quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

O Evangelho




O evangelho é semente que há de nascer nova em qualquer lugar que haja sinceridade.
A pá limpa a eira e o machado já está posto na raiz da árvore.
Não haverá seiva se a raiz for cortada do chão.
Não haverá frutos,
Nem folhas nem nada.

O evangelho é tesouro em vaso de barro,
Ato inventivo de um Deus que sabe amar.
A religiosidade de hoje é mera distração.
Precisamos de um Deus que nasça de novo,
Para perfilar o Cristo no velho homem que teima empedernido.

O fato é que Deus não tem problema em nascer de novo, nós sim.
O evangelho é uma estrada encoberta longe dos interesses dos homens,
Poucos são os que passam por ela.
Evangelho é vereda antiga, senda dos que sabem a dor do caminho que ruma para a porta estreita.

O evangelho não é fim, é começo, é recomeço.
É a teima de um Deus que busca ser amado por quem ignora-o.
Evangelho é encarnação, vida, morte e ressurreição do Deus que deseja
Ardentemente amar e ser amado.

No evangelho Deus reinventa-se na poesia da cruz.
Toma a sicuta,
Faz de tudo para chamar a atenção.
O evangelho é a dor do amor de Deus.
Deus sofre enquanto ama.
Deus morre,
Deus grita,
Deus renasce,
O evangelho é esse negócio de um Deus que insiste em nos trazer de volta para casa.

O evangelho é boa noitícia,
é vida repartida entre os mortos.
é dádiva solene impetrada na taça da esperança.
é porta aberta para a ovelha que procura seu Pastor.

O evangelho é isso: um lugar perto de Deus.

FELIZ ANO NOVO!




O ano acabou e o sol permanece o mesmo.
Aliás, eu sempre notei que as coisas essenciais não mudam;
Mudam-se os anos e as pessoas, mas elas permanecem inalteráveis:
A lua, o mar, o vento, as flores, o céu azul, o ar que respiro e as amoras.

Odres velhos não suportam vinho novo.
A novidade da vida é flor que viceja no campo.
O ano que se foi é sempre um odre rompido.
A vida eclode fazendo rasgar o couro de dias idos.

O ano novo tem que ser odre novo.
Vivê-lo só será possível como vinho novo.
Embora eu saiba que odres novos suportam vinhos envelhecidos,
o meu coração aos quarenta quer sossego e transparência.

Quero me desfazer dos odres velhos que desperdiçam o vinho.
Estou cansado de pessoas quebrigam por nada.
Nada mesmo! Apenas lutam contra suas próprias vidas amarguradas,
Como não podem desferir golpes contra si mesmas,
tampouco assumem seus fracassos: pão de cada dia comido no prato da angústia,
Esmurram os outros, vingando-se nestes o que tentam matar em si mesmas.

Eu quero amadurecer em paz,
Viver meus dias de bem com a vida e aliado aos que amo.
Quero viajar,
Sonhar,
Escrever poemas de amor,
Compor canções de esperança,
Aninhar-me entre abismos, nos braços de quem me deseja amar.

Sou pássaro livre,
O universo me possui: sou cidadão do mundo.
Universal como sou, não quero a ninharia dos que não amam.
Quero a grandeza dos que realizam sem destruir nem pisar os outros.
Quero voar,
Quero escolher,
Conhecer pessoas, lugares e histórias emocionantes.

Quero ser lido,
Ser lembrado,
Ler bons livros,
Ver bons filmes,
Ouvir boas canções,
Amar sem restrição a tudo que é digno de amor.

Quero ser vinho novo em odres novos,
Mas ser vinho velho para odres antigos e fortes.
Quero a ternura de dias frios de sois brandos.
Quero o acolhimento das adegas da vida onde Deus é afeto.
Quero a família alegre,
A alegria pintada na tela da realidade sem receios,
A leveza de manhãs de jardins floridos nas janelas.

É isso mesmo!
Eu quero viver sem opressão, ansiedade ou culpa.
A religião dos que amam sem medo. Dos que são autênticos.
De um Deus mais humano que o pintado pelos que se pensam divinos.

Eu falo.
Eu não calo no meu grito o falo de uma religião sem alma.
Que vive da dor dos incautos.
Eu falo.
Porque calado consumo minha essência enquanto construímos o nada.
ponte estreita posta sobre o rio da vida que separa abismos.
Quero a religião de Jesus: o Cristo.
Onde o altar é a vida e onde a fé é grão de trigo que morrendo, renasce,

Ele não gritará na praça,
Nem apagará o morrão que fumega.
Nem esmagará a cana quebrada.
Quero olhar o pobre com mais brandura.

Neste novo ano me proponho a ser, eu mesmo,
Um vinho novo transbordando do odre que se envelhece.
Quero a fé que me levanta e que levanta alguém: os que se sabem caídos.
E que como eu, já não querem a disfarçatez de uma vida sem verdade.

Quero andar com Deus na medida que sua graça me permite,
Sendo ele mesmo a meu favor e eu o seu amigo.
Caminhada solitária e fecunda onde os pés grávidos do futuro caminham.

A todos os que lêem este poema um Feliz Ano Novo!

Arquétipo do Jardim


Gosto de plantar jardins
Mas minha vida citadina faz oposição a isto.
Minha alma quer as flores, mas minha razão me cobra o tempo.
Tempo desperdiçado com coisas e pessoas funestas.

A minha mãe não plantava jardins, mas sabia amar as flores,
Foi dela o meu primeiro poema, a primeira canção e sonhos.
Seu sorriso petrificou em mim o tempo,
Seu olhar em tempos de fome denunciava a sua fé.

Das flores ela era a mais bela,
Suas pétalas ainda perfumam o meu mundo.
Gosto de plantar jardins,
Pois os jardins são encantados: pequeno mundo de sonhos.

Não gosto de quem não gosta de jardins,
Os jardins distraem o olhar enquanto a alma viaja para longe.
Eu gosto mesmo é das bromélias, magnólias e dos ipês.
Não há jardins verdadeiros sem copos-de-leite, anões e anjos de gesso.

Somos nascidos no jardim,
O Éden é jardim onde Deus é artista plástico e nós sua obra prima.
Poemas de Deus é o que somos: frutos do jardim.
Sempre haverá um arquétipo do jardim em nós.

Eu acho que é por isso que eu gosto tanto de plantar.

Pleno Vôo




Irrompe em mim a aurora
A madrugada suaviza o olhar de quem ama,
Da janela vejo o sol despertando para mais um dia,
Acima das nuvens um mar de silêncio e a calma inquietante.

Para onde foram as aves?
Daqui de cima não se vê a chuva nem o arco-íris,
Meu corpo desliza sobre as cidades postas sob os pés,
Soberania de menino que deseja o mundo.

Sinto saudade da minha mãe.
Alguma coisa em mim busca algum lugar que não sei onde?
A saudade é moradora mais antiga no quarto 01 do meu coração.
Meu coração, por onde andará o meu coração?

Absorvo o que vejo e trago a fumaça do tempo,
Aspiro o que me inspira a enxergar além das janelas da alma.
Minha alma, por onde andará? Agora eu sequer saberia dizer,
Mas imagino que em algum lugar no passado:
ali onde as pessoas deixam suas marcas para sempre.

Zênite e Nadir






Hoje sangro nas feridas abertas de ontem,
O corpo chora o inexplicável,
A pele verte os dias que passam sobranceiros,
A alma verte o passado em forma de vinho acre-doce.

Minhas lágrimas são chuvas de invernos frios,
Meu suor é rio que corre montanha abaixo,
Meus desejos, cachoeiras que morrem nas pedras,
Odores de velhas cabanas onde meninos brincam futuros.

A poesia em mim é sangue que verte a vida,
Vida que versa a vontade de ser zênite,
Que morra o vazio ante o caos!
Minha espera acaba aqui: nadir de latas amassadas da festa de ontem.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Um Natal Diferente



"O Natal é tempo de neve, sinos, renas e trenós,


mas como sonhar com isto no sertão do Nordeste?


meninos nordestinos do natal conhecem só os sinos.


As igrejinhas falaram sobre o menino Jesus,


Pintaram sua face e corpo na manjedoura,


Esse sim, se parece com o caboré no meio do mato.


O natal europeu é lindo, MAS DISTANTE PARA NOSSA ALMA AGRESTE


O natal do sertanejo é cruz erigida desde cedo,


É presente sofrido sem presentes nem Papai Noel PRESENTE.


É raro o nordestino ter um papai,


E mais raro ainda o Noel.


Amo o natal porque me remete aos sonhos DE CRIANÇA,


meninos pobres sonham com presentes e família presente.


No natal o menino Jesus é apenas sorriso, alegria e afeto.
EMANUEL: DEUS PRESENTE,


As crianças amam o natal a despeito de credo, cor, REGIÃO ou idade.


No nordeste o natal regido ao som da rabeca, tem cara de saudade, peru e gorgonzola.


E quanto a mim,


o meu natal é quietude, sininhos e guirlandas na porta do coração.

Para todos os que porventura leiam este poema: Feliz Natal!














sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Solidão





"O sol escondeu o seu sorriso entre núvens tímidas,


também sua razão de brilhar se foi!


A lua, linda e viçosa,

esperança e canção de sua alma partiu façeira,

enquanto, seu perfume, molhava o chão da saudade,

ali onde poucos sóis sobrevivem,

onde a dor persiste em doer,

onde aves belas que antes voavam e cantavam,

apenas saltitam serelepes com um grunhido triste no peito,

ali onde estrelas ensaiam a valsa de inverno que não mais será tocada,

onde a dança da magia jamais desenhará o piso opaco da beleza na festa do meu cansado coração,

este, já conhece a estrada e solitário se fez,

viandante com olhar no horizonte destila a vida entre a sede, a água e o cântaro;

me fiz lágrima vertida no olhar do desejo,

me fiz verso nos lábios do cantador,

do poeta eu fui a prosa,

do vaqueiro eu fui o mote,

e, com pouca sorte, me vi andando solitário de novo,

mas o que fazer se a alma esquece que amar é uma dor?



A angústia explode o meu peito como a cascata quebra as pedras no véu de noiva que dos


montes desnuda o céu,

aqui estou eu:

meu medo,

meu passado,

minha solidão,

o amor, bandido de brincadeiras infantis,

sorriu pra mim, mas logo se foi,

pegou carona no vento,

sequer franziu sua face;

deixou um rastro na areia,
uma palavra em forma de poema,

um verso em forma de afeto;

alegria que veio,

e ligeira se foi,

levando o pouco que restava,

e quanto a mim?


Me recolho à minha insignificância...

bebo o cálice de vinho de adegas de ontem,

ainda hoje vejo arder em mim o toque do olhar que rumou para o sol.


O olhar que esconde a lágrima,

um um sorriso contente,

uma pérola de mares escuros,

terra dos deuses antropóides,

uma ternura,

o mimo na leveza de olhos que se sabem saudosos".

Perdão





"A mão que afaga a pele da criança foi traspassada,


enquanto o peito sangrava a dor que o vento insistia em não levar,

os pregos,

a lança,

a coroa de espinhos,

a cor do vermelho que escorria no olhar,

trazia a lembrança do amor sincero dado gratuitamente,

sangue, suor e lágrimas;

nenhum gemido de protesto,

nenhuma palavra blasfema,

nenhuma revolta em forma de palavras,

nada que lhe pudesse tirar a nobreza.


Anos passados,

pés feridos,

mas a tristeza veio a galope, voando rasteira,

os melhores amigos se foram,

porém, seu coração insistia em amar,

seu assombro fez ruir a alegria,

seu terror brandiu a espada nua e fria no colo do coração que amava.


Uma palavra,

a traição,

a morte,

sorte em ruinas.


A pele enrrugada desejando o toque de quem partiu,

o afeto se esmigalhou,

o pote quebrou-se junto à fonte,

solidão,

uma canção se fez ouvir,

cuja melodia vaga na saudade de dias passados e de casa,

o último olhar,

um adeus em forma de silêncio,

um até breve, volto logo,

mas o semblante refletia a alma do que jazia ao pó.


Perdão,

a maior das melodias cantdas de perto ou à distância,

um afeto,

um sorriso,

um gesto que se eternizou,

a cruz deixada para trás,

o averso da luz,

uma rua solitária,

o Cristo se fez amor no olhar,

as chagas eram sua lembrança mais profunda da humanidade,

e de sua alma uma palavra não quiz calar:

PAI PERDOA-LHES PORQUE NÃO SABEM O QUE FAZEM".


quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Coisas Insignificantes





"Hoje eu me sinto menor que um grão de areia,

minha finitude me devora,


E suas garras fazem em mim crateras lunares,

Golpes fulminantes me levaram à lona,

Beijei o pó, enquanto percebia que eu era apenas um conto ligeiro.

Notei-me insignificante ante às surpresas que esta vida traz,

Sinto-me como uma velha pá pendurada num celeiro da fazenda,

Onde a poeira esconde as marcas daquilo que já foi útil um dia,

Deixei o silêncio dominar meu mundo interior,


Enquanto ouvia ecos de um passado distante.


Nada nem ninguém pode ser mais importante que o torpor daquele instante,

As mãos formigando,


Os pés flutuando sobre um chão de vidro,


enquanto a boca sedenta clamando por paz,

destilava a prece que a alimenta em tempos de vendavais e tormentas.


Joguei fora o medo e apeguei-me à doce ilusão de que a vida é breve.


Tocar a finitude não é de tudo ruim,


Mas dá uma sensação de desterro,

Saber que tudo que se ama ficará para trás,

Porém, pior mesmo é saber-se não amado, ou ser deixado para trás,

Portanto, para mim, o tom da morte é o desamor,


Amar e ser amado é seu melhor antídoto.


A vida viaja ligeiro, navega impoluta nas águas do destino,

Poucos são os que não naufragaram em tais águas,

Até descobrir que a finitude é um dom, um privilégio,

Pois, o corpo viciado do mundo se cansa,

Faz da morte umparto para uma outra vida.


O além reserva o ignoto ao coração,

A fé arquiteta belas ruas e largas praças com janelas abertas para o paraíso,

Ali onde Deus é a plenitude de tudo,

Sim, onde nós somos mais do que meras coisas insignificantes".

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Terra da saudade






"O sol fechou suas cortinas douradas

e o azul do céu deu lugar à negrura pálida da nostalgia,

senti o hálito do tempo baforar em minhas narinas seu aroma quente,

vi destilarem em mim as lágrimas de dias que se foram,

tardes sombrias de sois brandos,

onde o vento levantava a poeira de onde saíam as meninas que corriam nas ruas,

sim, ali onde a malícia não atingia nosso olhar,

o olhar de meninos famintos por brinquedos manufaturados no fundo do quintal;

embora, o dessejo forte da paixão já esquentasse o pão no fogão à lenha da história,

sim, ali onde crescíamos e não nos dávamos conta.


Sinto saudade de mim mesmo,

menino, frágil, desnudo, correndo ao léu,

pés descalço, ao tempo e ao vento,

um universo de sonhos na cabeça e no coração o mar de desejos.

Sinto saudade de ti, terra jamais vista,

porém, desejada como outros mares distantes.


O véu que quebra o olhar se fez notar na penumbra do sorriso que se fechou com a última janela,
nasceu a esperança de encontrar a vida,

sim, nasceu a saudade de um tempo florido,

de dias inocentes,

do amor adolescente,

do calor sol,

das flores de invernos,

de verões passados,

sim, parti com o último trem que partiu,

me vi absorto, recluso em minha individualidade,

e a única palavra que retumbava em meu peito era: esperança;

o objeto do desejo na terra da paixão,

sim, na terra da saudade, onde mar e céu se fazem um só corpo".

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Eu Temo




"A poesia que teimava em esconder-se,

Deu à luz a palavra.

Versa em mim o medo de dizer o que o coração quer calar;

A luz do fim do túnel deixou de ser do túnel o fim;

Minha alma nem sabe se ainda existe em meio a tantas pedras,

Na rua escura da saudade que acolhe a luz solitária de postes molhados da chuva;

E eu, com o meu olhar vadio, percorro a penumbra sem nada avistar.

Da escuridão nasce a luz.


Os vagalumes não se cansam de se fazerem notar.

Vidrado e absorto, meu corpo nada diz, sequer sabe-se corpo;

Sou do silêncio o sino e do medo o badalo.


Abalo de mim que nota-se na respiração.

Medo do futuro;


Do nada;


De desdizer o antes dito com tanta firmeza.

As verdades de ontem são objeto de risos hoje;

O que será das certezas de hoje no amanhã?

Temo um mundo sem fé,


Sem cruz e sem amor,

Temo uma o paraíso sem Cristo,


Túmulos sem ressurreição;

Temo a banalização da vida


E a religião sem sinceridade do presente.

Temo o cinismo que cresce em larga escala nos antes amantes de Deus.

Temo o despido da pureza,


Pois nos altares os cordeiros ainda morrem,

E os sacrifícios de muitos locupletam a poucos.

Os profetas morreram e o que restou foi um arremedo de videntes.

As ruas outrora iluminadas estão sem luzes,

E Deus, é objeto apenas do discurso de quem planta o futuro a seu bel prazer.

Deus?


Continua transcendente nos templos do capitalismo,

Mas, imanente onde a hegemonia de Mamon não deu sua cara,

Nos lugares onde os cordeiros berram entre abismos,

Onde os lobos não vêem, nem uivam.

Sinto saudade dos meus pais na fé.

Eu mesmo estou a perguntar-me: onde estou na história?

Que rua escura é esta?


Que mar/ que charco? Que pena!

Deus se podes ouvir minha prece, diga-me!

O que faremos com a lâmpada que está debaixo do velador?".

Meu Sol




A mão suave do amor desliza sutil por um universo de luzes e cores,


Explosão de raios luminosos,


Feito ondas quando arrebentam na areia ou nas rochas dos mares do Kenia,


Se espalham pelo mundo,


O sol abre seus portais e respira para mais um dia de afeto às flores.


O sol é meu encanto,


O afeto que toca minha pele sem culpa,


Invade meu olhar,


Aquece minha timidez e me condensa a alma num só verso.


O sol pare arco-íris,


Gesta o luar e clareia o espírito e faz nascer a aurora,


Faz nascer outros sóis no mundo de meu Deus,


Mundo meu e de quem me ama.


O sol é vida, é rima,


É prosa que destila a felicidade,


Transpassa as gretas de paredes de sapé das vilas do Tibet,


Está no vão da choupana do homem do campo,


Transe no oitão da Casa da fazenda,


Não faz acepção de pessoas, ama, ama


Simplesmente ama,
Sua ausência implica em morte,


Sua presença engrandece e vitaliza os seres.


A plantação de trigo doura nos vales,


Por causa de sua luz;
As floresse abrem no seringuete,


Os rios, sob seus gestos, não se fatigam de amar o mar,


Onde nascem e morrem,


Seu calor aquece as pedras na estrada,


Afugenta os meninos que amam as sombras;


O sol é só meu, minha ternura, meu bichinho de estimação estelar.


Há muitos sóis no sol,


Há sol de inverno, de verão, outono e primavera,


Há sóis de poesias,
E até os que nascem nas mil e uma noites no Imã,


Há sol de desertos, dos Alpes, dos palácios e sol de lugares frios,


Mas o fato, é que há sempre um sol para quem quer amar.


Sem sóis poetas não sobrevivem,


A canção perece e o amor fenece.


O sol é como omeu olhar entre abismos:


Nascente, dourado, poente, brando, caliente,


No entanto, és estrela na minha constelação de amor sem-fim.


Sol sem poesia,
É oceano sem correntes marítimas que rumam para o sul,


É céu sem luar,
É paixão dos que despertam o amor vazio de estrelas,


Perfumes e flores,


É ternura de corações flechados desenhados nas árvores dos quintais da vida,


Apagados pelo tempo.


Sou eu sem você, você sem mim, o mundo sem nós e nossa palavra,


Dádiva de nossos sonhos, solta no tempo e no espaço.


Sem o sol sou sal sem sabor;


Sem mim, o sol é mera escuridão,


Somos cumplicies um do outro, resistimos ás trevas,


Tocamos a essência das coisas entre o céu e a terra;


Entramos no ocaso para fazer nascer o amanhã


Com manhãs das manhãs floridas do Alasca".

INSÔNIA



"Alguma coisa em mim está em ebulição,

Não sei se o corpo, a alma ou o espírito,

Parte de mim quer a quietude
E a outra parte quer voar sobre os arranha-céus da cidade.

A noite verte o licor de sua lisura e silêncio,

E ao meu redor,

Acordado como eu,

Apenas alguns besouros boliçosos,

Não dormem nem me servem de remédio para o sono que não vem.

Parte de mim quer ganhar o mundo que nunca conquistou,

A outra deseja ser conquistado por um mundo mais próximo,

Tudo em mim é incerteza,

Cálice amargo para quem deseja andar com as gaivotas;

Desejo ir, mas receio de que, indo e lá chgando,

Sinta falta daqui,

Aqui não é bom sem a possíbilidade de sonhar com o outro lado,

Mas, é certo que esta existência humana infinitamente irrrequieta,

Deseja possuir uma plenitude que não lhe é possível.


Sinto o cheiro das manhãs,

Das massas e das maçãs,

Da padaria que à essa hora fabrica o pão esperando estômagos insaciáveis,

Sinto o cheiro do café da roça, feito no forno de lenha,

Onde a fumaça embota a parede,

Enquanto os cães ladram na estrada.


Ouço a melodia dos galos mais próximos,

Eles se despertam, enquanto despertam o mundo,

E eu, desperto,

Nem me dou conta que a alva deita sua luz, Enquanto,
Minhas mãos ansiosas trabalham os dedos nas teclas de um computador.


Gostaria de dizer palavras novas para Deus,

Ensaiei um dedo de prosa,

Mas ele, já cansado das mesmas palavras,
Compreende que o meu silêncio tornou-se minha

Oração mais pura,

Meu gemido travestiu-se da nudez do corpo que clama sem palavras.


Se eu pudesse dizer o que sinto, ficaria feliz,

Mas, tropeço na fala da oração que não sabe os verbos,

Que num instante se faz atoleimada,

Muda e sem nexo,

Pão dormido para estômago faminto.


Um ventilador inquieto acena de um lado para o outro,

Um vento sem fragrância,

Fuzila o meu corpo,

Anestesiado de uma noite sem sono,

Sozinho e sem luar,

Onde o anseio por algo que não sabe nomear
Corre pelas artérias do pensamento.


Temo o dia de sol sem sol,

Sinto o calor de uma batalha iminente,

Algo me diz que não será em vão a peleja, Mas,
A voz meiga do Espírito Deus me sossega a alma,
Lembrando-me antigas batalhas.


O tempo passa e meu corpo sente o peso da noite,

Clama, calma e cama,

O sono que não vem desperta o poeta,

Adormece o menino e dá vez e voz ao sonhador".

Tempo Que Passa




"A vida que respiro agora me inspira à vida,
Novelo de cores vívidas, avelãs de desejos,
Sabor que envolve o palato do espírito,
Força que abrigo anelante na rudeza das das horas,

O ar que respiro agora é vida em mim,
Pedaço de pão comido de ontem,
Taça partida na borda do olhar,
Vinho tragado no instante que passa,
O tempo é hostil, não espera a ninguém.

Eu espero,
Simplesmente espero o ignoto,
Somos reféns do tempo:
As horas insistem em dizer que somos nós que passamos e não o tempo,
Para dar lugar a outros corpos prisioneiros do pêndulo do relógio".

Viver



"As manhãs são belas,


As noites me encantam porque silentes,


Aves se aninham nos galhos de árvores nos pastos e quintais da vida.


O gado muge seu desejo contido,


Rumina o homem que ler sua história,


Mémorias do cárcere da existência.


O grão faz-se quebrar no silêncio,


O sulco da terra distingue as sementes,


Águas que rolam para o fundo daquilo que os olhos não vêm,


Ali onde a vida simplesmente brota longe do olhar,


Onde o amor sabe-se planta que viceja incerta,


De corações também incertos,


O amor é sulco que molha o desejo.


Ave de rapina é o ódio,


Leva para longe o fruto da terra,


Destrói a presa,


Enquanto grata a devora o corpo,


Lenha que consome o afeto,


Apaga a beleza,


E a fragmenta,
pão partido entre nós,


Mera avidez,


Tortura penitente,


Realidade macabra.


Bom mesmo é amar,


Se dar,


Se doar ao tempo e ao vento,


Viver e ver a luz que nasce do sol,


Fogo que ascende a alegria,


Que une sonhos,


Faz caminhar na relva mãos que se afagam,


Ali onde meninos nascem,


A vida acontece e o amor é a mais profusa realiade".

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Frágil




Uma ave pousou no fio do meu desejo,


A chuva caía sem dó sobre seu corpo frágil e friento,


Nunca se ouviu um canto mais tímido de uma ave tão bela,


Mas ela estava ali,


Imponente, porém, no peito trazia a solitude,


O medo de ser queimada pelos pés.


Como voar se as gotas doem nos olhos?


Sim, como voar se as asas feridas não encontram o afeto?


Pára, observa e verte uma lágrima misturada à gotas,


Ensaia dar seu último canto,


Mas seu peito doi em suas recordações de verões passados,


Sim, pobre avezinha,


Impotentente,


Vê-se absorta pelo mundo cinza que a cerca,


O que fazer?


Nada a fazer,


Apenas esperar,


Esperar o sol,


Esperar a cura,


Esperar que outras aves rumem para o amanhã,


Ali onde a saudade entorpece o coração,


E onde o forte se anula em dor,


Onde os heróis se sabem impotentes,


Tragando a fumaça da incerteza,


Bebendo na taça de um amor que não vem".

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Cana Caiana - S. Luiz - Maranhão 13/11/09




A cana caiu no caminho das leiras,
Quem notou sua dor?
Verteu seu caldo,
E molhando a terra,
Adoçou o chão.

Solo seco que sugou o mel,
Na pegada dos pés,
Que esmagaram a cana,
Que morrendo, verteu o amor.

A cana caiu, e quebrada, deixou-se exalar.
A flor se fez notar ali onde a intenção,
De quem, partindo,
Partiu a cana,
Que caindo, escoou sua essência.


A Flor de cana caiana caiu,
Canina, cainana, caindo,
Refez-se no silêncio da noite,
Ali onde só as sementes sabem parir a eternidade.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Poeta Calado





O poeta se cala quando a poesia não eclode.


O mundo pára quando o poeta é apenas silêncio.

Não existe mundo que valha a pena sem poesias.

Os poetas são lamparinas: iluminam a escuridão

Do túnel do afeto há muito dragado pela angústia.

Quando não há mundos o poeta cria-os.

Quando não há poetas, o amor fecunda-os.

O mundo se cala quando os poetas se calam.


Não há jardins floridos,

Já não há mais cores,

E a viola encostada no canto desperta o pó

Que adormecido indicava a morte onipresente.


Amo o poeta que transcende a morte do mundo

Feito silêncio pela morte do amor:


“Ainda que a figueira não floresça,

Nem haja fruto nas vides;

Ainda que falhe o produto da oliveira,

E os campos não produzam mantimento;

Ainda que o rebanho seja exterminado da malhada e nos currais não haja gado.


Todavia eu me alegrarei no Senhor,

Exultarei no Deus da minha salvação.

O Senhor Deus é minha força,

Ele fará os meus pés como os da corça,

E me fará andar sobre os meus lugares altos”.



A poesia é fruto do amor.


O mundo e o poeta calam quando amor


É silenciado na voz que pare esperanças.



quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Recomeço



A porta do universo abriu-se fazendo uma fresta de luz,
A minha alma andante refez-se ao toque de um raio de amor;
Meu ser desejante desfez-se ante a imensidão,
Fagulhas de mim fez romper a aurora e a alva emudeceu-me.

As gretas do olhar fez eclodir jardins floridos,
No canto do sorriso, junto ao muro da saudade,
Ali onde o silêncio denuncia o tempo que se foi,
Lugar onde anelante a alma desliza para o seu interior.

Meu ‘eu’ é como mariposa feita larva num casulo,
Mudança que demora enquanto o corpo se desfaz.
No escuro de mim, solidão do espírito que espera.Mera vontade de transformar o afeto em ato.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Vasto Mundo






O sol estava lindo entre nuvens cinzentas,

A moldura celeste convidava para o brinde do amor e da vida;


A terra dava o seu giro e eu no meu mundo,
Girava os pensamentos,

Em torno da lua que ansiava mostrar sua prata e bela face.


Mundo, vasto mundo que eclode na alma de quem sonha!


Mundo,
Pequena rua de jardins floridos nas janelas da alma;

Lugar de esperança e desejos lúdicos, imortais;


Às vezes eu sinto que minha alma é tão vasta quanto o mundo.
Tenra calma me domina na senda escura da noite.


Drummond tinha razão,


O mundo é vasto para o coração que anela.

Daqui do meu pequeno mundo o meu nome é: alento.


Conjugo o verbo 'amar', amando a vida



E desejando construir o mundo no qual sou apenas semente.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Cercas de Arames




O olhar transpassa a cerca desejando o mundo la fora.


Arames farpados, rígidos e frios impõem limites ao corpo.


Campo de Concentração é feito de cercas de arames farpados,


Mas a alma é feita de liberdade;


Ela quer migrar para longe do ferro que fere e faz feridas feias,


Foge, fortuita e flameja o espírito do ser oprimido sob o sol.



Arames existem para cercar, limitar e aprisionar.


A alma existe para ser leve, solta e eternamente bela.


Arames existem para oprimir, delimitar e deter.


A alma existe para amar, encantar e sorrir.


Cercas de arames e a alma não comungam entre si,


Não lêem a mesma cartilha,


Não conjugam o mesmo verbo,


Ou sequer falam a mesma língua.


A alma meu senhor, é feita de liberdade.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Nefesh Haiá



Os pés caminham sobre os trilhos frios de uma velha estação,

Onde dará o fim desta linha férrea?

O ferro funde o verso que viaja leve sobre rodas,
Poeira dissipada de uma estrada morta cujo destino esvaiu-se em lágrimas.

Furúnculo espremido em meninos que sofrem sozinhos.

É isso que somos nessa sociedade que incha a alma.

O trem já não passa por aqui há muitos anos,

Cansou-se da espera na estação das flores.


O ferro funde a vida que versa a história,
Estradas mortas para ruas lúgubres.
É isso que somos: Nefesh Haia: almas viventes.

Poesia É Fruto





A poesia é fruto que dá no pé de imaginação,
Suas folhas são viçosas e à sua sombra,
Descansa o espírito anelante.

A poesia é doce quando o paladar tem fome de vida,
Seu sabor excede aos de outros frutos
Das safras vindas de estações apropriadas.

A poesia tem caroço,
Semente que as palavras fertilizam os sonhos,
Entropia ao pé da árvore que renasce de si para si.

A imaginação é caule cuja seiva gera poemas floridos,
Somente os que têm alma de meninos podem ver suas cores,
Seu aroma e degustar seu sabor.

Poemas possuem cascas,
Em volta de si desliza o tronco que protege a força que sulca
Da terra a vida que eterniza o amor e os sonhos.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Ventania





Cabelos esvoaçam cobrindo a face enquanto as aves se aninham,

As ondas vindas de longe ferem as pedras com força singular
E no céu asas deltas coloridas viajam riscando o azul ao olhar sozinho.

As acácias vêm ao vento flutuar suas pétalas no ar do amor de ontem,
As roseiras sibilantes enaltecem o silêncio ao cair da última gota de orvalho.
A lua apenas assiste a rua em cujos pés os passos dos homens passam ligeiro.

Tudo passa de repente, pois o vento transporta aromas e coisas soltas,
Ventanias transportam sonhos nas montanhas dos ventos uivantes,
Ali onde o amor é apenas um gesto simples de um olhar singelo.
Ai onde o amor que a tudo transporta também passa,
Posto que é vento vindo das montanha da alma.
O amor é como ventania de iverno: não passa sem deixar-se notar.

sábado, 10 de outubro de 2009

Efëmeros




O tempo é uma locomotiva ansiosa,

Ruma ligeiro pelos trilhos da alma,

Verte a vida que desespera o dia,

Instila a fina flor do amor que sorve o ignoto.


A alma é estação que aguarda o som que vem de longe,

Lugar da espera, onde olhos marejando,

Vislumbram outros olhos que anseiam a retina ver,

Enquanto o tempo passa e a fumaça se desfaz no ar.


A fumaça é a essëncia das coisas e de tudo que se move á vista.

Mera distração enquanto a alma viaja no tempo e no trem da horas.

Doce ilusão! Nesse trem, somos todos passageiros! Efëmeros.

Nesses trilhos, percorre toda futilidade do ser que se apressa.