domingo, 15 de janeiro de 2012

Eu Vou Ser Poeta Um Dia!





Eu queria ser poeta de verdade um dia.

O que sou agora? Apenas um arremedo!

Os poetas são leves e sonhadores.

Minha poesia é bucólica e brejeira.

Causa-me espantos lidar com a palavra.

Eterno desassossego da alma.

Os poetas são como plumas, voam por ai.

Eu arrasto-me nesta minha carapaça feito a um cágado.

Tenho dos poetas apenas o desejo.

Acho que os poetas não desejam serem poetas,


Eles simplesmente são.

Na moldura do tempo pinto quadros inesquecíveis.

Somente a alma sensível poderá avaliar a pintura.

Sem pincéis ou espátula escrevo com tinta, óleo e sangue.

O que sou está circunscrito em meu corpo,


O que desejo ser é indizível, ainda não achei palavras.

Há quem não goste do que me tornei.

Cheguei aos quarenta e sou ainda indefinível.

Eu vivi parte da minha tenra vida definido pelos outros.

Quero viver o que me resta sendo indecifrável.

Um código apenas.

Um símbolo de eternas lembranças.

Sabe o que eu acho? Estou amando ser eu mesmo.

Livre, leve e esvoaçante.

No altar onde sou criatura orante, até respirar resulta em culpa.

Quero olhar o Juiz e dizer-lhe: errei por ter sido eu mesmo.

Desejei apenas ser sua imagem e semelhança!


Sabe por que quero ser poeta? Para ser lido mesmo depois da morte!

Por que quero ser lido? Não sei dizer.

Talvez seja narcisismo, talvez amor.

Talvez seja o medo de não ter sido ninguém.

Talvez!

Leio Rachel de Queiroz e ela não mais existe.

Leio Graciliano Ramos, José de Alencar e todos vivem vidas póstumas.


Esse ranço da eternidade talvez deixe em mim o desejo de ser eternizado.

Não quero ser indigente.

Quero apenas ser o que nem sei dizer!

Quero ser pássaro livre mesmo aqui nas minhas prisões.

O poeta é o único ser verdadeiramente livre.

Um poeta vai aonde quer, diz e sente o que quer.

E se houver culpa tê-la-á sentido na escuridão da subjetividade.


Se houver pudor seus vergões serão guardados.

Se houver medo o fará silente.

Mas terá vivido a tudo isso no mote da sua individualidade.

O poeta é aquele que transpõe abismos.

Um poeta é abismo.

O mundo é abismo.

A alma é abismo.


Ser ou não ser? Eis a questão!

Escrevo o que não sei se posso ser.

Sonho o que desejo ser.

Não ser é a negação do que sou todos os dias.

É a mais dura verdade contra a qual lutam todos os homens.

Queres ser feliz? Assista ao teatro da plateia.

Não levantes as cortinas, pois assim conhecerás o teatro por trás dos bastidores.

Queres ser santo? Afasta-te dos que dizem que são.

A santidade está ali onde há silêncio e discrição.

Queres conhecer o amor? Achega-te às crianças.


Eu insisto, um dia quero ser poeta.

Só os poetas sabem onde mora o amor, porque sensíveis.

Embora nem sempre o possam expressar, porque sibilantes.

A nudez do amor é o sorriso puro.

Sua face rubra é olhar inocente, sem vícios.

O amor é tudo isso que os poetas tentam dizer quando sentem saudade.

Sim, o amor é flor mantida na árvore e não guardada em cadernos.

É fruto colhido!

É abraço espontâneo.

É oração balbuciada sem querer nada em troca.

O amor é isso, que oscilando claudico em dizer.

É essa inesgotável força de ser e sentir que os brutos não são capazes de ter.

É criança sorrindo no berço enquanto dorme.

O amor é isso essa força estranha e tão desejada.

Um dia eu vou ser poeta.

Nem que seja por um dia.

Um dia eu vou ser.

Um dia eu vou.

Um dia.

Um.

Apenas um poeta.


Poema e Foto de Robério Jesus.

Nenhum comentário: