quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Pelas Costas



Viajar pela Bahia é uma delícia.
Eriça a pele, adocica a alma e encanta os olhos.
Sempre encarei esse país de frente,
Mas conhecê-lo pelas costas foi descobrir sua verdadeira face.

Por aqui há muitas costas e a ternura caminha às escondidas.
Passei pela Costa do Dendê, vi a alegria de Nazaré das Farinhas
À Valença, rumando para Camamú, banhando-me nas cachoeiras de Ituberá.
Deus ali, decidiu dar o ar de sua graça, fez da verde mata um motivo de amor.

Segui pela Costa do Cacau, com saudade, deixando para trás a Ilha de Itaparica.
Onde ter o mar em volta é como dar a volta ao mundo sem sair do lugar.
A floresta se afirma e as montanhas cobertas de densas nuvens nos rodeiam silentes.
Assim, lembrei-me de Drummond: “Mundo mundo vasto mundo, mais vasto é meu coração”.

As curvas da estrada me lembram as veias da vida.
A estrada sangra quando não há amor nem saudade.
Enquanto eu viajava descobria a mim mesmo na Costa do Descobrimento.
Eu queria um Porto Seguro, mas como achá-lo se estou à deriva?

A minha fé me diz que onde nasceu o Brasil renascerei eu.
O mar daqui é mar de navegantes, como disse Pessoa: “Navegar é preciso”.
Eu vi a cruz da primeira igreja, a da primeira missa, o índio e até quilombos.
Eu vi o rio correr junto ao mar e o amor despencar em quedas d’águas.

Pisei na arei,
Rocei o mato,
Banhei-me no mar,
Refiz minha história deixando para trás o fardo da incerteza.

Tenho visto Deus amar-me como amam as que amamentam.
Seu hálito puro faz voar as aves e a brisa leve me faz ouvir sua voz.
A Voz de Deus é como o som de muitas águas.
Mas o seu toque é meigo e inconfundível: ele sabe ser Pai.  

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