Do lugar onde estou avisto o mar.
As pedras cobertas de musgos variam com a luz e o banho das águas.
O mar está calmo ante a minha alma inquieta, revirando-se.
O amor viajou com a noite e a saudade nasceu com o sol.
Há dias que o amanhecer é silêncio.
Torpor de uma alma que adeja sem destino.
Minha mente não consegue elaborar pensamentos lógicos.
Num só instante eu sou jangada que veleja mar afora.
Uma xícara de café com leite adocica as mãos que transcrevem poesias.
Sinto-me pipa presa a um barbante preso nos fios da cidade.
Ave parada na chuva sem ninho.
A minha alegria veleja com o vento e derrama o perfume das rosas.
Meu ser é leve, como leve são as borboletas azuis.
Não há seres alados ao lado de jardins sem flores.
A poesia é essa espera.
É esse grito.
É essa incerteza.
Assentado no galho da lua eu espero.
Deslizo num raio de luz e mergulho no néctar de um copo-de-leite.
Há uma linha azul no horizonte, onde céu e mar se inscrevem fusão.
Faço-me malabarista sobre linha suspensa no nada.
Balaústres que sustentam a acrópole da eternidade.
Segurança de quem apenas acredita e versa a imaginação.
Imaginação é o que as pessoas precisam para vencer o mundo e a si mesmas.
Imagem em ação que imagina a ação.
O que amamos quando sentimos e dizemos que amamos?
Amamos a uma ideia em nós, encontrada ou posta no outro.
O amor que nos move para o outro é auto-amor, refletido.
O outro é tudo aquilo que os nossos olhos querem ver.
Não sendo ele mesmo outra coisa senão espelho.
Transferimos os amores e as dores que nos habitam.
É na imaginação que o amor é certeza.
É na imaginação e somente ai o amor é possível.
A mente constrói céus e infernos para a vida.
Não há beleza nem feiura se não há mente.
Semente somente se há mente e semântica.
Com o meu pincel semântico construo mundos.
Explosão de cores belas e frondosas para erigir os sonhos.
Meu inconsciente me guia por onde não andei.
Na escuridão o mar é apenas som.
Quando os olhos não vêm todo o corpo coopera para se enxergar.
Meus olhos marejam, posto que banhados pelo mar.
Meu corpo adeja, visto que tem asas.
Sou ave que sobrevoa abrolhos.
Sou para mim mesmo a única porta possível de entrada e saída.
Sou náufrago em e de mim mesmo.
Nômade no deserto de uma hora cáustica.
Aqui das alturas anelo despertar manhãs grenás.
Quero retocar o desenho de mim mesmo decalcado no tempo.
Quero fazer-me na arte final do meu mundo de pedra.
Meu coração é croissant revestido de fina folhagem.
Delicatessen no banquete dos deuses.
Sigo em silêncio e já agora, o mar possui os meus olhos.
Não consigo ver mais nada além de imensidão.
Distante de mim e liquefeito, o meu olhar é mar calmo e ameno.
Torno-me um com o mar para na quietude existir e me sentir oceano.
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