sábado, 18 de junho de 2011

Entre Sol E Lua


Ontem eu estive entre a noite e o dia.
Foi rápido. Eu estava acima das nuvens.
O Sol de um lado, despedia-se vestido de um tom de abóbora-avermelhado.
Do outro, a Lua prateada iluminava o tapete que parecia de lã, feito de nuvens.
Lá das nuvens, dentro do avião, eu me dividia abismado.
Fotografei a chegada da noite e o dia que partia, onde as montanhas eram de fumaça.
Ambos estavam ali, Sol e Lua, a noite, o dia e eu, apenas na fenda do tempo.
Minha alma, absorta, já não tinha chão quando na terra.
Agora entre as estrelas, sabia-se asteróide.
Um mar de luzes se podia ver nas cidades.
Como um artista plástico ante a sua tela em branco,
Eu ainda não havia pincelado o meu futuro.
Eu apenas seguia a leveza do espírito,
Inspiração de um rabisco feito esboço no coração.
Ainda pinto a tela de uma história feita de sangue, amor e vida.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Na Teia da Palavra



Detesto a tudo que não é liberdade.

Fosso profundo de escravidão é o mundo.

Como a guilhotina está para o corpo, assim, a cidade está para a alma.

Ruas escuras, esquinas turvas e faces sombrias: colisão.



Certo pavor me invade o coração ao notar que os totens de ontem se foram.

O sagrado é mero obscuro segredo contado e partilhado às escuras.

Essa religião de assassinos cujas mãos acariciam a morte.

A sorte está posta para o holocausto de inocentes.



Já não há mais certezas. Os homens disfarçam, fazem de conta.

Os políticos estão partidos em seus partidos: roubam, enquanto riem para as câmeras.

Os fiéis se amontoam ante a mão humana que finge vestir-ser da divindade.

A ignorância mutila os incautos, domados por falsos deuses.



Soltos no espaço, degeneramos numa sociedade em degeneração.

Para onde caminha a humanidade? O que fizemos com a paz?

Onde andará Deus, tão presente no discurso dos loucos?

Estou cansado dessa divindade que disfarça o capitalismo.



O reino de Deus onde andará? Nas igrejas?

Se eu ando nas ruas, vejo os vícios grassando os homens.

Se pelos templos descubro as ruas como um paraíso.

Onde andará a justiça? Maranata!



Contra o que lutamos? Para onde vão os homens-bombas?

Onde querem chegar os homens barbudos de chapéus pretos?

O que querem os homossexuais? O que querem os ricos? Os ladrões?

Somos todos fabricantes de ilusões. É isso mesmo: meras ilusões.



Os poetas, os teólogos e os capitalistas. Diferem em que?

Sistemas viciados. Ar poluído onde a morte pede carona.

A natureza regurgita a humanidade: causa da sua indigestão.

Somos todos como escórias. Corremos atrás do vento.  



Amo os poetas porque dos mentirosos são os mais amáveis.

Dos ladrões são os menos nocivos.

Amos os poetas porque roubam o tempo e a dor, enquanto distraem a alma.

Estes são os únicos cuja finalidade não é levar o seu dinheiro, que também nada é.



Amo jardineiros e coveiros, mas prefiro os poetas.

São três espécies de gente que plantam a verdade.

Lidam com sementes diferentes: um, planta a vida e o outro a morte.

Os poetas, entretanto, entremeiam jardineiros e coveiros, visto que plantam versos, entre a vida e a morte.  

quinta-feira, 9 de junho de 2011

A Flor Do Meu Olhar


O verde mar do canavial contrasta com o azul do céu.
A flor da cana ergue sua face altiva sobre a campina imensa.
Crinas eriçadas como bandeiras hasteadas ao vento.

A flor do meu olhar vê as flores que anunciam a colheita.
O Sol está ali, ao alcance das mãos do poeta.       
Brilha dando luz aos olhos de quem descreve o mundo.

Meu coração segue a estrada paralela de universos paralelos.
E o vento reclina as folhas que encantam os olhos de quem ama a beleza.
É lindo o mundo quando os olhos têm fome de ver o que apreciam.
                                            

Que pena!


A palavra se esconde de minha pena de escritor.
Dá pena das canetas quando o verbo não vem.
As mãos não têm culpa se a mente perdeu o trem na estação.

Os olhos ficam a espera de um sentido para a razão.
Fixo num ponto, o olhar se perde, sem saber ao certo o que procurar.
O que achar visto que não se encontra?

Certa irritação me desinstala a quietude.
Um pouco de ansiedade. Um copo de desespero.
Uma taça de ironia. Um drinque no silêncio.

Uma música estilhaça a vitrine da não-palavra.
É em inglês, uma língua distante como distante vive a minha alma.
O globo azul dos olhos de um céu feito de amor se emudece.

A palavra, feito menino que brinca de esconde-esconde, se esconde.
No coração o desejo de poetizar; escrever versos floridos.
Como? A primavera insiste em não vir. Há invernos que duram.
   
Os pensamentos decolam, enquanto minha alma adeja entre abismos.
Transporto os versos que ainda não nasceram. Parturição contida.
Na boca a palavra calada. No ato a imagem da flor que espera a aurora. 

O Vento E A Alma


Hoje o céu está limpo num tom de azul, de um azul sem fim.
O olhar se perde na pedra anil sem nuvens brancas ao redor.
Tudo parece mais nítido e o sol iluminando cora o mundo.

A palavra não vem e enquanto não vem, descrevo o vento.
Este passou por aqui sorrateiro. Vestiu-se de invisibilidade e sorriu.
Brincando como um menino entre as flores, correu fugidio.

Com o vento seguiu minha alma leve e feliz.
Para onde foram? Não sei. Quem saberá a estrada da alma?
O vento e a alma são velozes, invisíveis e verdadeiros.

Como o vento a alma transporta aromas.
Como a alma o vento viaja por ai quando deseja ternura.
Ambos se lançam no mundo sem fim à procura de sonhos e aromas de flores vívidas.

Nas asas do vento a alma ama o mar.
Nas asas da alma o vento é poesia de quem ama.
Entre as duas asas do vento e da alma habita o poeta.

Poetas voam com as asas da imaginação.
É de vento e da alma que a imaginação insufla os sonhos.
Os meninos lêem os poetas, porque suas almas e palavras são tapetes mágicos.

Minha alma migra com os ventos uivantes de manhãs de invernos.
Alado, saio por ai semeado poemas de amor.
A minha alma feita de vento entra pelas frestas das janelas onde a vida é flor.