segunda-feira, 27 de maio de 2013


Na Eternidade


No ar a pipa faz seu ninho nas estrelas.
Em mim o amor faz seu voo em silêncio.
Navego sem pressa visto que encontrei a aurora.
É inverno e em mim as flores aguardam a primavera.

Uma taça de vinho,
Uma rede preguiçosa para pousar,
Uma mão de pilão dissonante moendo o café.
E Guimarães Rosa ao lado de Graciliano.

No céu uma nuvem cinzenta,
No terreiro a fogueira ainda acesa,
Na varanda o cicio do vento que traquina ama.
A cigarra canta no tronco da castanheira e encanta.

O meu amor sorri faceira,
No beijo uma cereja doce,
Na face uma alegria de estações das chuvas,
E nos olhos vejo-me ali, deitado na eternidade.



Robério Jesus

sexta-feira, 24 de maio de 2013

Uma Flor Chamada Maricélia




Uma Flor Chamada Maricélia.

O Criador fez o mundo,
E neste pôs um jardim,
No jardim plantou uma flor.
Flor das flores de invernos.
É que as flores de invernos parem primaveras.
Maricélia é uma flor das estações alegres.
Nasce flor,
Eclode ternura,
Vive imensidão.
Surge bela,
Floresce candura,
Adormece em eterna compleição.
O meu amor é flor das montanhas.

No monte de Deus ela veio à luz.

Poema de Robério Jesus

sexta-feira, 6 de julho de 2012


Eu e O Velho Chico!


 O Velho Chico está ali, imponente, colossal e impávido.

Sua história escorre em suas águas sertão abaixo.

É para o mar que correm todos os rios cheios de vida e desejos.

Um sol dono de um d’ouro extasiante enche a face das águas de estrelas cintilantes.

Na calma do tempo, um pescador navega sutil sobre a flor do espelho d’água, silente.

 O meu coração veleja altaneiro mesmo quando os meus pés estão distantes e sedentos da margem do tempo.

A porta do coração são os olhos, mas as águas do Velho Chico percorrem-me minha retina.

 Uma nuvem acinzentada escurece suas torrentes, mas não lhe rouba a beleza.

 O Rio São Francisco é assim como eu, suporta as quatro estações e os quatro ventos.

 O véu da noite chega e um quebranto envolve o vale e eu me acolho ante a vidraça.

 O rio segue em silêncio, mas segue e quanto a mim, em silêncio quedo-me sonhando.

Segue sempre quem sabe de onde vem e para onde vai.

 Será que sei onde estou?

 Sem pressa, sem ansiedade, sem medo e sendo ele mesmo, segue o rio.

 A vegetação verde e rasteira estão à sua volta, exuberantes, mas um deserto é dessedentado em mim.

Onde passa o rio, passa a vida, o amor e a morte, e passando, a vida fica como anelo mais profundo em meu ser.

Como o amor em mim, o rio transporta sonhos, poesias, versos e canções.

 Minha poesia nasce como flores que surgem ao pé do Velho Chico, eclodem.

 Meu poema é árvore ribeirinha onde pousam as aves.

Há frutos, ternura, beleza e um sabor de eternidade e mel silvestre.

O brilho que vejo agora na face do rio é o das estrelas.

 É que os rios espelham os céus.

 Quem quer que deseje ver a beleza da face dos céus, deve fazê-lo fitando os espelhos d’água dos rios.

Os rios sempre refletem os céus que descansam ou se agitam acima de si.

 Daqui do meu lugar, em alguma janela de Neópolis, navega o meu olhar. Para onde vai?

Minha embarcação quer encontrar a flor das montanhas.

Não sou pescador de peixes, mas de alegria, simplicidade, amor e paz.

Eu e o Velho Chico seguimos juntos.

Este para o mar e eu para amar.

 Eu, como um pescador sigo singrando para o amor, e este, o Velho Chico se tornou para mim, poema de um sonhador.

 Poema de Robério Jesus.

Em agum lugar à margem do Rio São Francisco entre Sergipe e Alagoas.



O Vento E Eu!



O vento entrou pela porta aberta beijou minha face e seguiu faceiro.

Uma porta entreaberta permite entrar o amor que viaja silente.

O amor é como ave de arribação, procura sempre os lugares altos e de afetos.

Quero voar rumo ao fio da linha do horizonte em busca de um galho de alegria onde possa pousar.

Eu já não vôo só, aves de arribação voam em bando.

Sinto-me seguro no meu vôo e me abrigo nos sonhos.

Estão em Deus as minhas mais tenras alturas.

Sigo seu vôo e me abrigo sob suas asas nas montanhas.

O meu desejo é ser pássaro que voa sertão afora.

Um arbusto.

Um canto.

O cicio do vento.

O silêncio da imensidão agreste.

Enquanto o menino dorme, despido, uma ave voa por ai, vestida de alegria e um canto no bico.

Um sorriso.

Um alento.

O arfar de uma alma que voa por ai com asas como águia.

O vento que refresca a face é vento singelo.

Sigo desejando estradas no azul do céu.

Sigo desejando o canto das estrelas.

Eu quero o novo de Deus raiando em meu ser como raia o sol nas manhãs de outono.


Poema de Robério Jesus.

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Eu Um Andarilho!



Eu sou emigrante nas terras sem fim do meu próprio coração.

Atravesso meus desertos alinhavando sombra e sol.

Nas estrelas eu pendurei minhas certezas.

Ao luar, eu construí o meu abrigo, na lua.

E na rua de saturno, eu roubei os anéis.

Eu sou andarilho nas terras da saudade. 

Se no céu eu sou cometa, que se me acometa a leveza.

Amar é leveza insustentável quando os pés tropeçam nos diamantes dos olhos 
do amor.

Sabe como eu gosto de definir o amor?

Do jeito mais terno que minha alma sertaneja permite: 

O amor é feito pamonha quentinha, a gente abre, cheira o aroma e degusta em silêncio.


Poema de Robério Jesus.

Rih {"Vento" em árabe}


Eu arrodeio o tempo entrando nas curvas do vento.

Os cabelos do vento são longos e lisos, deslizam sutis.

Seu coração bate forte, mesmo quando sorri sua brisa.

O vento é arredio. É indomável!

Vento é rih e é rir: zomba de tudo que subestima a sua liberdade.

Não se aprisiona, tampouco se deixa aprisionar.

É livre; é o que não pode ser detido por ninguém.

Sopra onde, como e sobre quem quiser.

A lágrima do vento é quente e seu hálito é suave e aromático.

O pranto do vento é uivante.

O seu olhar é transparente como o tom da sua pele.

O vento é uma ave que voa lépida por ai.

Nas suas asas voam os meus sonhos pelas fendas do tempo.

O vento levanta a poeira quando quer brincar e se fazer menino.

Sem juízo, invade as ruas abrindo portas e janelas, bailando a valsa do amor.

O poeta sagrado entendendo isso disse:

“O vento vai para o sul, e faz o seu giro vai para o norte; volve-se e revolve-se na sua carreira, e retoma os seus circuitos”.

Correr com o vento é tudo que desejo; brincar, sorrir nos respingos da chuva.

Quero fazer barquinhos de papel e na enchorrada do tempo, apensas seguir com o olhar e asas nos pés.

Vaidade de vaidades, tudo é vaidade! Disse o pregador.

“Ventania” é o nome das certezas desta civilização ocidental.

No oriente os ventos são outros, não menos ilusórios.

Lya Luft tinha razão: “Até no luto temos de assumir novas posturas: sofrer vai ficando fora de moda”.

O poeta do saber arejando-se e tentando aventar a verdade de tudo disse:

“Do riso disse: Está doido; e da alegria: De que serve estar.

Busquei no meu coração como estimular com vinho...

Fiz para mim obras magníficas: edifiquei casas, plantei vinhas;

Fiz hortas e jardins, e plantei neles árvores frutíferas de todas as espécies.

Fiz tanques de águas, para deles, regar o bosque em que reverdeciam as

árvores.

Comprei servos e servas... Também tive grandes possessões de gados e de

rebanhos...

Ajuntei também para mim prata e ouro, e tesouros dos reis ...

Provi-me de cantores e cantoras, e das delícias dos filhos dos homens.

Assim me engrandeci, e me tornei mais rico do que todos os que houve antes

de mim...

E tudo quanto desejaram os meus olhos não lho neguei, nem privei o meu

coração de alegria alguma...

Então olhei eu para todas as obras que as minhas mãos haviam feito...

E eis que tudo era vaidade (correr atrás do vento, fumaça) e desejo vão, e

proveito nenhum havia debaixo do sol.

Não há nada melhor para o homem do que comer e beber, e fazer que a sua alma goze do bem do seu trabalho.

Vi que também isso vem da mão de Deus”.

Vivo no meio de uma geração que corre atrás do vento e diz que não.

Os poetas são verdadeiros, pois assumem realmente a vocação humana.

Os poetas são como os profetas, sonham no mundo com a possibilidade de novos e inimagináveis mundos.

“O “ter de” nos faz correr por aí com algemas nos tornozelos, mas talvez a

gente só quisesse ser um pouco mais tranquilo, mais enraizado, mais amado, com algum tempo para curtir as coisas pequenas e refletir”, disse Lya Luft.

Sou carpinteiro de mim mesmo já não corto mais minhas árvores.

Preservo as raízes fincadas ao chão da esperança do porvir. 

O veredito do tempo é este: tudo é feito de vento!

Às vezes, a vida é vento menino que brinca e nos leva leves por ai.

Fumaça! É o que as certezas são!

Aflição de espírito! O melhor das invenções políticas.

Correr atrás do vento! É o que São as religiões.

Eu, sem torpor algum, me defino como o “filho do Vento”.

O vento sabe ser brando quando o mundo é quietude.

Ao menos, assim, eu não alimento a doce ilusão de que a realidade seja alguma coisa em que deva me apegar no naufrágio do da minha existência. 

Carpe Diem! Colham as rosas, pois o tempo também é vento.


Poema de Robério Jesus.