sábado, 29 de novembro de 2008

De Pé com Punho



"Eu vi no teu olhar a dor,
Teu semblante desfez teu sorriso,
Como eu queria ser um maquiador,
Para devolver ao teu rosto
A beleza da primeira vez.
Minha alma sofre quando a tua
Se entristece,
Meu mundo fica diminuto,
Até que teu sorriso volte.
Não sabes esconder tua verdade,
Na verdade não sabes esconder-te,
Mesmo ocultando teu gemido.
Hoje te batizo com um novo nome:
"De pé com punhos";
símbolo da tua luta,
Da tua grandeza,
Gesto da tua exuberância,
Sim,
Sê forte, e não esquece
De amar a ti mesma."

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Fio de Prata



"O fio de prata do luar iluminou o meu olhar,
a suavidade da cor,
a ternura da brisa leve que vem do mar,
fez-me viajar num cometa-azul que passava no céu do meu quintal.

Rumei para longe, enquanto meu corpo sentia o frio do sereno lá fora,
vi quando uma ave noturna sobrevoou o meu silêncio,
na penumbra se ouviu o seu grito ecoando para o Sul.

Uma canção brotou no meu peito saudoso,
a voz do menino de ontem fez-se ouvir entre lágrimas,
um verso no reverso da solidão, acalentou meu coração,
refém de um passado encantador.

AH! Se todas as noites fossem iguais,
se cometas passassem com suas caudas afogueadas despertando preces de meninos sonhadores,

Ah! Se todos meninos soubessem que os cometas transportam sonhos.

Uma estrela cadente para um mundo decadente,
uma poesia grávida do amanhã,
um adeus ao ontem com suas ferramentas de morte,
uma cabeça recostada no chão enquanto os olhos namoram as estrelas.

O univero infinito torna-se o quintal dos olhos que desejam,
o espaço sideral sua barraca de acampar,
um mundo diminuto para um coração dissonante,
poemas de sangue escritos com letras neon.

O amor que encanta e enternece, a que raiz viceja solitária,
um verso, um sonho em um universo infinito,
acorda o menino que simplesmente não se rende ao medo ser,
nem de sonhar".

O Amor é Sulco



"As manhãs são belas, as noites me encantam porque silentes,
as aves se aninham nos galhos de árvores nos pastos e quintais da vida,
o gado muge seu desejo contido,
rumina o homem que lê sua história,
mémorias do cárcere da existência.
O grão faz-se quebrar no silêncio,
o sulco da terra distingue as sementes,
águas que rolam para o fundo daquilo que os olhos não veem,
ali onde a vida simplesmente brota longe do olhar,
onde o amor sabe-se planta que viceja incerta,
de corações também incertos.
O amor é sulco que molha o desejo.
Ave de rapina é o ódio,
leva para longe o fruto da terra,
destrói a presa, enquanto grata a devora o corpo,
lenha que consome o afeto, apaga a beleza e,
fragmenta o pão partido entre nós,
mera avidez, tortura penitente, realidade macabra.
Bom mesmo é amar,
se dar, se doar ao tempo e ao vento,
viver e ver a luz que nasce do sol,
fogo que ascende a alegria,
que une sonhos,
faz caminhar na relva segurando as mãos que se afagam,
ali onde meninos nascem, a vida acontece e o amor é a mais profusa realidade".

Um Tributo à Minha Mãe



"Flores de inverno são mais belas porque resistentes,
poesias de amor são mais nobres porque prevalece ao frio.
A chuva cai na terra, umedece a semente e o olhar de quem ama.
plantar é sempre uma atividade onde mistura-se com maestria,
a magia do amor, a arte do saber, a graça da esperança e a simplicidade do grão.
Sinto saudade da minha mãe, aquela mulher alegre e cantante,
não havia tempo ruim para o seu louvor,
nem invernos, nem terreno hostil para sua devoção,
ah! Que saudade da minha mãe!
A mãe que me afagou quando criança,
que me ensinou a ser um gigante e a não temer a vida,
colhemos da tristeza os frutos da alegria,
e semeamos na guerra os frutos da paz.
Ela simplesmente cantava,
quando não tinha pão,
quando um dos seus adoecia,
ela simplesmente cantava a Deus,
Que fé! Que esperança! Que ousadia!
Deus e ela andavam de mãos dadas,
e nós abraçados por ambos contávamos as estrelas no céu,
sim, a alegria morava lá em casa.
Ah! Que saudade da minha mãe!

Hoje, ela ainda luta; sua voz já não é mais a mesma,
depois da peleja contra um câncer,
um AVC e de muitas outras guerras,
ela usa o olhar para nos inspirar à vida.
Seu sorriso não é mais o mesmo, mas persiste em sua face meiga,
a doença não roubou o seu brilho; ela ainda ri,
ri comigo, ri de mim,
ri com os outros, ri sozinha, mas ri.
Seu riso retrata sua alma,
sua garra salta aos olhos quando o louvor é sofejado.
Eu que pensava que o rei-poeta, Davi era um herói solitário, vi sua imagem numa mulher, negra, nordestina e humilde.
Sim, vi em minha mãe, uma vida de amor a Deus.
Hoje ela ainda vive,
seu corpo limitado pelo tempo,
seu olhar à procura de outros olhares,
mas ainda vive.

Seu Deus não a abandonou,
o sinto ali, bem perto, e ela sabe disto.
Foi na UTI que ela me disse quando questionada sobre sua fé: "estou aqui esperando Jesus meu filho".
Sim, o que me resta agora?
Soprar esta poesia aos quatro cantos do mundo, esperando que um vento ligeiro a transporte para outros corações, tal qual o meu, que acredita no amor que se dá entre Deus e uma mãe, entre Deus e uma mulher que fez do altar o seu abrigo.
Foi ali onde eu aprendi que a simplicidade e a fé eram o nosso pão de cada dia.
Esse é meu tributo em vida à Maria de Lourdes Santos Jesus,
uma mulher cuja grandeza está na arte de ser ela mesma,
livre, dependente de Deus e cheia de amor para dar".

Simplesmente Deus




"A primeira oração é sempre a mais bela,
é por definição a mais tímida,
no entanto e a mais ousada,
porque faz de menino como eu,
alguém que chega diante do Criador do sol, do universo e do sem-fim,
um filho,
alguém;
simplesmente alguém que lhe chama de: PAI (Aba, paizinho).
Ali onde orar é afeto,
cantar é encanto,
chorar é ajuntar tesouros no céu,
é onde se beija o invisível,
onde se abraça o intangível,
onde a fé é o que alimenta a alma do crente,
sim, onde tua presença é a plenitude,
e eu uma existência insignificante,
uma gota no oceâno,
ali onde eu sou eu e tu és simplesmente, DEUS".

Como a Corça



"Vi o sol esconder sua luz,
O mar negar sua brisa,
O luar, tímido como menino da Roça,
Não quiz me dar a mão para correr na chuva,
Então, te fiz ouvir a minha voz,
Gritei minha oração em forma de poesia,
Desejei o teu amor,
Como a corça que procura os ribeiros de águas vivas,
Procurei por Ti,
E quando achei que estava só,
Te vi,
Ali onde o arco-íris como flexa ligeira derrama suas cores belas ao olhar das crianças,
No pote de esperança que refaz os sonhos e o encanto,
Tesouro que os piratas não roubaram,
Navio que parte do cás da saudade,
Em busca do mar da felicidade".

Prece

Dor


"Meu corpo doi,




Minha alma doi, em mim amor, há apenas dor.
Não é dor que remédio cura, é dor da existência, de amores desejados, de distâncias, de desejos, sim, é dor que não se acaba, se renova e se desfaz na pedra do tempo".

Apenas Silêncio

"Tua face envolvida pela luz do luar,
Teu cálice vertendo vinho tinto das adegas do sul,
Teu aroma como fruto maduro no pé,
Teu abraço, teu sorriso e tua voz sonora,
Vertem o desejo do toque da palavra que embota o medo;
Tua presença alimenta as flores,
Faço-me vento nas tua montanhas uivantes,
Teu silêncio denuncia o precipício da palavra,
E meu corpo debruça ante o teu olhar,
Saudoso,
Ai onde o tempo passa,
E eu, permaneço para nunca mais,
E eu?
Mais nada,
Apenas o silêncio".

O Ser - Inverno de 2008

"A gota de orvalho desliza no fruto que nasceu no silêncio da noite,
Nenhum olhar percebeu sua candura à medida que surgia na escuridão,
A vida fez-se maviosa distante da agitação dos homens e de pés ligeiros,
Pés que caminham ébrios para o destino do qual tentam fugir: a morte.
O ser é algo tão profundo que nem o coração consegue compreendê-lo,
O ser é espírito grávido de eternidade, o ser é maior que o pensar.
Nenhum homem é capaz de conter as ânsias vitais do seu ser que é oceano,
Viver, pensar, desejar, trabalhar, dormir, esquecer e amar são artefatos do ser.

Ser, é mais que possuir, mas sem possuir o ser definha-se;ser é mais que pensar, mas sem pensar atrofia,

É mais que anelar, porém sua plenitude se dá na realização dos sonhos,
O ser se define então como realizar o desejado.
O ser é completo no amor, somente ai ele é belo, perfeito e refeito;
O ser, é conhecer, fazer, brincar, falar, calar quando possível,
O ser é silêncio, contemplação, adoração e beleza extasiante,
O ser é partícula do SER SUPREMO, por isso se perde à medida que quer achar-se.

Em vão lutamos contra o tempo; os dias passam e nós voamos,

O nosso ser é filho da luz e do amor, transcende à mesmice e à mediocridade,
Nada além do SER SUPREMO preenche o transitório ser que se ocupa do nada;
O ser em mim grita por algo maior que as necessidades desta vida.
Meu corpo não comporta meu ser,
Algo em mim clama por uma vida infinitamente superior,
Meu ser clama por um reencontro com algo que só ele sabe que existe e é real;
Meu ser deseja o desenlace e o mergulho em Ti Senhor, para sempre”.

Ao Sr. Manoel Messias Lopes - Meu Sogro e Pai (In Memorian)

“A morte bateu na nossa porta e entrou sem pedir licença,
Sua visita era esperada, mas não sabíamos a hora certa que viria;
Não havia dia marcado nem tempo determinado para a sua chegada,
Seus sinais nos acompanham todos os dias, meses e anos da nossa vida.

A bandida da morte é visita indesejável,
É peçonhenta e se define como odiosa;
Sua pele asquerosa gera mal-estar aonde chega,
Sua vil presença leva-nos de repente o que mais amamos.
Só o amor e as lembranças vencem sua nódoa indelével.
Assim, aprendemos que tudo que vive, morre;
As rosas morrem; as aves morrem; os homens morrem.
Foi assim que meu sogro morreu, como uma árvore centenária.

Morrem as borboletas azuis depois de vôos inesquecíveis,
Morrem as estações do ano, outonos, primaveras e invernos,
Morrem os versos e as crianças,
Tudo morre; todos morrem.
Morre o pardal e a chuva que rega o chão no sertão nordestino,
Morre o velho, as flores e as árvores,
Morrem rios e estradas, pontes e florestas,
Tudo morre nesse mundo do meu Deus.

Mesmo Deus, sendo Deus, morreu.
A morte é tão astuta que para deixar de ser o que é,
Precisou morrer Deus na forma humana numa cruz.
Onde está ó morte o teu aguilhão?
Deus morreu, viva a Deus!
Ressurreição é convite de Deus a tripudiar sobre a morte,
Nela a morte morreu, já não mata mais como antes,
Perdeu sua força, seu vigor, a morte está de aviso prévio.

Mesmo com seus dias contados a morte permanece inóspita,
Tira-nos a alegria, como quando matou o amor em Romeu e Julieta;
Ainda hoje, com seu ar sombrio, ameaça-nos e rouba-nos o sorriso;
Um dia cantaremos a canção da alegria: “Tragada foi a morte na vitória”.
Embora a morte seja-nos uma contradição e deixe-nos perplexos,
Ela nos ensina a amar a vida, os limites da nossa finitude;
Ela ensina-nos, por mais estranho que pareça,
Que viver é nossa mais nobre e singular vocação”.

Entre Pipas E Sonhos


“A cidade pareceria deserta
Não fossem os objetos que povoam os céus.
Na favela, não era apenas mais um dia como outros de outono,
E no céu, não eram apenas umas pipas de papéis coloridos
Esvoaçando de um lado para outro.
Entre gritos, barbantes e faces voltadas para o sol,
A vida chega à sua plenitude,

O amor e o céu entrelaçam-se nas mãos de meninos
Que absortos e tomados por uma paixão incontida,
Esquecem-se do mundo e de si mesmos.
No fim da linha, onde o cerol corta a dor,
Crianças correm céleres, enquanto sonham a liberdade.
Entre becos apertados, o burburinho das casas,
Ruas altaneiras e lajes povoadas de pés velozes,
A vida se faz bela, ali onde o amor é estrangeiro.

Amarelo, verde, vermelho, preto e branco,
Pintam a tela azul do céu que denuncia o prazer;
O morro, o mar, a brisa, rabos-de-arraia, papagaios,
E olhares incertos sob fios repletos de cordões e linhas;
Algazarra de meninos que sorvem o vento,
Enquanto, o tempo Passa.
Tu estás ali! No meio de tudo!
Teu olhar se faz notar entre outros;

Tu voas com as pipas que ganham destinos incertos?
Tu voas, enquanto vês a rabiola presa na linha vencedora,
Levar seu troféu.
Tua sonhas, ao ver que mãos de meninos ligeiros,
Disputam pipas que caem sem destinos por ai,
Assim, percebes que tuas linhas se fazem ao vento,
No horizonte além.

Olhando para ti,
Não é fácil discernir quem voa,
Se as pipas coloridas de papéis ou se tu mesma;
Teu mundo colorido se faz riso num céu multicor,
Tua leveza se faz notar, teu silêncio voa tua alma,
Teu tom anil de menina que imagina mundos,
Teu olhar inocente e dorido lança-se ao sol, se faz ao vento,
Para nunca mais ser encontrado.

Quisera eu ter pés velozes para,
Entre carros e os perigos da Cidade,
Correr como menino que sonha a liberdade,
Para recuperar teus sonhos-pipas coloridos,
Cortados pelo cerol do tempo e da realidade;
És pipa mesmo não sendo de papel,
Flutuas na tela dos sonhos,
E voas no horizonte da esperança.

Sim, és para mim,
E só para mim,
Um lugar para descansar o olhar no além daqui,
No fora do mundo,
No fora de mim, de ti e de nós,
Ès pipa na alma, no ser,
Soprada pelo vento do Espírito,
Na tela azul do céu do teu desejo infantil".

O Altar e As Cinzas



“A ventania levou as cinzas que restaram no altar dos sonhos;
Onde havia pó e brasas, restos do fogo do sacrifício de ontem,
Passou a existir, apenas, lembranças de velhas chamas,
As quais já não ardem mais no chão do desejo.

Morre o fogo, morrem as sombras, nasce o frio,
E, com o frio eclode a solidão ao pé do altar.
A única luz que restou na escuridão, foi a luz da lua,
E eu, aqui do meu lugar, marejo os olhos,
Anelando outros sóis que reflitam e eliminem a timidez do luar.

Vejo quebradas as vidraças da esperança de amanhãs distantes;
A pedra arremessada por mãos invisíveis,
Fragmentando, fragmentou-se,
Despedaçando a única gota de orvalho que, misturando-se às lágrimas, franziam minha
Face triste e meu olhar abrasador.

Mas, que importa? Aqui, basta-me o silêncio e a certeza de que me vês.
Pois, eu sei que em mim arderá de novo a única chama que ascende outros altares a Ti,
Visto que, nem a lua, nem o luar acendem fogueiras adormecidas.
Desse modo, extraindo das entranhas do meu ser,
Apenas um verso exala da dor da minha solidão,
E da incompreensão deste momento brota um louvor: Deus eu ainda te amo”.

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Conflito 2008

“A insônia é prima-irmã da angústia;
É quando os olhos fogem da escuridão,
E a mente do esquecimento no torpor do sono;
Vaga-lumes vadios iluminam lá fora,
E o silêncio do quarto só é quebrado pelas vozes da alma inquieta e partida.
O universo é nada ante a incerteza,
E o espírito quer sair do corpo que o limita;
Um gemido,Uma taça,Um suspiro profundo,
E o anseio de que um novo e alvissareiro dia

Traga o arco-íris à íris do olhar;
Se tiver alguém ai que possa,
Apague a lua quando sair”.

Medo do Escuro - Feira de Santana Outono 2008


"A poesia que teimava em esconder-se, deu à luz a palavra.
Versa em mim o medo de dizer o que o coração quer calar;
a luz do fim do túnel deixou de ser do túnel o fim;
minha alma nem sabe se ainda existe em meio a tantas pedras,
na rua escura da saudade que acolhe a luz solitária de postes molhados da chuva;
e eu, com o meu olhar sem norte, percorro a penumbra sem nada avistar.

Da escuridão nasce a luz. Os vagalumes não se cansam de fazer-se notar.
Vidrado e absorto, meu corpo nada diz, sequer sabe-se corpo;
sou do silêncio o sino e do medo o badalo.
Abalo de mim que nota-se na respiração.

Medo do futuro; do nada; de desdizer o antes dito com tanta firmeza.
As verdades de ontem são objeto de risos hoje;
o que será das certezas de hoje no amanhã?
Temo um mundo sem fé, sem cruz e sem amor,
temo um paraíso sem Cristo, túmulos sem ressurreição;

Temo a banalização da vida e a religião sem sinceridade do presente.
Temo o cinismo que cresce em larga escala nos antes amantes de Deus.
Temo o despido da pureza, pois nos altares os cordeiros ainda morrem,
e os sacrifícios de muitos locupletam a poucos.

Os profetas morreram e o que restou foi um arremedo de videntes.
As ruas outrora iluminadas estão sem luzes, e Deus, é objeto apenas do discurso de quem planta o futuro a seu bel prazer transportando as lanternas.
Deus? Continua transcendente nos templos do capitalismo,
mas, imanente onde a hegemonia de Mamon não deu sua cara, nos lugares onde os cordeiros berram entre abismos, onde os lobos não vêem, nem uivam.
Sinto saudade dos meus pais na fé.


Eu mesmo estou a perguntar-me: onde estou na história? Que rua escura é esta?
Que mar/ que charco? Que pena!
Deus se podes ouvir minha prece, diga-me!
O que faremos com a lâmpada que está debaixo do velador?".

O Vento - Inverno de 2008


"O vento soprou nas pedras das minhas lembranças,


ali de onde as gretas do passado semeiam restolhos de sonhos,


onde nascem pequenas flores que os olhos não viram nem o coração dos piratas perceberam seu tom e suavidade.




O vento soprou nas pedras das minhas saudades,


o pó arremessado pelo vento que deitava raízes,


na sombra do meu olhar desenhou no chão o teu nome,


ai eu percebi que o tempo se fez verso,


que o mundo se tornou palco dos desejos infantis,


melodias cantadas no colo de mães sonhadoras;


sim, meu ser em pedaços desejou cercar-te de abraços,


mas, a nota que entoa a canção, é prosa de Drummond, Djavan e Pessoa.



O vento soprou seu hálito, marejado dos sabores de vinhos de velhas adegas;


sim, o vento soprou carinho, amizade, e, rindo a toa se foi, e, enquanto ia,


me trazia na tela da imaginação seres especiais, pessoas amigas, várias vozes; melodias das aves de outonos.




O vento me trouxe seus nomes,


porém, quando se foi, sua doce voz ficou retumbando no meu peito,


e ai, eu me dei conta de como foi especial,


sim, ainda trago comigo a lembrança de dias infinitamente especiais".

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Meus 39 anos - Salvador 21 de Novembro de 2008


“39 anos se passaram e eu, fechado em meus sonhos infantis sequer os notei,
As velhas ruas de outrora já não são mais as mesmas, sequer na estética.
A antiga casa de farinha ainda está aquecida, enquanto mandiocas retorcidas apodrecem ao pé do pilão;
Tudo ali cheira ainda aos perfumes de tempos distantes,
Aromas de ontem que as narinas não deixam adormecer.
A vida passa,
Os dias passam,
E passo eu, medindo à palmos a métrica das canções que o vento levou,
Melodias de mim que o tempo compôs nos quintais dos desejos grávidos de ternura.

39 anos se passaram e eu, continuo aqui, no lugar da saudade,
Sorvendo as lembranças, como se delas minha alma vivesse.
O passado é feito de ruas escuras, céus turvos e mares sombrios,
Nem sempre é possível nele enxergar alguma coisa,
É como o futuro, suspeito às vezes que ambos são feitos da mesma argila.
Posso tocar no menino que fui, pois ainda o vejo correndo descalço por ai.
O inverno passa,Os anseios passam,
E passo eu, ouvindo a chuva que arrasta o silêncio de anos fabris,
Gotas paradas ali, em folhas e galhos que versam na ternura,
O anelo que ainda move o homem que hoje eu sou”.

Rumos Do Coração - Salvador 27 de Novembro de 2008




Não há rumos certos quando o coração não sabe ao certo o que fazer,
Os pés ficam cegos, as mãos emudecem e os olhos sequer vêem saídas.
As aves conhecem seu caminho no céu, e mesmo os peixes no oceano,
Mas há ruas escuras no peito de quem vem de dores do passado.


A poesia é dor expressa em versos, gemido de quem tem uma alma leve,
Porém, sem a leveza da alma de quem lê, a poesia é mero encontro de palavras.
A palavra na poesia esconde e revela a dor e mesmo o amor e a alegria,
Poesia sem amor é céu sem desenho de nuvens para crianças tocarem a eternidade.
Só no coração a poesia encontra rumos;
E só na poesia o coração transcende a si próprio;
É no último verso que o amor se dilata em flores,
E que a palavra colore mundos enquanto cala oceanos e pinta no céu um rumo para as aves.

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Marés de Inverno - Salvador 27 de Novembro de 2008














Os dias são como o ponteiro do relógio
Passam impávidos sem se importarem com mais nada.
As horas e os trens viajam por trilhos impiedosos,
Enquanto o coração segue os caminhos da incerteza.

Aqui da sacada da casa vejo janelas de prédios que calam sussurros,
E da rua vem ruídos de operários trabalhando, carros que rumam nas vias de asfalto,
O ventilador me entorpece com sua brisa artificial e seu som mavioso,
E do lado de fora, vozes que versam outros interesses se fazem ouvir sem saberem que estão sequer sendo notadas.
Aquela dor de fim de tarde quer visitar meu peito,

Mas eu já nem sei se é o peito ou a alma, ou a mente,
Somente sei que nada sei e que a cidade não para porque eu sofro,
Daqui é muito fácil notar que minha melancolia não pára os outros mundos,
Mas pára o meu.

Uma sutil sensação me ocorre enquanto escrevo este poema,
Para mim, se me dá que a angústia é como as marés de inverno,
Constante e solitária, fria e inevitável,
É como um mar em mim de coisas que eu nem saberia dizer,
Mesmo que tentasse explicar.
O que sinto agora na verdade são apenas marés de inverno.





quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Manhãs de Saudades



Wolfgang tocava altissonante
Seu Allegro moderato na sala de estar,
Enquanto, minha mente grávida de lembranças de dias frios,
Buscava no passado as alegrias
Que visitaram o meu sedento coração
Em manhãs de flores tímidas.
Os gonzos da porta da felicidade quebravam as placas da ferrugem do tempo,
À medida que se abria para mim, dando lugar ao sonoro e alvissareiro
Sorriso de primaveras de borboletas azuis.
Mar de mim de amor sem fim, fim em mim e de mim que percorrem
O nevoeiro no interior do túnel da beleza d´alma.

Amadeus insistia em tocar suas melodias eternas,
E eu, obtuso, num lance de transcendência,
Compreendi que nostalgia é pão que se come em silêncio,
E que saudade é sua sobremesa em mesas postas
De frente para o nada.
Ah! Que saudade das amoras doces,
Roubadas de pés possuídos de desejos!
Alguém ai fora saberia me dizer por que estes
Encantamentos são diminutos?
Mozart tocará para sempre o amor
E a alma de gente como eu,
Que padece de um mal que eu definiria aqui,
Como sendo uma saudade crônica De um passado distante.

A Noite - 12 de Novembro de 2008




Pôs-se o sol, e escondeu-se entre montanhas de nuvens
A sombra da noite apagou as cores das coisas ao redor.
Os olhos fartos de ver a beleza de tudo, aninharam-se atrás da nostalgia,
Sentindo a dor do amor que não veio.


Olhar fito na estrada sinuosa de melodias de boiadeiros,

Lugares escuros de canções sombrias,

Versos de velhas, de vilarejos distantes,

Aí onde os poetas se escondem,

Quando tocam as estrelas com a palavra.


A poeira, da terra, ainda subia,

Enquanto carros passavam velozes,

E com eles passavam os sonhos,

Mesmo com a dor que em silêncio doía,ia-se a alegria,

Deixando de resto o cântaro calado junto ao poço,


E a água fria do pote,

Marejada pelo vento, deu lugar aos ciscos.

O chão ainda quente do sol que se foi,

Deu lugar às pegadas de seres notívagos

E ao orvalho da noite,


Enquanto as aves aninhavam-se nas grotescas árvores furtadas do olhar,

E tudo que era frágil gestando o amanhã,

se fez invisível em seu canto.
As estrelas, a lua, o céu e a terra,
Buscavam no olhar uma poesia concreta.



O medo deu lugar ao sono, e este,

Continua sendo o abrigo dos sonhos infantis,
Onde meninos viram heróis,

E minha alma assume o ser que sabe ser capaz de ser feliz,

Porque puro, Porque belo,

Porque nada...

Parada ali na janela da imaginação,
À espera de um novo amanhecer.
Pôs-se o sol, e agora o que há de ser da noite?.