de território. Até os cães querem poder, autoafirmação, liderança, disputa pelos odores das fêmeas e o desesperado ato de sobrevivência. Uma espécie de capitalismo canino. Há empresas, pessoas, governos, líderes e partidos que vivem em plena selvageria canina.

O capitalismo subjugou a algumas instituições publicas e particulares, a associações politicas e religiosas, ao mercado e a algumas empresas a se tornarem verdadeiros canis. Cães outrora domésticos tornados selvagens na alma, nas relações interpessoais e na prática do trabalho. Como os cães selvagens tento seguir os meus instintos aguçados, visto que sobreviver sem agressividade já não é possível, entretanto, tento ainda manter em mim a doçura dos domesticados e de estimação, aqueles que justificam a fama de que são conhecidos como ‘melhores amigos do homem’. Adoro os cães porque fiéis, dóceis, hábeis, inteligentes, amigos e não ameaçadores; odeio a tudo que se chama injustiça, quer no reino humano ou animal. Para muitas pessoas, a vida se tornou uma verdadeira vida de cão.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Desilusão!





Assentado na fenda do tempo eu estou a tocar uma flauta.

Estou pendurado numa rede entre o passado e o futuro.

Ali onde o dia e a noite se abraçam e o olhar assiste o céu avermelhado.

Absorto, vejo os meus dias passarem lentamente como um silencioso afluente.

Para que as marés se as manhãs já não são mais as mesmas?

As manhãs da democracia quando sonhadas na ditadura eram mais palatáveis.

É na guerra que damos lugar aos sonhos.

A liberdade é valorizada na prisão.

Quando menino eu sonhava leve sobre a laje da casa onde eu morava.

Deitado ali, eu esquecia o meu corpo e como num transe hipnótico, eu adejava.

Hoje eu cresci; as brancas cãs me sobrevieram feito cardos e espinhos.

Meus sonhos são mais tímidos, mas não menos sedosos.

A batuta da minha razão parece reger a sinfonia do meu corpo.

Regerá as melodias da alma? Estas insistem como arpejos de flautas ainda doces.

Sinto-me flor das montanhas.

Minha sobriedade rompe abismos e goteja em cascatas que descem as escarpas.

Moro num país superficial e de superficialidades.

A verdade é de cera, não suporta o fogo.

Os engravatados são mendigos por dentro.

E ainda se encontra diamantes na pocilga.

Ainda mais se engana em nome de Deus.

Sem cara e coroa a fé não opera.

E o povo? Chapeuzinho vermelho à espera da degola na floresta.

E o lobo? Lobo não, lobos!

Estão por ai! Usam togas, terno e gravatas, vestes clericais.

Os lobos estão nos jornais, templos, revistas, TV, nas câmaras, gabinetes e
palacetes.

A alcatéia fez sua morada nos prédios públicos das cidades.

Uma matilha privada esgota-se na privataria da vida privada.

Quando nasci disseram que o homem foi à lua.

A lua continua ali sobre a minha cabeça e meus heróis já foram sepultados.

Gosto da lua porque resiste à história sem perder a candura.

A lua possui o luar e este, o meu olhar saudoso e inocente.

Minha geração bebeu o seu próprio sangue no banho de sangue dos anos idos.

Minha geração sorve as fezes de anos de repressão e miséria.

O bastão mudou de mãos, mas os ratos ainda correm.

Baratas e escorpiões resistem à bomba atômica.

O sonho de outrora, tornou-se a desgraça de agora.

Ligo a TV e logo avisto minha condenação.

Estou condenado a viver numa geração vazia de tudo.

Mentira, engodo, engano, trapaça, corrupção, roubo e mais roubo, é tudo o que
se vê.

Quem anuncia a verdade mente.

A mídia mente.

Políticos mentem.

Religiosos mentem.

A sociedade mente.

O povo mente.

Somente.

Já não há sementes. Só mentem!

Transgenia de uma moral insípida.

As vestes dos santos estão rotas.

Fiz 42 anos e me sinto ultrapassado num mundo sem esperança.

Os cantores da esperança se emudeceram estarrecidos:

os seus companheiros os traiu.

Capitalismo. Haverá coisa mais satânica? O diabo veste prata, prada e ouro.

Eles mataram os jardins e as escolas não passam de um curral onde cevam para o
sacrifício.

E economia dita os deuses e as regras, os partidos políticos: a desgraça em siglas e
cores.

Temo pelos meus filhos e pelas pessoas que amo!

Temo pelos drogados que na fuga do mundo se proveram da ânsia de felicidade:

é isso que são, temporária, fortuita e desgraçadamente felizes.

Essa felicidade os alija de tudo.

Os ratos e os gatos subsistem e já não comem mais queijo, mas bebem o sangue
do povo.

Minha geração não sai mais às ruas, assiste BBB e comenta feliz a devora do lixo.

Vivemos todos numa macro cracolândia e culpamos os drogados das ruas.

Essa geração está desprovida da verdade.

O templo da verdade habita fora daqui.

O mundo, seus governos, os partidos, as ONGs são tudo mentira.

E a verdade dos templos desabita a verdade do Cristo.

Sinto-me barco a deriva.

Apego-me à fé em Deus somente; minha semente.

Vou seguindo, posto que parar já não posso.

A felicidade é que daqui a cem anos, ainda estarão aqui a lua e as estrelas.

A despeito de a terra continuar.

Todos morreremos!

Realizem, locupletem-se, matem, mintam, faturem,

A porta estreita da sepultura exigirá a devolução.

A Porta é estreita para todos!

Por ela passarão apenas os humildes de espírito.

Estes herdarão a terra! Mas qual terra?

No mundo possível de injustiças, a justiça já não é possível.

Quero molhar meus pés nas águas do mar e afogar minhas mágoas.

A desilusão é pão que se come à mesa dos quarentões acima.

Faço parte de uma geração que espera o homem de ferro.

Um anticristo filisteu que enganará as nações com falsas promessas.

Os judeus se escondem atrás de um Cristo que há de vir.

Os cristãos, gente dividida e sem rumo, fala do Cristo que já veio, mas não o segue.

Muçulmanos matam e perseguem a ambos em vingança contida.

Os ateus desta geração fizeram pacto com o diabo.

A alma desta geração sorve o veneno da indiferença.

A fábrica mata uma população, mas eles dizem não ser verdade:

Santo Amaro da Purificação que o diga: chumbo, enxofre e ranger de dentes.

Eu prefiro poetizar antes que a morte me separe do mundo, ou me uma a ele de
uma vez.

Pelo menos não terei vendido a minha alma.

Corro o risco de lançar minhas pérolas aos porcos,

Mas acredito que como eu, ainda há quem se importe.

Eu continuo deitado sobre a laje, adejando! A realidade é dor aguda.

Minha alma sonha e daqui de cima, eu prefiro as flores!

A minha bandeira é o amor!

 


Poema e foto de Robério Jesus.

Efemeridades!





O travesseiro está ali, mas a cabeça quer colo.

Tudo passa em volta de mim e mesmo eu, passo em volta de tudo.

As nuvens passam.

O vento passa.

A chuva passa.

Os rios passam.

As cidades passam.

E passam as notícias de amor e morte.

Passa o útero e o seu fruto.

Passam os carros velozes.

Passam as horas e o hálito embaça a vidraça que passa.

A vida passa.

Passam as crianças e os velhos.

As estrelas passam para dar lugar ao dia.

Passam o sol, a luz e as ondas do mar.

Tudo passa, enquanto passa tudo que é efêmero.

Os pássaros são efêmeros e por isso passam.

A noite é passageira e por isso, efêmera.

Eu sou efêmero e por isso, em trânsito.

Transito em um mundo em que tudo é temporal.

Só o amor é eterno. Onde?

Passam o trem e as quatro estações.

As promessas passam.

E havendo poesia, cessarão.

E havendo semânticas, findarão.

Dizem que a terra dura para sempre.

Eu não estarei aqui para saber.

Estão tentando destruí-la antes que ela morra sozinha.

A violência passa.

Essa geração sem rumo passa.

Outra geração virá, mas já não haverá nada novo.

O que dura para sempre?

A ambiguidade das coisas.

Isso sim se eterniza!

A política passa e os políticos são efêmeros.

Os livros passam e os autores também.

Os poetas sobrevivem porque são feitos do tecido do amor.

A poeira passa.

Passa a dor.

Os sorrisos, se singelos, resistirão, porque feitos dos fios do amor.

Só o amor é eterno e tudo que é do amor se eterniza.

As pessoas passam e com elas os sonhos.

A agonia passa.

Passa o capitalismo; renasce o irmão.

O mundo que se nos apresenta agora há de passar.

Passou o Mundo Antigo.

Passou a escravidão.

Passou a dita dura e a ditadura matou a verdade.

E os militares se tornaram efêmeros.

O povo é efêmero. Eterno é o mar.

Passam os deuses, os titãs e os monges.

Todos juntos se tornaram efêmeros.

Há muito por passar que me encanta agora.

Na morte passo eu.

Na vida sou apenas um simples caso de amor!

A vida é efêmera se não há ilusões.

Como efêmeras são as certezas.

Passaram as filosofias e os meus filósofos ocupam mausoléus.

A glória do Egito passou e a de Brasília não tardará!

Uns passam em cadeias.

Outros são efêmeros nos hospitais.

Há ladrões livres que se acham eternos. Ledo engano!

Tudo passa se o amor não vem.

Passam as rosas e os espinhos também.

Quero passar satisfeito.

Preciso entender que só no amor eu toco a eternidade.

É a eternidade que me toca quando amo.

Tudo passa.

Passam os passos e até os marca-passos.

Passagem! É assim que me defino agora.

Somos todos, meras periodicidades.

Voláteis.

Volúveis.

Volumes leves levados pela correnteza da vida.

Daqui do meu lugar eu sou filete de um ribeiro que passa nas montanhas.

Flor que nasce, cresce e morre: passa.

Um conto ligeiro.

É isso! Somos todos, um conto ligeiro.

Canções de ninar que em se cantando, a tudo adormece.

Adormecemos e pronto...

É noite!


Poema de Roberio Jesus.



Foto de  Mary Oliveira.



Entre Um Verso E Um Desejo




Um verso peregrino esconde-se em minha alma deserto.

Forja sua espada e brande sua ternura ao lume.

Um verso migra em mim para horizontes meus.

Pagina a flor e o caule de uma planta de oásis na areia.

Um verso me atravessa a calma e me deixa assim.

Quando a palavra é sol, o amor é primavera.

Minha poesia é príncipe maltrapilho, rústico, mas encantador.

No verniz da minha língua pátria escondi o meu verso.

Reversos de avessos meus quando a cor é difusa.

Um verso me habita o ser, mera serenidade.

É um verso dos versos que me fazem sossego.

Sem sentido a palavra é obscuridade.

Mas que sentido eu quero dar à obscuridade dos que moram em mim?

Sinto a dor de amores idos,

É duro acordar em manhãs sem sóis.

A sós, construo muros em minha subjetividade.

Um verso se faz cometa em meu céu estrelado.

No fundo escuro da noite renasce o desejo.

Fecho os olhos.

Imagino a felicidade.

Penso.

Desejo.

E assim a mágica do amor percorre o meu corpo.

Não sei se funciona.

Eu só sei que desejar é mais que uma fantasia.

No desejo eu vivo.

Transcendo a mim mesmo.

Supero-me.

Reinvento-me.

No desejo eu sopro em mim mesmo a força para a vida.

Desejar é preciso.

domingo, 22 de janeiro de 2012

Vórtice!

  

Às vezes, as lágrimas brilham,

Rolam alma abaixo,

Escorrem pela ternura da face;

Descem pelos lábios,

Repousam no coração da boca e,

Tepidamente dessedentam sorrisos mortos de sede.

Poema e foto de Robério Jesus.

Valha-me Deus!




          Uma espessa nuvem havia deixado o seu rastro nos céus de ontem. Em Quixangá há céus e céus. Uma inesgotável tela de mares de nuvens e cores azuis, cinzas e um tom rosé, dos vinhos de velhas adegas toscanas. Sabor inesgotável em tons de amor e saudade. Todos os dias acontecem um verdadeiro miracolo! Sob esse céu de fazer rir e chorar, o véu da noite deitou suas brumas e a pele aveludada do sereno repousou em mim, feito um casaco felpudo no inverno dos Andes. De longe, eu ouvi baterem as palmas de alguém, que sem querer, trouxe-me de volta para a realidade, despertando-me do sonho em que eu adejava. E assim, rapidamente, abandonei o balanço da rede que me acolhia em sua concha-útero de descanso da minha lassidão.
          A autora de tamanha desventura para a alma que flutuava absorta, resultado de seu enamorar-se com o sol, era uma amável senhora, cujo nome, eu terei que omitir por razões diversas e nobres. Chamá-la-ei aqui de Brave Heart “Coração Valente”, considerando sua luta, sua dedicada e incansável atenção ao bem estar de sua família. Às vezes, as lágrimas brilham, rolam alma abaixo, escorrem pela ternura da face; descem pelos lábios, repousam no coração da boca e, tepidamente dessedentam sorrisos mortos de sede. Era o caso dessa amável senhora.
          Eu a acudi com todo o meu empenho humano, pastoral e afetuoso, como sempre faço quando solicitado a socorrer pessoas amarguradas; ela sentia-se como um tapete persa, belo, mas pisado pelos pés de que a dizem amar. Ela era uma frágil flor do sertão, no ápice do seu desespero. Foi assim que a percebi, haja vista o fato de a mesma, transportar em si, uma fonte torrencial de lágrimas, a qual, com certa constância, fazia e o faz ainda hoje, chover lágrimas como águas de um rio impetuoso sobre sua face meiga e já tão sofrida. Para algumas pessoas, sorrir já não é mais uma possibilidade de leveza e calma, é antes, e contraditoriamente, um gemido do corpo que sonha possuir a tão distante amenidade da vida.
           Não demoraria muito a que eu soubesse a causa de sua aflição e, meus pés, logo seguissem apressados os seus combalidos passos de matriarca entristecida. Minutos depois, céleres pelas ruas da cidade, seguindo-a no meu carro, eu cheguei a uma casa com aspectos normais na arquitetura, mas lúgubre no seu interior, de cujo coração saiu-me ao encontro uma jovem senhora de compleição digna, mas abatida e sob o manto de um temporal de lágrimas que se fazia forte correnteza naquela olhar acabrunhado, sob a tibieza daquela noite fria que deitava suas raízes nas estrelas.
           Feito uma guerreira, aquela mãe, falante e nervosa, agora apostando todas as cartas de sua esperança naquele, aparente e destemido jovem pastor, que mal sabia para onde ia, mas que para ela, era a luz no fim do túnel, o solucionador do problema que aguardava a ambos no andar de cima. Inocente eu caminhava para a cova dos leões.
          A escada pela qual eu subia, era dessas que se sobe em espiral, contorcendo corpo, alma e espírito, revirando estômago, pescoço e pernas. Exigiu de mim certa destreza de contorcionismos, porquanto aquela escada mal cabia o meu corpo, mal dava para o meu espírito e alma. A coisa era de tal monta feia que em caso de uma emergência só sairia um e de cada vez caso sobrevivesse, pois era apertado como escotilha de submarino. Se alguém entalasse ali, quem estivesse em cima morreria por lá mesmo, e o de baixo sucumbiria.
          Aquela brava senhora subiu e adentrou ao cubículo apertado e calorento. Os meus olhos caçavam possibilidades de rotas de fuga no caso de uma urgência iminente mesmo antes de saberem o que me advinha; as minhas mãos seguravam o corrimão da escada e minhas narinas buscavam ar fresco e vida. Era surreal o quadro que destampava de chofre ante os meus já aturdidos olhos. Lá estava um jovem rapaz, possuído por um espírito maligno, deitado sobre o único móvel do quarto, a cama, resultado de um dia inteiro mergulhado nas drogas.
          Tentando acudi-lo e sem noção alguma do que estava acontecendo, aquela amável senhora dizia aos borbotões:
          _Meu filho levante que o pastor chegou! – disse ela com voz de mãe carinhosa.
          Ela mal sabia que ali não estava apenas o seu filho, mas também, uma casta de animados e desavergonhados espíritos maldosos que torturam e escravizam jovens indefesos. A cena era grotesca, mas não tardaria a piorar. De fato eu nunca gostei de lidar com essas coisas, mas o sacerdócio não é uma vida de fáceis e confortáveis opções, pelo menos não era. Hoy ja nolo se!
         _Pastor faça alguma coisa, pelamordeDeus! - dizia ela querendo a solução imediata daquela dantesca situação.
          Embaraçado, sem saber por onde começar, eu fiz a minha prece em silêncio. Eu não sabia se se tratava de outros expedientes do cão coxo, o demônio, como briga entre irmãos, ataque de fúria, espancamento de mulher, mas parecia não ser nada disso. Eu estava agora diante do meu desafiante, o titânico gigante Golias, e na mão, somente a pedra da fé, certezas minhas de verões de outrora nos jardins de édens meus, onde passeei com Deus. É diante do demônio que nossa humanidade e certezas são postas a prova.
          Aquele belo, mas oprimido e desfigurado rapaz, tomado por uma força absurda, começou a rosnar dardejando. Dentro daquele quartinho de ar rarefeito, eu sem fôlego, respirava o mesmo ar que o capeta. Ali eu vi contrariada a lei da física que diz que dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar no espaço. As pernas do moço ergueram-se na direção do teto. Apoiado apenas pela cabeça e pelo pescoço e, sem utilizar as mãos, a assombração do mal mostrou sua carranca.
          Um grito surdiu das suas cavernas guturais e sua já atemorizada mãe, fazia imprecações, chamando por todos os possíveis códigos da semântica sagrada para exorcizar o capeta que parecia desdenhar de tudo aquilo e de nós. Ainda ouça-a gritar um “valei-me minha Nossa Senhora! Valha-me Deus! Em nome do sangue de Jesus, deixa o meu filho, seu desgraçado. Deus é mais! Cão do demônio! Sujeito bandido! Vá de reto Satanás!”.
          Era uma riqueza de palavreado em sotaque nordestino, misturando a força de uma fé nascente, a galhardia de uma mãe encorajada com a presença de um jovem pastor em exercício de exorcismo, com conceitos católicos e evangélicos. Aquilo se tornou o que eu chamaria de furdunço! Ela havia recém aprendido a linguagem da batalha espiritual, mas nada que atemorizasse o tinhoso.
          Eu confesso que não corri porque eu teria que me jogar escada abaixo e descer aquele apertado S de saída, correndo o risco de entalar ali mesmo. Os rogos da mãe assomados pelos indecifráveis sons guturais, onomatopaicos que estrugiam no quarto fizeram meu coração apequenar-se, murchando como uma flor sob um sol causticante.
          Do lugar do medo eu arranquei força para me aproximar da cama e bem baixinho eu disse com autoridade aos ouvidos daquele moço para o que quer que fosse que estivesse alojado nele,
          _Deixa esse moço livre agora, em nome de Jesus Cristo de Nazaré!
          Eu temi que o demônio fosse nordestino e pensasse que a Nazaré a que eu me referia fosse à cidade baiana chamada e conhecida como Nazaré Das Farinhas. Para a minha sorte, não era, não houve tal confusão. E assim, meu caro leitor, eu voltei pra casa refletindo, em três dimensões: como pessoa, como pastor e como psicanalista. Findo assim, por não ter encontrado um final melhor no momento.
          Como pessoa é sempre bom atender os amigos em suas dores mais profundas, chorar com os que choram.  Como pastor, compreendi que existimos não para nos locupletarmos das riquezas e da lã das ovelhas, mas para as angústias das pessoas carentes da cidade. Como psicanalista, eu aprendi que não é de bom alvitre, nem sensato, que se saia espavorido por ai, seguindo quem quer que seja, sem antes fazer uma breve entrevista, depois uma sutil anamnese e, finalmente, verificar se é possível o atendimento a queima roupa. Se tais cuidados não forem observados, você pode precisar fazer das tripas coração.
Valei-me Deus! Valha-nos Deus!



Texto e foto de Robério Jesus.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Pai, Uma Metáfora!






Há uma palavra que em mim é saudade.

Das muitas saudades geradas por tantas que me habitam.

A alma é habitação inequívoca das palavras que geram saudades.

O mundo é mágico quando a alma engravida-se da poesia.

Poesias são palavras metaforizando o mundo e as coisas.

As palavras estão por toda parte.

No mundo dos sentidos, quase tudo é metáfora e, portanto, linguagem.

Wittgenstein dizia que, “os limites da minha linguagem são os limites do meu mundo”.

E ainda, “as fronteiras da minha linguagem são as fronteiras do meu universo”.

Há uma palavra que lançou divisas nas fronteiras da minha alma: PAI!

Pai é o vocábulo mais complexo da minha existência.

Amiúde eu não sei definir se ausência ou se ternura.

Se pesar ou se leveza: ambiguidades de um ser em exílio.

Não o absorvo muito bem. Digeri-lo é uma arte.

Não sei dar-lhe um sentido que me faça sentido.

À bem da verdade, eu sei como é ser pai,

Mas não faço ideia do que é ter um, no sentido pleno da palavra.

Todo pai deveria somente existir e sê-lo, no seu sentido pleno.

Ser pai sem sentido é ser a antítese do sentido que se têm,

Quando se é pai com sentido.

As coisas com quem fazem sentido possuem um nome.

Os nomes são símbolos;

Signos que indicam a relação entre o nomeado e o ser que nomeia.

O meu pai tem um nome.

Chama-se Raymundo.

O seu nome é vasto e farto de antíteses.

No seu nome há mundos, anelos e imensidão.

Metáforas; feito casas velhas esquecidas nas bermas da estrada.

Famoso e eternizado na poesia de Drummond:

“Mundo mundo vasto mundo
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração”.

Ragin-mund significa em germânico: poderoso protetor e sábio.

O meu pai é Ragin-mund.

Distraído, saiu pelo mundo fugindo para o seu vasto mundo.

Submundos meus costurados por barbantes.

 Lugares onde agruras, solidão e silêncio fazem do menino um homem.

Por onde andava Raymundo quando eu precisei de um pai?

Em que mundo? Por quais tormentas?

O meu protetor poderoso e sábio, não viu o meu mundo crescer.

Ele não estava lá quando eu nasci.

Ele não estava lá quando eu aprendi a soletrar as primeiras palavras.

Também não foi em seu mundo que eu dei os meus primeiros passos.

Passos dados no meu não tão vasto mundo.

Ele não estava lá quando eu aprendia sozinho a montar bicicleta,

Depois de muitas e desnecessárias quedas.

Ele não foi me buscar na escola, uma vez que para ela não me levou.

Não lhe falei da minha primeira aula.

Não lhe narrei minha primeira briga de rua.

Não empinou papagaio comigo.

Não correu na chuva.

Sequer lhe falei das flores e frutos roubados: travessuras lépidas.

Sequer me corrigiu.

Não me tomou pela mão.

Não me mostrou as estrelas, nem com ele vi o pôr-do-sol.

Não veio quando eu aprendia a nadar sobre um bambu na lagoa.

Não me ouviu cantar como uma ave canora a primeira canção.

Em seu mundo tão distante, seu Raymundo nem me ensinou a ler.

Ele não me contou estórias, nem me viu fazer desenhos esgarranchados no caderno.

Não me viu escrevinhar seu nome nas paredes, no escuro no natal.

Não pude lhe falar minhas angústias,

Todas sufocadas em interrogações sem respostas.

Sequer brincou de bola,

Nem jamais me fez barquinhos, chapéus ou aviõezinhos de papel.

Raymundo, vasto mundo no fundo de um poço sem fundo.

Fosso profundo que delineou meu mundo feito de rabiscos.

Às vezes, sinto-me garrafa com mensagem de amor, lançada mar afora.

Sem Raymundo eu aprendi a soerguer meus mundos.

Desraimundizado e só, eu organizei meu mundo:

hieróglifos de minha alma rupestre.   

Hoje eu cresci,

No meu mundo, Raymundo é ainda um quadro na parede.

Mundo para recordar e continuar desejando.

Plano de fundo sem o qual, o meu mundo se reduz a cinzas.

Transplantando minha filiação à paternidade divina e, somente ai, eu fiz-me inteiro.

Dei meu coração ao Pai Das Luzes e assim,

O meu tão singelo universo orbitou a paz.

Qual um vaso que se despedaça no terreiro, eu sei-me cheio de remendos.

Barro posto sobre a roda amassado, requentado e refeito o Oleiro me assistiu.

O Pai Nosso e Pai Divino, esse sim, me deu mão,

Colocou-me em seu destino e restaurou meu coração.

O Grandioso Pai é meu Pai, um Grande Herói.

Refez-me e fui refeito.

Refazendo-me, santifiquei em mim o seu nome: o meu sobrenome Jesus.

Deu-me vida e alegria por sua morte e por sua cruz.

Hoje a ideia que tenho de pai em minha alma é a de cumplicidade.

Às vezes, a alma não compreende a semântica.

Ela ignora vocábulos e despreza metáforas vazias de emoções do passado.

A alma e o amor são paradoxais, como paradoxal é o dizer de Unamuno:

“Tem que se sair de casa para melhor querê-la e apreciá-la; os que se encerram em casa é mais para molestar aos seus e por falta de valor para lutar com os de fora”.

É que para a alma, um pai ausente pode ser mais benfazejo,

Que um pai presente, possuidor de mesquinhas emoções.

É da emoção que sobrevive a alma.

A alma é pura emoção. Dela se embriaga todas as manhãs!

Ela não conhece outra linguagem, signo ou código.

A semântica da alma é o amor.

Entre a alma e o intelecto há um abismo.

Nos abismos do ser, Deus se faz Ponte.

Atravessei os meus abismos, por causa do Eterno Pontífice.

Deus é Pai e como pai que é, é Fazedor de pontes.

Ser pai é ser abrigo. É aprender a arte de fazer-se ponte entre as coisas e os desejos.

Entre o mundo e os sonhos.

Entre o efêmero, o passageiro e o atemporal.

As pontes existem para ligar mundos relativamente distantes.

Quando o pai é ponte o amor é passagem.

Quando o pai é ponte o afeto é porta.

Em sendo e fazendo pontes pelo amor,

O mundo é anelo de quem sonha jardins.

O pai verdadeiro é hiato entre mundos conflitantes e necessários:

Fantasia-realidade.

Razão-emoção.

Fé-emoção-intelecto.

Passado-presente-futuro.

Ser-dever-conhecer.

Educar-acompanhar-e, simplesmente ser: amigo.

Brincar-amar-e brincar de novo.

Ser pai é ser semântica do amor.

Metáfora que explica e exemplifica o Deus Grandioso.

Desejo latente que toda criança transporta em si: ter um Pai Grandioso!

Imagem e projeção dos que precisam de um herói para dar-se a mão.

Para algumas crianças neste mundo vasto e cheio de Raimundos,

O Deus Grandioso, Ele mesmo, e não outro é o Construtor de poentes.

Engenheiro e Arquiteto da alma que anseia transpor os abismos da insignificância.

Para que as pontes? Para as razões do, para que um pai? 

De onde vêm os abismos? Das ausências e abandodnos. 

Os abismos da alma surgem de hecatombes acachapantes da vida e da existência.

Tsunamis de emoções que fendem as encostas e as fissuras do ser inconcluso.

Miguel Unamuno disse ainda que:

“A dor é a substância da vida e a raiz da personalidade,

Pois somente sofrendo se é uma pessoa”.

Deus sempre foi, é e continuará sendo para mim o meu Allahu Akbar!

Um Pai Grandioso!


Poema de Robério Jesus.

Eu Oceano!




Do lugar onde estou avisto o mar.

As pedras cobertas de musgos variam com a luz e o banho das águas.

O mar está calmo ante a minha alma inquieta, revirando-se.

O amor viajou com a noite e a saudade nasceu com o sol.

Há dias que o amanhecer é silêncio.

Torpor de uma alma que adeja sem destino.

Minha mente não consegue elaborar pensamentos lógicos.

Num só instante eu sou jangada que veleja mar afora.

Uma xícara de café com leite adocica as mãos que transcrevem poesias.

Sinto-me pipa presa a um barbante preso nos fios da cidade.

Ave parada na chuva sem ninho.

A minha alegria veleja com o vento e derrama o perfume das rosas.

Meu ser é leve, como leve são as borboletas azuis.

Não há seres alados ao lado de jardins sem flores.

A poesia é essa espera.

É esse grito.

É essa incerteza.

Assentado no galho da lua eu espero.

Deslizo num raio de luz e mergulho no néctar de um copo-de-leite.

Há uma linha azul no horizonte, onde céu e mar se inscrevem fusão.

Faço-me malabarista sobre linha suspensa no nada.

Balaústres que sustentam a acrópole da eternidade.

Segurança de quem apenas acredita e versa a imaginação.

Imaginação é o que as pessoas precisam para vencer o mundo e a si mesmas.

Imagem em ação que imagina a ação.

O que amamos quando sentimos e dizemos que amamos?

Amamos a uma ideia em nós, encontrada ou posta no outro.

O amor que nos move para o outro é auto-amor, refletido.

O outro é tudo aquilo que os nossos olhos querem ver.

Não sendo ele mesmo outra coisa senão espelho.

Transferimos os amores e as dores que nos habitam.

É na imaginação que o amor é certeza.

É na imaginação e somente ai o amor é possível.

A mente constrói céus e infernos para a vida.

Não há beleza nem feiura se não há mente.

Semente somente se há mente e semântica.

Com o meu pincel semântico construo mundos.

Explosão de cores belas e frondosas para erigir os sonhos.

Meu inconsciente me guia por onde não andei.

Na escuridão o mar é apenas som.

Quando os olhos não vêm todo o corpo coopera para se enxergar.

Meus olhos marejam, posto que banhados pelo mar.

Meu corpo adeja, visto que tem asas.

Sou ave que sobrevoa abrolhos.

Sou para mim mesmo a única porta possível de entrada e saída.

Sou náufrago em e de mim mesmo.

Nômade no deserto de uma hora cáustica.

Aqui das alturas anelo despertar manhãs grenás.

Quero retocar o desenho de mim mesmo decalcado no tempo.

Quero fazer-me na arte final do meu mundo de pedra.

Meu coração é croissant revestido de fina folhagem.

Delicatessen no banquete dos deuses.

Sigo em silêncio e já agora, o mar possui os meus olhos.

Não consigo ver mais nada além de imensidão.

Distante de mim e liquefeito, o meu olhar é mar calmo e ameno.

Torno-me um com o mar para na quietude existir e me sentir oceano.



Poema e foto de Robério Jesus.