domingo, 15 de janeiro de 2012

As Flores de Abril!




Amo as flores de abril.

A terra parece mais dócil e feliz.

O homem mais manso e em flor.

As águas de março trazem outros mundos.

De janeiro a dezembro rutila o Sol à luz de outros sóis.

Mas é o mar que meu coração deseja.

Quero velejar onde os meus olhos vejam coqueiros altos.

O meu olhar veleja mesmo que veja desertos.

Minha alma reverdece como vergônteas de flores no campo.

A noite escura me esconde do olhar as cores dos olhos.

De longe avisto a porteira entreaberta.

E da janela outros olhos avistam minha silhueta ao longe.

Os meus pés trôpegos sutilmente caminham sobre trilhos.

É sobre as veias do coração que caminho.

Sou qualquer coisa entre pulmão e rins.

Minha estrada é digerível como um fruto.

Minhas veias são caminhos meus por onde vivo.

Amo as marés de abril, sobretudo quando o amor é inverno.

É que por aqui os invernos sempre nascem no desejo.


Uma taça de vinho, tinto.

Tinta que percorre arco-íris pintado na tela azul da alma.

Castanha do Pará para parar o tempo.

E uma cabana em qualquer lugar verdejante com lareira.

Quero tocar o céu com esse meu sonho de voar.

Sou menino correndo ao vento segurando a linha de uma pipa.

O barbante no ar enrosca-se e desliza sobre os fios da cidade.

Para que a pressa se o futuro é morte?

Para que a pressa?

Acalme-se o amor, o mar e a ansiedade que gira sóis.

Devagar se chega!


Sinto-me menino sentado num carrossel no parque.

Gira, gira, gira e sonha.

Estranha leveza de uma alma que adeja.

Eu amo as flores de abril.


São amarelas, roxas e lilás.

Amo abril na Bahia.

Ali vendo o pôr-do-sol do Solar do União.

Ver do alto o Forte São Marcelo.

O Elevador Lacerda, o Mercado Modelo e o mar.

Os meninos correm nas ruas, pelourinho.

Amo avistar as ilhas e desejar os flamboyants de lá.


Em abril eu sou mais poesia.

Bossa-nova, amizade e o azul do céu refletido no mar.

Travessias minhas na Calçada.

A Feira de São Joaquim.

A baianidade da gente simples e feliz.


Sim, eu amo as flores de abril.

Uma flor se abriu em abril e em mim o orvalho se fez quietude.

O berimbau retine nas ruas de pedra e o negro dança.

Eterna poesia em vida, forma e cor.


A força da vida é o amor.

Em abril tudo é belo.

As flores de abril são precipitações de primaveras.

Flores apressadas anelando o olhar para perfumar o mundo.

Dali do muro de um velho casario, pintado na tela de alguém que vê.
 
 
 
 
Foto de Robério Jesus. 

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