sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Rastro de Estrelas



"Feito rastro de estrela cadente,
é meu amor que reluz no céu do seu olhar.
Constelações na via láctea,
flores postas como rubis nas alamedas
dos teus sonhos infinitos".

Porões



"Uma réstia de luz navegou silente o porão do meu ser.
Parado ali, me senti tocado pela beleza que transia a escuridão.
Calado em mim, dei lugar ao som da sua voz que me invadiu impávido.

Porões existem onde segredos devem ser guardados;
Segredos existem porque a alma não quer se expor,
Ela quer calar as dores e as querelas de amores silentes e traquinos.

A escuridão esconde o olhar que quer ser visto,
O olhar que teme dizer o que a alma insiste em vestir de sombras,
ali onde a luz vence a solidão do quarto escuro do desejo.

Porões existem para meninos que se escondem enquanto escondem sonhos.
Apenas os olhos que sabem ver percebem o anelo da alma desejante;
Sendo assim, enxergar no escuro é tarefa que cabe aos cegos, aos sábios e aos que amam.

Aqui do meu lugar - porão de mim - te vi em silêncio,
Mesmo sem ser visto, notei a luz que do olhar me iluminou,
Sim, ali onde, de mim, só verás a sombra, se não souberes ver.

Porão é lugar secreto onde cozemos medos e tecemos poesias.
O medo é lugar comum para quem deseja o impossível.
O impossível é pão que se come em silêncio nos porões pouco iluminados da vida."

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

À Mestra Com Carinho




À Mestra Ivone Chagas Com Carinho,




cara Ivone,


hoje eu decidi brindar-te com um poema,

sim, um poema de amor escrito por mãos de meninos que sonham,


mas, amor dos amores que se vive nos castelos encantados,


onde a amizade é o lugar sagrado e seguro do segredo.


Hoje eu simplismente, decidi escrever-te,


só para dizer que a despeito do meu português ruim,


te desejo a felicidade num algodão-doce,


e que este seja o dia mais especial da tua vida.

Escrevo-te porque não saberia dizê-lo,


temo as palavras ditas, elas se perdem com o tempo,


prefiro mesmo as que podem se tornar cuneiformes,


versos cravados nas paredes de cavernas lúgubres.


Desse modo, escrever-te tornou-se um ato de alegria,

da mais pura alegria, da que é possível a um poeta,


quando quer dizer do que entende por verdadeiro, sincero.


Tua força pode-se notar quando falas,


pois falas do que te toca, e tocas quando falas.


A eternidade habita teu gestos e Jesus é o teu mote mais doce.


Mulher incansável na fé,


destila teu sonhos,


perdoa,


ama e ensina.

Deus te fez assim:


um verso para os que lêm uma melodia indelével."

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Coisas do Olhar




"O olhar debruçou no horizonte o seu desejo,
na velha cerca da estrada o vermelho das orquídias
que destilam o aroma ferido ao orvalho da noite.

O olhar verteu o céu de azul-anil sobre as montanhas,
peripércia de meninos que voam suspensos em balanços,
presos às jaqueiras nos quintais distantes.

O olhar dragou o chão que acolhe o grão,
onde os pardais se fartam de comer a sobra
do labor de ontem na lavoura de trigo e arroz.

O olhar se viu só,
enquanto a alma derramava aos borbotões
a lágrima que tangia a melodia da esperança.

O olhar farto do mundo,
farto de ver,
infarta quando o amor demora chegar."

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Cabana Distante



"Minha mente veleja mar aberto,
Minha alma se deixa levar por ventos brandos,
Enquanto as correntezas transportam meus sonhos
Para o outro lado do mundo.

O sol ilumina o caminho que os olhos desejam enxergar
A bússola posta na mão de quem ama,
Nada orienta,
Pois o destino que o coração deseja,
Mesmo os piratas,
Velhos e experientes não o sabem encontrar.

Meu corpo veleja solitário mar a dentro,
Enquanto meu espírito me transporta para além de mim,
Mundo encantado onde meu ser se acolhe,
Terra de ninguém,
Cabana distante onde o desejo esconde o amor ".

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Simplesmente Grão



"Hoje eu me sinto menor que um grão de areia,
Minha finitude me devora em silêncio,
E suas garras faz em mim crateras lunares,
Golpes fulminantes que me levam à lona.

Beijei o pó, enquanto percebia que eu era,
Apenas um momento ligeiro.

Notei-me insignificante ante às surpresas que esta vida traz,
Sinto-me como uma velha pá pendurada num celeiro de fazenda,
Onde a poeira esconde as marcas daquilo que já foi útil um dia,
Deixei o silêncio dominar meu mundo interior,
Enquanto ouvia ecos de um passado distante.

Nada nem ninguém podia ser mais importante que o torpor daquele instante.
As mãos formigando,
Os pés flutuando sobre um chão de vidro,
Enquanto minha boca sedenta,
Destilava a prece que a alimenta em tempos de vendavais e tormentas.

Joguei fora o medo e apeguei-me ao sabor da sua doce presença amando-me.
Tocar a finitude não é de tudo ruim mas,

Dá uma sensação de desterro.

Saber que tudo que você ama ficará para trás,
Não é pior que saber-se não amado,
Ou que ser deixado para trás,
Portanto, para mim, o tom da morte é o desamor.

Amar e ser amado é seu melhor antídoto.
A vida viaja ligeiro,

Navega impoluta nas águas do destino,
Poucos são os que não naufragaram nelas,
Até descobrir que a finitude é um dom,
Um privilégio,
Pois, o corpo viciado do mundo se cansa,
Faz da morte um parto para uma outra vida.

O além reserva o ignoto ao coração,
A fé arquiteta belas ruas e largas praças
Com janelas abertas para o paraíso,
Ali onde Deus é a plenitude,
Sim, onde nós somos mais do que meras coisas insignificantes,
Onde somos simplesmente grão".

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Perdão



"A mão que afaga a pele da criança foi traspassada,
Enquanto o peito sangrava a dor que o vento insistia em não levar.
Os pregos,
A lança,
A coroa de espinhos,
A cor do vermelho que escorria no olhos,
Trazia a lembrança do amor sincero dado gratuitamente.

Sangue, suor e lágrimas;
Nenhum gemido de protesto,
Nenhuma palavra blasfema,
Nenhuma revolta em forma de gesto,
Nada que lhe pudesse tirar a nobreza ou enrrugar a beleza.

Anos passados,
Pés feridos;
A tristeza veio a galope, voando rasteira,
Os melhores amigos se foram,
Porém, seu coração insistia em amar,
Seu assombro fez ruir a alegria,
Seu terror brandiu a espada nua e fria no colo do coração que amava;
Uma palavra,
O silêncio como pão comido no escuro,
A traição,
A morte,
Sua paga pelo bem que fez,
Sorte em ruínas.

A pele enrrugada desejando o toque de quem partiu,
O afeto esmigalhou-se,
O pote quebrou-se junto à fonte,
Solidão;
Uma canção se fez ouvir,
Cuja melodia vaga na saudade de dias passados, e, de casa,
O último olhar,
Um adeus em forma de olhar,
Um até breve,
Volte logo,
Todavia o semblante refletia a alma do que jazia ao pó.

Perdão,
A mais doces melodias cantadas de perto ou à distância,
Um afeto,
Um sorriso,
Um gesto que se eternizou,
A cruz deixada para trás,
O averso da luz,
Uma rua solitária,
Sepulcre que abriga a semente,
O Cristo se fez amor no olhar,
As chagas eram sua lembrança mais profunda da humanidade,
E de sua alma uma palavra não quiz calar:
PAI, PERDOA-LHES PORQUE NÃO SABEM O QUE FAZEM".

Impotência



"Uma ave pousou no fio do meu desejo,
A chuva caía sem dó sobre seu corpo frágil e friento,
Nunca se ouviu um canto mais tímido de uma ave tão bela,
Mas ela estava ali,
Imponente,
Mas, no peito trazia a solitude,
O medo de ser quimada pelos pés,
Como voar se as gotas doem nos olhos?
Sim,
Como voar se as asas feridas não encontram o afeto?
Pára,
Observa e verte uma lágrima misturada a gotas,
Ensaia dar seu último canto,
Mas seu peito doi, em suas recordações de verões passados,
Sim,
Pobre avezinha,
Impotentente,
Vê-se absorta pelo mundo cinza que cerca-a.
O que fazer?
Nada a fazer,
Apenas a esperar.

Esperar o sol,
Esperar a cura,
Esperar que outras aves rumem para o amanhã,
Abrindo as portas de mundos dourados.

Ali onde a saudade entorpece o coração,
E onde o forte se anula em dor, silêncio e esperança.

Lugar onde os heróis se sabem também impotentes,
Tragando a fumaça da incerteza,
Bebendo na taça de um amor ausente".

Tempo Que Passa


Cor do texto

"A vida que respiro agora me inspira à vida,
Novelo de cores vívidas, avelãs de desejos,
Sabor que envolve o palato do espírito,
Força que abrigo anelante na rudeza das horas.
O ar que respiro agora é vida em mim,
Pedaço de pão comido de ontem,
Taça partida na borda do olhar,
Vinho tragado no instante que passa,
O tempo é hostil, não espera a ninguém.

Eu espero,
Simplesmente espero o ignoto,
Somos reféns do tempo.

As horas insistem em dizer que somos nós que passamos e não o tempo,
Para dar lugar a outros corpos prisioneiros ao pêndulo do relógio".

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Mórbida Insônia



"Alguma coisa em mim está em ebulição,
não sei se o corpo, a alma ou o espírito,
parte de mim quer a quietude e a outra parte quer voar
sobre os arranha-céus da cidade.

A noite verte o licor de sua lisura e silêncio,
e ao meu redor, acordado como eu,
apenas alguns besouros boliçosos,
não dormem nem me servem de remédio para o sono que não vem.

Parte de mim quer ganhar o mundo que nunca conquistou,
a outra deseja ser conquistado por um mundo mais próximo,
tudo em mim é incerteza,
cálice amargo para quem deseja andar com as gaivotas;

Desejo ir, mas receio de que, indo e lá chgando, sinta falta daqui,
aqui não é bom sem a possíbilidade de sonhar com o outro lado,
mas, é certo que esta existência humana infinitamente irrrequieta,
deseja possuir uma plenitude que não lhe é possível.

Sinto o cheiro das manhãs, das massas e das maçãs,
da padaria que à essa hora fabrica o pão esperando estômagos insaciáveis,
sinto o cheiro do café da roça, feito no forno de lenha,
onde a fumaça embota a parede, enquanto os cães ladram na estrada.

Ouço a melodia dos galos mais próximos,
eles se despertam, enquanto despertam o mundo,
e eu, desperto, nem me dou conta que a alva deita sua luz,
enquanto, minhas mãos ansiosas trabalham os dedos nas teclas de um computador.

Gostaria de dizer palavras novas para Deus,
ensaiei um dedo de prosa, mas ele, já cansado das mesmas palavras,
compreende que o meu silêncio tornou-se minha oração mais pura,
meu gemido travestiu-se da nudez do corpo que clama sem palavras.

Se eu pudesse dizer o que sinto, ficaria feliz,
mas, tropeço na fala da oração que não sabe os verbos,
que num instante se faz atoleimada, muda e sem nexo,
pão dormido para estômago faminto.

Um ventilador inquieto acena de um lado para o outro,
um vento sem fragrância, fuzila o meu corpo,
anestesiado de uma noite sem sono, sozinho e sem luar,
onde o anseio por algo que não sabe nomear corre pelas artérias do pensamento.

Temo o dia de sol sem sol,
sinto o calor de uma batalha iminente,
algo me diz que não será em vão a peleja,
mas, a voz meiga do Espírito Deus me sossega a alma lembrando-me antigas batalhas.

O tempo passa e meu corpo sente o peso da noite,
clama, calma e cama,
o sono que não vem desperta o poeta,
adormece o menino e dá vez e voz ao sonhador.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Saudade



"O sol fechou suas cortinas douradas e,
o azul do céu deu lugar à negrura pálida da nostalgia;
senti o hálito do tempo baforar em minhas narinas seu aroma quente;
vi destilar em mim as lágrimas de dias que se foram,
tardes sombrias de sois brandos,

onde o vento levantava a poeira de onde saíam as meninas que corriam nas ruas,
sim, ali onde a malícia não atingia nosso olhar,
o olhar de meninos famintos por brinquedos manufaturados no fundo do quintal.

Embora, o dessejo forte da paixão já esquentasse o pão no fogão à lenha da história,
sim, ali onde crescíamos e não nos dávamos conta.

Sinto saudade de mim mesmo,
menino, frágil, desnudo, correndo ao léu,
pés descalço, ao tempo e ao vento,
um universo de sonhos na cabeça e no coração o mar de desejos.

Sinto saudade de ti, terra jamais vista,
porém, desejada como outros mares distantes.

O véu que quebra o olhar se fez notar na penumbra do sorriso,

que se fechou com a última janela,
nasceu a esperança de te encontrar,
sim, nasceu a saudade de um tempo florido,
de dias inocentes,
do teu amor,
do teu calor,
das flores de invernos,
de verões passados,
sim, parti com o último trem que partiu,
me vi absorto, recluso em minha individualidade,
e a única palavra que retumbava em meu peito era: esperança;
o objetto do desejo na terra da paixão,
sim, na terra da saudade,

onde mar e céu se fazem um só corpo".