sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Feliz Ano Novo!




2010 foi um ano muito difícil,
Mas são os anos difíceis que marcam mais as nossas vidas.
Tudo que é fácil tende a ser infrutífero.
Eu quero os frutos das minhas esperas,
Quero os louros das minhas lágrimas e das feridas anelo a cura.

Eu confesso que vi beleza em todas as coisas.
Desvendei segredos,
Abracei amigos,
Descobri inimigos disfarçados de monges.
Andei por ruas diversas e toquei as quatro estações.

Vi templos em ruínas, altares fendidos.
Vi o rei se tornar bobo e o bobo elevado ao trono.
Vi palhaços chorando em velórios festivos.
O circo da vida estava cheio de “respeitáveis públicos”.
O Brasil mudou e mudando mudaram os homens.

As velhas raposas da política foram banidas dos covis.
Na America um negro no poder, mas que poder se ainda vivemos de cotas?
Amei as flores e andei em terra indígena á luz do sol.
Senti saudade e senti a dor da traição junto ao abandono.
Tornei-me mais forte. Hoje posso falar de um pouco de tudo.

Naveguei, voei, caminhei, mergulhei, flutuei entre a dor e a esperança.
Reencontrei amigos, amarguei e fiz amargar: mera tendência dos mortais.
2010 foi um ano extraordinário para mim.
Perdi tudo e reconquistei tudo perdendo.
Sinto falta das terras virgens de mim.

Vivi aventuras plácidas e me fiz fé na tormenta.
Certos momentos eu perdi a fé, e assim, Deus se me fez abraço na angústia.
Desejo que 2011 seja um lugar de novas aventuras,
De erros e acertos, batalhas e vitórias.
Contudo, desejo ser eu mesmo, amado ou odiado, querido ou não.

Desejo a todos os que vivem os mesmos dramas que eu um feliz Ano Novo.
Sejam verdadeiros consigo mesmos e com os outros.
Reinventem-se e não deixem que os outros tripudiem sobre sua humildade.
Sejam fortes e amem a Deus acima de tudo.
Amem, simplesmente amem. Porque no fim do ano o que restará é o fruto do amor. 
  

sábado, 25 de dezembro de 2010

Canoa Parada




A canoa está ali, na lama do mangue seco, à espera de alguém.
O mar não está para a pesca nem a alma para as redes.
Dias assim, o pescador faz da rede de balanço seu lugar de descanso.
O sol de hoje é o mesmo de outros dias,
Quando o espírito do homem não quer as ondas e tampouco os ventos.

Há um colorido que embeleza o pia nas embarcações silentes.
A vida lá fora é como o mar que espera cardumes e homens.
A linha do horizonte fende a face da lua na linha do anzol, 
Que realça o mar, espelho d’água.
Contrapartida, do outro lado, o sol esconde o rosto já cansado de esperar.
O que espera o sol?

O sol espera o que espero eu,
A viração do dia, para que tudo comece outra vez.
Eu espero o que esperam os homens e os pescadores em todo lugar.
Um dia alegre, um toque de amor e a plenitude da felicidade.
Não é assim que caminha a humanidade?

O mar prateado espera o douro do sol.
O sol encantado espera os homens à luz.
Os homens esperam florir os sonhos.
o rio espera o mar e o amor espera o afeto.
O fato é que todos esperam alguma coisa.
E eu espero o que minha alma não sabe definir: talvez o que esperam as aves.

A canoa continua ali, parada,
Amarrada está a alegria a um cepo enfiado no chão.
É assim, o cepo prende as canoas e estas prendem destinos,
Que prendem os homens e estes,
Estão presos à eternidade e à beleza de um instante. 

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Ao Luar Sob A Lua


Hoje uma lua linda me presenteou o olhar.
Parado, ali, fiquei vendo-a subir elegante.
Era como uma moça bonita, faceira e sorridente.
Minha alma quedou-se ao luar anelante.

Não quero a noite sem luar romântico,
Não quero o vento sem a brisa leve,
Prefiro as horas que me inspiram o cântico.
Nos céus as aves rumam para seus ninhos distantes.

Eu amo mesmo é o sol;
Mas quem disse que este não brilha à noite.
É que meu ser sereno mareja a pele na vergôntea de dias tímidos.
Amo velejar solitário aos ventos de açoites.

A lua estava ali e sequer brandiu a sua espada.
Possuída de um grave olhar franziu-me o semblante.
Não é a lua que minha alma busca, mas o luar.
O luar é dos amantes, a lua dos viajantes.

O céu e o mar estavam belos,
O horizonte convidativo espalhava ternura.
E eu, extasiado deixei-me levar para o sem-fim.
Não sei se era eu quem via a lua ou se o sol me via ao luar.

Feliz Natal Para Todos! - Porto Seguro 2010.



Eu gosto do Natal.

Quando criança eu achava que era das festas a mais bonita.
Os vizinhos se tornavam mais amáveis, solidários e gentis.
Os amigos se tornavam mais dóceis e os estranhos mais fraternos.
A minha família estava sempre fragmentada neste período do ano.
Porque a gente nunca acostuma com a dor que a ausência traz, a gente reinventa-se.
Natal é o Cristo dado em manjedoura humilde, Deus reinventando a vida.
É nascimento de um menino sob estrelas cintilantes em estrebarias.
Natal é o avesso da cruz, mas um caminho para ela.
No Natal Deus se fez gente e a gente esperança e paz.

Eu gosto do Natal.
Porque Natal é cálice, vinho e pão.
É amor sem coroas de espinhos nem açoites.
Os homens se tornam mais urbanos, menos ácidos.
As famílias comungam à mesa.
A gente dá e recebe presentes.
As ruas ficam mais brilhantes, coloridas.
Os olhos mais afáveis e o olhar mais tenro.
Natal é graça sob corações desertos.
É abraço dado aos que vivem nos semáforos e pontes das cidades.

Eu gosto do Natal.
No Natal o Cristo é criança sempre, é belo e feliz.
Gosto do Natal, pois no Natal há colos que acolhem,
Há seios que amamentam e ceias que alimentam.
Gosto dos sorrisos singelos e afetos trocados com presentes.
Eu costumava assistir isto nas festas dos outros.
Na minha casa a gente não tinha muito que fazer.
Nosso Natal sempre foi feito à volta de outras mesas.
Eu sempre olhava para céu nesta época do ano querendo ver nas estrelas
A face dos meus irmãos refletindo a família dos meus sonhos.

Eu gosto do Natal.
A minha mãe sempre dizia que um dia celebraríamos um natal em família.
Eu ainda aguardo por isto, mas temo não ser possível mais nesta vida.
Entretanto, estou certo que nos veremos na festa que o menino Jesus, já adulto, nos dará na outra vida.
Espero que ao menos nesta, eles não esteja ausentes.
Nesta vida, porém, eu quero um Natal com pisca-piscas, velas, pinheirinhos, bolas coloridas e muita alegria.
Natal sem alegria não é Natal é Páscoa: em que se bebe ervas amarga.
A minha mensagem de Natal para todos os meus leitores é: sejam felizes a sós e/ou em família.
Sejam fraternos, convidem os vizinhos, reúnam-se à mesa da alegria.
Deixem Jesus nascer como proposta de amor em seus corações: amem e se deixem amar.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Um lugar no Paraíso Interior



Leio Rubem Alves enquanto escuto a flauta de Jean Pierre Rampal,
Não há nada mais almático e encantador que esta atividade ao tom suave
De uma brisa leve que toca minha face beijada por minha pequena Tábatha.
A eternidade ganha seu vórtice aqui mesmo em mim, no amor que emana no silêncio.

Ah! Que maravilha!

Um Concerto for flute, harp & orchestra in C major- W. A. Mozart.

A poesia jorra em minhas veias enquanto minha mente percorre mundos ao açucarado humor da Talitha.
Mas que mundos percorrer lá fora se não desvendo os de dentro?

Meus olhos vêm a flor-da-noite, o jasmim-do-imperador e as bromélias.
Sorvo as imagens oníricas de uma infância rupestre.
Minha alma bucólica anima-se ao som de oboés distantes.
Sinto saudade não sei do quê, só sei que sinto mesmo sem saber.

Algo em mim percebe Deus na ternura.
Deus deve solfejar canções de amor ao som do vento.
Penso que por isso ele ama a viração do dia.
Ah! Se Adão soubesse! Teria recusado o conhecimento do bem e do mal.

Há saberes que nos expulsam do Paraíso,
E há sabores que expulsam a Deus de seu passeio vespertino.
Não houve mais fins de tardes e penso que Deus sente saudade.
A saudade meu senhor, não é coisa só dos homens, os deuses o sentem também.

Gosto da expressão do Livro Sagrado quando diz:
“Deus habita no meio dos louvores do seu povo”.
Acho que Deus sente o que sinto agora quando ouve canções de exilados.
E o que sinto agora? Só um suspiro profundo para expressar.

Em algum lugar desse mundo há jardins de sonhos.
Os sonhos são feitos de algodão-doce e jardins floridos e tecidos da alma.
Minha alma sonha, e, porque sonho, sinto o amor.
E o que é o amor? Amor é saudade: essa coisa que nos arrebata os sentidos quando fechamos os olhos.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Pelas Costas



Viajar pela Bahia é uma delícia.
Eriça a pele, adocica a alma e encanta os olhos.
Sempre encarei esse país de frente,
Mas conhecê-lo pelas costas foi descobrir sua verdadeira face.

Por aqui há muitas costas e a ternura caminha às escondidas.
Passei pela Costa do Dendê, vi a alegria de Nazaré das Farinhas
À Valença, rumando para Camamú, banhando-me nas cachoeiras de Ituberá.
Deus ali, decidiu dar o ar de sua graça, fez da verde mata um motivo de amor.

Segui pela Costa do Cacau, com saudade, deixando para trás a Ilha de Itaparica.
Onde ter o mar em volta é como dar a volta ao mundo sem sair do lugar.
A floresta se afirma e as montanhas cobertas de densas nuvens nos rodeiam silentes.
Assim, lembrei-me de Drummond: “Mundo mundo vasto mundo, mais vasto é meu coração”.

As curvas da estrada me lembram as veias da vida.
A estrada sangra quando não há amor nem saudade.
Enquanto eu viajava descobria a mim mesmo na Costa do Descobrimento.
Eu queria um Porto Seguro, mas como achá-lo se estou à deriva?

A minha fé me diz que onde nasceu o Brasil renascerei eu.
O mar daqui é mar de navegantes, como disse Pessoa: “Navegar é preciso”.
Eu vi a cruz da primeira igreja, a da primeira missa, o índio e até quilombos.
Eu vi o rio correr junto ao mar e o amor despencar em quedas d’águas.

Pisei na arei,
Rocei o mato,
Banhei-me no mar,
Refiz minha história deixando para trás o fardo da incerteza.

Tenho visto Deus amar-me como amam as que amamentam.
Seu hálito puro faz voar as aves e a brisa leve me faz ouvir sua voz.
A Voz de Deus é como o som de muitas águas.
Mas o seu toque é meigo e inconfundível: ele sabe ser Pai.  

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Estradas e Trilhos nas Estrelas




Para onde irei se a estrada acaba aqui?
Há estradas que terminam quando o amor começa.
Se o amor acaba, não há estradas para seguir.

Seres alados não precisam de estradas.
Eu tenho asas posto que sou ave,
Minha alma voa no horizonte da saudade.

Eu sempre soube que há uma estrada para o sol,
Como será caminhar sobre trilhos no céu?
Deve ser tão doce quanto amar a vida que escoa lá fora.

O amor em mim é como o sol, tem uma estrada.
O sol em mim é como trilhos nas estrelas, me faz amar.
A estrada em mim é como o amor, me leva aonde posso chegar.

Quero chegar onde os meus pés sigam os trilhos.
Onde minhas asas não alcançam senão no desejo.
Quero  a estrada que acaba no sol, no amor e nas cavernas da alma.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Tempo de Cantar




Diz o autor sagrado que “Há tempo para todo propósito debaixo do sol”,
O fato é que acima dele (o sol) o tempo não é necessário.
O tempo foi feito para que Deus contasse a espera.
Ele ainda sonha em brincar conosco no jardim, uma vez que aqui só há desertos.

Embora conheça desertos, Deus gosta mesmo é de jardins.
Alves diz que “O mais alto sonho de Deus é um jardim”.
Num jardim há tantas coisas para se encantar
Que o tempo, como no céu, é desnecessário.

Ah! Quem me dera tocar as flores deste mundo com o meu olhar.
É na alegria que a eternidade desnuda a sua flamejante espada.
O tempo é um fardo quando a gente ama.
Uma locomotiva louca que passa às pressas na estação.

Quero viver um tempo em que o tempo não seja necessário.
Quero o eterno agora, o já de felicidade sem horas marcadas.
A minha alma não precisa de ampulhetas nem de areias derramadas.
Minha alma quer jardins floridos de primaveras vivas.

Gosto dos jardins porque neles o meu corpo canta o que canta a minha alma.
É num jardim que melodias cantaroladas nascem, enquanto a alma adeja absorta.
Os jardins em mim, encontram os jardins em Deus, e assim, eclode a comunhão.
Para que o tempo se a alma é poesia? Quando a alma é feliz o tempo se torna desnecessário.


O tempo meu senhor serve para medir a espera.
Na dor, na angústia, na solidão e mesmo no sofrimento.
Ele é útil, para nos ajudar a atravessar desertos.
Sabe qual é o problema do tempo? Ele não tem alma. O tempo não tem alma.
  
Deus não usa relógio, tampouco tem um cuco na parede.
Mas, ele sonha transformar desertos em jardins.
Pois, Ele mesmo, deseja que, de espadas sejam fundidas pás, relhas e enxadas.
Minha alma de menino lembra Nascimento, outro poeta mineiro que disse:

“Cantar era buscar o caminho que vai dar no sol,

Tenho comigo as lembranças do que eu era,

Para cantar nada era longe, tudo tão bom,

Até a estrada de terra na boléia de caminhão.

Era assim,

Com a roupa encharcada e a alma

Repleta de chão (...)”

Tenho saudade do tempo em que o tempo era apenas um detalhe.


Quando o tempo era totalmente desnecessário.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Tempo de espera



A espera já não me mata mais.


A espera meu senhor, é pão que se come todos os dias na mesa de quem crê.


Eu creio, por isso espero.


Espero porque o que espero é fruto do meu desejo.


O que desejo posso esperar, não importa o quanto dure.


O que dá sentido ao desejo é o amor.


Desejamos o que amamos.


O que é o tempo na vida de quem ama?


Só o amor nos faz esperar o que acreditamos vir a seu tempo.


A espera me bole por dentro,


Desperta a angústia, eriça minha alma


Mas é na espera da minha fé que o meu coração se sabe amante de Deus.


Quem espera transcende a si mesmo no ato de amar e crer.


Se espero pelo que amo, logo, minha espera é descanso.

Ontem e Hoje



Ontem o meu olhar se descobriu saudade,
Hoje minhas pálpebras repousam entre o mar, o sol, o anzol e a isca.
Ontem a rua estava deserta e o livro que li me fazia ver jardins floridos.
Hoje as aves de rapina pousam nas correntes de navios que rumam para o Saara.

Ontem famílias de sem-teto foram despejadas de um edifício em São Paulo.
Hoje são devotos em procissões que caminham em silêncio para a morte.
Ontem candidatos fizeram promessas que mudariam o mundo.
Hoje esquecidos, os pobres seguem a deriva como barcos sem velas.

Ontem religiosos diziam amar o mundo e as pessoas,
Hoje descobri que o mundo que diziam amar eram os latifúndios e as coisas.
Ontem vi fiéis à espera de um milagre e de um paraíso longe daqui.
Hoje um altar ao deus Mamom erigido em templos de cruz e sem cruz.

Ontem contrição e lágrimas erguiam a vida de fé e prática do amor dos mais simples,
Hoje ilusão e cinismo da nobreza soerguem as ruínas do amor perseguindo o lucro fácil.
Ontem as ovelhas eram mais atentas a tudo quanto à fé,
Hoje já não percebem os lobos que antes de matá-las, engorda-as.

Ontem um sino, o badalo, a batina e o altar,
Hoje uma caixa registradora, um pastor do rebanho e um gazofilácio.
Ontem a vela, o Livro e a mitra,
Hoje a pompa, um conto da carochinha  e a dracma.

Ontem simplicidade, amor e verdade,
Hoje glamour, poder e vantagens.
Ontem a cruz, o Cristo e a vida.
Hoje o açoite, o poder e a morte.

Ontem a fé, liberdade e o mel,
Hoje superstição, servidão e o fel.
Ontem minha alma de menino corria à luz da lua,
Hoje a temeridade esconde em mim a ternura, há feras no escuro lá fora.

Onde andará Deus?
Por que não vem mais na viração do dia?
Deus meu senhor, saiu do jardim a procura de Adão,
E este, insiste em esconder-se, perdido por ai nos templos feitos por mãos de homens.

Ontem eu fui sorriso,
Hoje sou apenas silêncio, devoção em profundidade.
Ontem eu fui mera ingenuidade; menino lânguido que andava mundos. 
Hoje sou palavra, um verso que expressa a eternidade no amor. 



quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Poema Dedicado À Melvin Tolson - 1898 à 1966 - Missouri



Minha pele vestida de África anseia a liberdade.
A liberdade é como o sol, nasce livre nas manhãs de primaveras.
Sinto-me filho da liberdade e como o sol, desponto para o que desejo, sem medo.
A cada perda, fico mais forte, e, sendo mais forte, amo os meus inimigos.
 A opressão é como nuvens que castram do sol a luz que reflete o olhar,
Todavia, não dura para sempre sua tosca tentativa de parar o que é mais forte.
O amor é mais forte, pois torna os homens livres.
A liberdade é filha do amor e ambas são como o sol que vence as nuvens.

Minha pele negra se veste de África quando deseja o amor e o mundo.
A cor da minha pele põe em relevo a minha consciência,
Fujo de tudo o que se chama escravidão.
Desde a opressão aos mais pobres à ditadura religiosa.
Odeio a tudo o que em nome de Deus rouba os pobres.
Lesando os seus direitos, suas consciências e seus bens.
As senzalas de hoje possuem cruzes e altares.
As correntes são as teias da erudição feitas de discursos arrogantes.
Os ditadores de hoje são mercenários.
Alimentam as ovelhas para viverem da lã e da gordura.
Usam como azorrague os pergaminhos e em silêncio devora das ovelhas a carne.
Lobos vorazes com anéis, diplomas e uma doce ilusão. 

A negra cor da minha pele quer liberdade.
Ela deseja estar livre dos novos capitães do mato: fantoches desalmados.
O meu grito se faz ouvir na noite que veste o sol de escuridão.
Da penumbra ouço a voz do Deus que habita a escuridão da dor.
Navios negreiros içam velas para o norte.
Que sorte poderá recair sobre os cegos?
Como indagou o poeta:
__ Quem é o Juiz?
__ O Juiz é Deus. Respondeu um aprendiz.
__ Por que ele é Deus? Clamou a voz irrequieta.   
__ Porque é ele quem decide quem perde ou quem vence e não o meu oponente. Afirmou.
__ Quem é o seu oponente? Interpelou o sagaz ensinador de justiça.
__ Ele não existe. Disse com sua alma livre.
__ Por que o seu oponente não existe? Falou esperançoso.
__ O meu oponente não existe porque ele é mera dissonância daquilo que eu digo. Sibilou.
__ Então diga a verdade. Conclui o poeta.
Hoje, me visto de África, porque me cubro de amor, liberdade e esperança,
Na negra cor da minha pele livre como o sol entre nuvens.