sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Entre Pipas E Sonhos


“A cidade pareceria deserta
Não fossem os objetos que povoam os céus.
Na favela, não era apenas mais um dia como outros de outono,
E no céu, não eram apenas umas pipas de papéis coloridos
Esvoaçando de um lado para outro.
Entre gritos, barbantes e faces voltadas para o sol,
A vida chega à sua plenitude,

O amor e o céu entrelaçam-se nas mãos de meninos
Que absortos e tomados por uma paixão incontida,
Esquecem-se do mundo e de si mesmos.
No fim da linha, onde o cerol corta a dor,
Crianças correm céleres, enquanto sonham a liberdade.
Entre becos apertados, o burburinho das casas,
Ruas altaneiras e lajes povoadas de pés velozes,
A vida se faz bela, ali onde o amor é estrangeiro.

Amarelo, verde, vermelho, preto e branco,
Pintam a tela azul do céu que denuncia o prazer;
O morro, o mar, a brisa, rabos-de-arraia, papagaios,
E olhares incertos sob fios repletos de cordões e linhas;
Algazarra de meninos que sorvem o vento,
Enquanto, o tempo Passa.
Tu estás ali! No meio de tudo!
Teu olhar se faz notar entre outros;

Tu voas com as pipas que ganham destinos incertos?
Tu voas, enquanto vês a rabiola presa na linha vencedora,
Levar seu troféu.
Tua sonhas, ao ver que mãos de meninos ligeiros,
Disputam pipas que caem sem destinos por ai,
Assim, percebes que tuas linhas se fazem ao vento,
No horizonte além.

Olhando para ti,
Não é fácil discernir quem voa,
Se as pipas coloridas de papéis ou se tu mesma;
Teu mundo colorido se faz riso num céu multicor,
Tua leveza se faz notar, teu silêncio voa tua alma,
Teu tom anil de menina que imagina mundos,
Teu olhar inocente e dorido lança-se ao sol, se faz ao vento,
Para nunca mais ser encontrado.

Quisera eu ter pés velozes para,
Entre carros e os perigos da Cidade,
Correr como menino que sonha a liberdade,
Para recuperar teus sonhos-pipas coloridos,
Cortados pelo cerol do tempo e da realidade;
És pipa mesmo não sendo de papel,
Flutuas na tela dos sonhos,
E voas no horizonte da esperança.

Sim, és para mim,
E só para mim,
Um lugar para descansar o olhar no além daqui,
No fora do mundo,
No fora de mim, de ti e de nós,
Ès pipa na alma, no ser,
Soprada pelo vento do Espírito,
Na tela azul do céu do teu desejo infantil".

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