terça-feira, 24 de novembro de 2009

Eu Temo




"A poesia que teimava em esconder-se,

Deu à luz a palavra.

Versa em mim o medo de dizer o que o coração quer calar;

A luz do fim do túnel deixou de ser do túnel o fim;

Minha alma nem sabe se ainda existe em meio a tantas pedras,

Na rua escura da saudade que acolhe a luz solitária de postes molhados da chuva;

E eu, com o meu olhar vadio, percorro a penumbra sem nada avistar.

Da escuridão nasce a luz.


Os vagalumes não se cansam de se fazerem notar.

Vidrado e absorto, meu corpo nada diz, sequer sabe-se corpo;

Sou do silêncio o sino e do medo o badalo.


Abalo de mim que nota-se na respiração.

Medo do futuro;


Do nada;


De desdizer o antes dito com tanta firmeza.

As verdades de ontem são objeto de risos hoje;

O que será das certezas de hoje no amanhã?

Temo um mundo sem fé,


Sem cruz e sem amor,

Temo uma o paraíso sem Cristo,


Túmulos sem ressurreição;

Temo a banalização da vida


E a religião sem sinceridade do presente.

Temo o cinismo que cresce em larga escala nos antes amantes de Deus.

Temo o despido da pureza,


Pois nos altares os cordeiros ainda morrem,

E os sacrifícios de muitos locupletam a poucos.

Os profetas morreram e o que restou foi um arremedo de videntes.

As ruas outrora iluminadas estão sem luzes,

E Deus, é objeto apenas do discurso de quem planta o futuro a seu bel prazer.

Deus?


Continua transcendente nos templos do capitalismo,

Mas, imanente onde a hegemonia de Mamon não deu sua cara,

Nos lugares onde os cordeiros berram entre abismos,

Onde os lobos não vêem, nem uivam.

Sinto saudade dos meus pais na fé.

Eu mesmo estou a perguntar-me: onde estou na história?

Que rua escura é esta?


Que mar/ que charco? Que pena!

Deus se podes ouvir minha prece, diga-me!

O que faremos com a lâmpada que está debaixo do velador?".

Meu Sol




A mão suave do amor desliza sutil por um universo de luzes e cores,


Explosão de raios luminosos,


Feito ondas quando arrebentam na areia ou nas rochas dos mares do Kenia,


Se espalham pelo mundo,


O sol abre seus portais e respira para mais um dia de afeto às flores.


O sol é meu encanto,


O afeto que toca minha pele sem culpa,


Invade meu olhar,


Aquece minha timidez e me condensa a alma num só verso.


O sol pare arco-íris,


Gesta o luar e clareia o espírito e faz nascer a aurora,


Faz nascer outros sóis no mundo de meu Deus,


Mundo meu e de quem me ama.


O sol é vida, é rima,


É prosa que destila a felicidade,


Transpassa as gretas de paredes de sapé das vilas do Tibet,


Está no vão da choupana do homem do campo,


Transe no oitão da Casa da fazenda,


Não faz acepção de pessoas, ama, ama


Simplesmente ama,
Sua ausência implica em morte,


Sua presença engrandece e vitaliza os seres.


A plantação de trigo doura nos vales,


Por causa de sua luz;
As floresse abrem no seringuete,


Os rios, sob seus gestos, não se fatigam de amar o mar,


Onde nascem e morrem,


Seu calor aquece as pedras na estrada,


Afugenta os meninos que amam as sombras;


O sol é só meu, minha ternura, meu bichinho de estimação estelar.


Há muitos sóis no sol,


Há sol de inverno, de verão, outono e primavera,


Há sóis de poesias,
E até os que nascem nas mil e uma noites no Imã,


Há sol de desertos, dos Alpes, dos palácios e sol de lugares frios,


Mas o fato, é que há sempre um sol para quem quer amar.


Sem sóis poetas não sobrevivem,


A canção perece e o amor fenece.


O sol é como omeu olhar entre abismos:


Nascente, dourado, poente, brando, caliente,


No entanto, és estrela na minha constelação de amor sem-fim.


Sol sem poesia,
É oceano sem correntes marítimas que rumam para o sul,


É céu sem luar,
É paixão dos que despertam o amor vazio de estrelas,


Perfumes e flores,


É ternura de corações flechados desenhados nas árvores dos quintais da vida,


Apagados pelo tempo.


Sou eu sem você, você sem mim, o mundo sem nós e nossa palavra,


Dádiva de nossos sonhos, solta no tempo e no espaço.


Sem o sol sou sal sem sabor;


Sem mim, o sol é mera escuridão,


Somos cumplicies um do outro, resistimos ás trevas,


Tocamos a essência das coisas entre o céu e a terra;


Entramos no ocaso para fazer nascer o amanhã


Com manhãs das manhãs floridas do Alasca".

INSÔNIA



"Alguma coisa em mim está em ebulição,

Não sei se o corpo, a alma ou o espírito,

Parte de mim quer a quietude
E a outra parte quer voar sobre os arranha-céus da cidade.

A noite verte o licor de sua lisura e silêncio,

E ao meu redor,

Acordado como eu,

Apenas alguns besouros boliçosos,

Não dormem nem me servem de remédio para o sono que não vem.

Parte de mim quer ganhar o mundo que nunca conquistou,

A outra deseja ser conquistado por um mundo mais próximo,

Tudo em mim é incerteza,

Cálice amargo para quem deseja andar com as gaivotas;

Desejo ir, mas receio de que, indo e lá chgando,

Sinta falta daqui,

Aqui não é bom sem a possíbilidade de sonhar com o outro lado,

Mas, é certo que esta existência humana infinitamente irrrequieta,

Deseja possuir uma plenitude que não lhe é possível.


Sinto o cheiro das manhãs,

Das massas e das maçãs,

Da padaria que à essa hora fabrica o pão esperando estômagos insaciáveis,

Sinto o cheiro do café da roça, feito no forno de lenha,

Onde a fumaça embota a parede,

Enquanto os cães ladram na estrada.


Ouço a melodia dos galos mais próximos,

Eles se despertam, enquanto despertam o mundo,

E eu, desperto,

Nem me dou conta que a alva deita sua luz, Enquanto,
Minhas mãos ansiosas trabalham os dedos nas teclas de um computador.


Gostaria de dizer palavras novas para Deus,

Ensaiei um dedo de prosa,

Mas ele, já cansado das mesmas palavras,
Compreende que o meu silêncio tornou-se minha

Oração mais pura,

Meu gemido travestiu-se da nudez do corpo que clama sem palavras.


Se eu pudesse dizer o que sinto, ficaria feliz,

Mas, tropeço na fala da oração que não sabe os verbos,

Que num instante se faz atoleimada,

Muda e sem nexo,

Pão dormido para estômago faminto.


Um ventilador inquieto acena de um lado para o outro,

Um vento sem fragrância,

Fuzila o meu corpo,

Anestesiado de uma noite sem sono,

Sozinho e sem luar,

Onde o anseio por algo que não sabe nomear
Corre pelas artérias do pensamento.


Temo o dia de sol sem sol,

Sinto o calor de uma batalha iminente,

Algo me diz que não será em vão a peleja, Mas,
A voz meiga do Espírito Deus me sossega a alma,
Lembrando-me antigas batalhas.


O tempo passa e meu corpo sente o peso da noite,

Clama, calma e cama,

O sono que não vem desperta o poeta,

Adormece o menino e dá vez e voz ao sonhador".

Tempo Que Passa




"A vida que respiro agora me inspira à vida,
Novelo de cores vívidas, avelãs de desejos,
Sabor que envolve o palato do espírito,
Força que abrigo anelante na rudeza das das horas,

O ar que respiro agora é vida em mim,
Pedaço de pão comido de ontem,
Taça partida na borda do olhar,
Vinho tragado no instante que passa,
O tempo é hostil, não espera a ninguém.

Eu espero,
Simplesmente espero o ignoto,
Somos reféns do tempo:
As horas insistem em dizer que somos nós que passamos e não o tempo,
Para dar lugar a outros corpos prisioneiros do pêndulo do relógio".

Viver



"As manhãs são belas,


As noites me encantam porque silentes,


Aves se aninham nos galhos de árvores nos pastos e quintais da vida.


O gado muge seu desejo contido,


Rumina o homem que ler sua história,


Mémorias do cárcere da existência.


O grão faz-se quebrar no silêncio,


O sulco da terra distingue as sementes,


Águas que rolam para o fundo daquilo que os olhos não vêm,


Ali onde a vida simplesmente brota longe do olhar,


Onde o amor sabe-se planta que viceja incerta,


De corações também incertos,


O amor é sulco que molha o desejo.


Ave de rapina é o ódio,


Leva para longe o fruto da terra,


Destrói a presa,


Enquanto grata a devora o corpo,


Lenha que consome o afeto,


Apaga a beleza,


E a fragmenta,
pão partido entre nós,


Mera avidez,


Tortura penitente,


Realidade macabra.


Bom mesmo é amar,


Se dar,


Se doar ao tempo e ao vento,


Viver e ver a luz que nasce do sol,


Fogo que ascende a alegria,


Que une sonhos,


Faz caminhar na relva mãos que se afagam,


Ali onde meninos nascem,


A vida acontece e o amor é a mais profusa realiade".

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Frágil




Uma ave pousou no fio do meu desejo,


A chuva caía sem dó sobre seu corpo frágil e friento,


Nunca se ouviu um canto mais tímido de uma ave tão bela,


Mas ela estava ali,


Imponente, porém, no peito trazia a solitude,


O medo de ser queimada pelos pés.


Como voar se as gotas doem nos olhos?


Sim, como voar se as asas feridas não encontram o afeto?


Pára, observa e verte uma lágrima misturada à gotas,


Ensaia dar seu último canto,


Mas seu peito doi em suas recordações de verões passados,


Sim, pobre avezinha,


Impotentente,


Vê-se absorta pelo mundo cinza que a cerca,


O que fazer?


Nada a fazer,


Apenas esperar,


Esperar o sol,


Esperar a cura,


Esperar que outras aves rumem para o amanhã,


Ali onde a saudade entorpece o coração,


E onde o forte se anula em dor,


Onde os heróis se sabem impotentes,


Tragando a fumaça da incerteza,


Bebendo na taça de um amor que não vem".

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Cana Caiana - S. Luiz - Maranhão 13/11/09




A cana caiu no caminho das leiras,
Quem notou sua dor?
Verteu seu caldo,
E molhando a terra,
Adoçou o chão.

Solo seco que sugou o mel,
Na pegada dos pés,
Que esmagaram a cana,
Que morrendo, verteu o amor.

A cana caiu, e quebrada, deixou-se exalar.
A flor se fez notar ali onde a intenção,
De quem, partindo,
Partiu a cana,
Que caindo, escoou sua essência.


A Flor de cana caiana caiu,
Canina, cainana, caindo,
Refez-se no silêncio da noite,
Ali onde só as sementes sabem parir a eternidade.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Poeta Calado





O poeta se cala quando a poesia não eclode.


O mundo pára quando o poeta é apenas silêncio.

Não existe mundo que valha a pena sem poesias.

Os poetas são lamparinas: iluminam a escuridão

Do túnel do afeto há muito dragado pela angústia.

Quando não há mundos o poeta cria-os.

Quando não há poetas, o amor fecunda-os.

O mundo se cala quando os poetas se calam.


Não há jardins floridos,

Já não há mais cores,

E a viola encostada no canto desperta o pó

Que adormecido indicava a morte onipresente.


Amo o poeta que transcende a morte do mundo

Feito silêncio pela morte do amor:


“Ainda que a figueira não floresça,

Nem haja fruto nas vides;

Ainda que falhe o produto da oliveira,

E os campos não produzam mantimento;

Ainda que o rebanho seja exterminado da malhada e nos currais não haja gado.


Todavia eu me alegrarei no Senhor,

Exultarei no Deus da minha salvação.

O Senhor Deus é minha força,

Ele fará os meus pés como os da corça,

E me fará andar sobre os meus lugares altos”.



A poesia é fruto do amor.


O mundo e o poeta calam quando amor


É silenciado na voz que pare esperanças.