segunda-feira, 27 de julho de 2009

Marés de Mim




Às vezes penso que a minha alma é como um mar,

suas ondas oscilam e vão dar na eternidade das pedras.


O meu olhar é como rota de navios que seguem os ventos,

a minha alma é do mundo a alma que refaz-se ao sol.


Sou poeta solitário, feito barco a vela em marés de invernos.


Meu canto, pranto de açanhaço no sertão agreste;

meu sorriso é brisa que avisa o tom da cor da noite,

nota de uma melodia que adia os sonhos.


Sou marujo da esperança,

navego mar aberto e aborto o tempo que traga a fumaça,

meras nuvens,

meros contos infantis,

mera dor,

esmera em mim a lápide do ontem,

enquanto no terraço o violino toca a valsa do amor,

e Mozart esfrega na pedra do desejo

a canção da alvorada,

banhada nas águas de oceanos meus,

que marejam em mim o cais do meu olhar longínquo.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Partes de Mim


Parte de mim caminha absorta nas estrelas,
A outra parte se abriga na lua.

Parte de mim desliza no arco-íris,
A outra parte se esconde em lamparinas empoeiradas.

Parte de mim cavalga sobre as nuvens,
A outra parte flutua nos mares.

Parte de mim habita desertos como a fênix,
A outra parte respira nas chuvas.

Parte de mim perfuma as flores,
A outra parte poliniza sonhos por ai.

Parte de mim usa terno e gravata,
A outra parte descalça os pés enquanto vive.

Parte de mim discursa os filósofos gregos,
A outra parte conta contos de piratas e heróis.

Parte de mim faz do altar o lugar do amor mais sublime,
A outra parte é palco onde o divino protagoniza o ato/afeto.

Parte de mim usa barba e bigodes com pelos esbranquiçados,
A outra parte faz bolinhas de sabão e solta pipas por ai.

Parte de mim mora na rua fria da realidade,
A outra parte dança na avenida azul da imaginação.

Parte de mim versa a dor que provoca a angústia ali e além,
A outra parte é poeta solitário que ama o belo sem dor.

Parte de mim despedaça os mundos que povoam o medo,
A outra parte em pedaços junta os cacos de um sonho infantil.

Parte de mim sente saudade enquanto as cascas em mim se desfazem,
A outra parte renova-se em esperança a cada ressurreição.

Parte de mim ama a vida que se da na simplicidade,

Porém só minha totalidade ama o Cristo: Poema mais puro do amor.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Náufrago


Hoje navego olhando as estrelas,
Velejo de perto de mim para longe de mim mesmo,
Velhas marés de invernos em mares sombrios.

Os ventos daqui sopram forte,
E o cais sequer se avista a beira mar,
Sou pescador de ilusões e a vida está povoada delas.

Absorto no meu mundo de estrelas e sonhos,
Vou desenhando um céu só meu no teto do quarto,
Um céu de lantejoulas prateadas que refazem o afeto.

Sou náufrago do tempo,
Caravela de piratas que resiste à fúria das águas,
Diamante preso em iceberg branco em mar azul.

Sinto-me sem respostas para o simples,
Sem saídas para o belo,
Sinto-me só, mesmo não estando.
Sinto-me, apenas sinto.