Amo as flores de abril.
A terra parece mais dócil e feliz.
O homem mais manso e em flor.
As águas de março trazem outros mundos.
De janeiro a dezembro rutila o Sol à luz de outros sóis.
Mas é o mar que meu coração deseja.
Quero velejar onde os meus olhos vejam coqueiros altos.
O meu olhar veleja mesmo que veja desertos.
Minha alma reverdece como vergônteas de flores no campo.
A noite escura me esconde do olhar as cores dos olhos.
De longe avisto a porteira entreaberta.
E da janela outros olhos avistam minha silhueta ao longe.
Os meus pés trôpegos sutilmente caminham sobre trilhos.
É sobre as veias do coração que caminho.
Sou qualquer coisa entre pulmão e rins.
Minha estrada é digerível como um fruto.
Minhas veias são caminhos meus por onde vivo.
Amo as marés de abril, sobretudo quando o amor é inverno.
É que por aqui os invernos sempre nascem no desejo.
Uma taça de vinho, tinto.
Tinta que percorre arco-íris pintado na tela azul da alma.
Castanha do Pará para parar o tempo.
E uma cabana em qualquer lugar verdejante com lareira.
Quero tocar o céu com esse meu sonho de voar.
Sou menino correndo ao vento segurando a linha de uma pipa.
O barbante no ar enrosca-se e desliza sobre os fios da cidade.
Para que a pressa se o futuro é morte?
Para que a pressa?
Acalme-se o amor, o mar e a ansiedade que gira sóis.
Devagar se chega!
Sinto-me menino sentado num carrossel no parque.
Gira, gira, gira e sonha.
Estranha leveza de uma alma que adeja.
Eu amo as flores de abril.
São amarelas, roxas e lilás.
Amo abril na Bahia.
Ali vendo o pôr-do-sol do Solar do União.
Ver do alto o Forte São Marcelo.
O Elevador Lacerda, o Mercado Modelo e o mar.
Os meninos correm nas ruas, pelourinho.
Amo avistar as ilhas e desejar os flamboyants de lá.
Em abril eu sou mais poesia.
Bossa-nova, amizade e o azul do céu refletido no mar.
Travessias minhas na Calçada.
A Feira de São Joaquim.
A baianidade da gente simples e feliz.
Sim, eu amo as flores de abril.
Uma flor se abriu em abril e em mim o orvalho se fez quietude.
O berimbau retine nas ruas de pedra e o negro dança.
Eterna poesia em vida, forma e cor.
A força da vida é o amor.
Em abril tudo é belo.
As flores de abril são precipitações de primaveras.
Flores apressadas anelando o olhar para perfumar o mundo.
Dali do muro de um velho casario, pintado na tela de alguém que vê.
Foto de Robério Jesus.
Nenhum comentário:
Postar um comentário