Um burrico caminha na beira da estrada seguido por outros.
Sem destino, amealham um escasso capim que sucumbe ao léu.
A vida é feito flor de laranjeira, perfuma por um tempo e logo seca.
O mormaço afogueia os pulmões e a terra vermelha afoga-se ao Sol.
Na fazenda o puro leite das cabras eriça o paladar sedento.
O cheiro de terra molhada histórias de chuvas passadas.
Registros meus de belezas idas, redivivas em minhas recordações.
Assentado à sombra de um tamarineiro repouso minha saudade.
Sinto saudade do tempo que a vida era a poesia mais bela.
Quando o amor era a prática da teoria de agora.
Na lagoa deitei minha face para desfrutar do espelho.
Que imagem eu vejo agora nos espelhos d’água?
Que aromas me desperta os sonhos?
Eu amo as amoras, as cerejas e as maçãs.
Esses perfumes moram em mim.
E eu habito à eterna saudade nas fragrâncias de quintais de outrora.
A criança em mim insiste numa teima de frutos temporãos.
Sou ternura numa terra agreste, água de poço na angústia do Sol.
Corro sobre mortos rios, estradas novas de sonhos fendidos.
Vejo-me moleque, pernas magras como capins de primaveras.
O meu corpo é feito de asas e ao vento desliza no azul do céu.
Vejo o meu rosto inocente dragando do mundo a ternura.
O que restou em mim depois das muitas guerras?
Restou a esperança, moída como grão no pilão do tempo.
No lajedo, ao pé da ingazeira refugio o meu ser anelante.
Demoro-me ai onde a sombra refresca a alma.
Hoje eu cresci, mas crescer é o que mesmo se perdi a inocência?
Eu quero voltar para mim mesmo, não sei o caminho para isso.
Já não há mais caminhos seguros.
O mato cobriu as veredas antigas e os olhos desaprenderam a ler a natureza.
Sinto-me perdido na selva da vida adulta.
Quero fazer minha casa na árvore enquanto aguardo a primavera.
Ai! Saberei encontrar o caminho das flores.
Quem sabe assim voltarei para onde jamais deveria ter saído.
O Sol continua abrasador, mas o meu mundo não demora a florir.
Poema e foto de Robério Jesus.
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