Os meus olhos viram um mar, morto.
A nuvem matou a chuva.
A chuva que não veio matou a terra.
A terra matou o rio.
A falta do rio matou o mato.
Sem o mato, morreu o jumento.
Morto o jumento, engorda-se o urubu.
Sem o jumento cessa o trabalho.
A terra é agreste e o chão é incerteza.
Sem o trabalho morre o sertanejo.
Colheita imatura.
Sem o sertanejo a terra não dá semente.
Morrendo a semente, não há frutos.
Frutos mortos são sonhos roubados.
Sem frutos, morre o desejo.
Desejo morto é vida ceifada.
Machado e foice postos na raiz da árvore.
Poda de fruto e do pé.
Finda-se o ano e torna tudo outra vez.
A morte parece ser a única vida à que está condenado o sertanejo.
Para o sertanejo a vida é agreste.
Vida que resiste a vida,
Que resiste a morte onde a terra é ardor.
Os meus olhos viram o mar, vermelho.
Travessia possível nas ondas do Sol.
Deserto onde habitam esperanças vívidas.
Sangue escorrido das veias do homem que resiste à morte, à sorte e à sofreguidão.
Poema e foto de Robério Jesus.
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