terça-feira, 30 de março de 2010

Meus Poemas São Balões



Leveza é uma palavra que encanta-me toda vez que ouço.




Em torno de mim há coisas leves e pesadas,


Dentro de mim há muitas coisas.




Gosto das coisas leves que levam meu sofrimento para longe.


Admiro as coisas pelas quais deixo-me levar.




Tudo que é essencial é leve como bolhas de sabão.




O amor é leve,




O sorriso á leve,




A alegria é leve,





Os poemas são leves e a vida me leva.




Os poetas são possuidores de almas ígnias e, portanto, leves.





Eu gosto mesmo é de balões.



Estes sim, povoam meus sonhos!


Estes sim transportam meus medos!



Não me refiro àqueles que suportam coisas pesadas,




Antes, refiro-me aos que transportam a leveza dos sonhos infantis.




Gosto de balões porque voam. Eles simplesmente voam e carregam segredos,




E voando se entregam plenamente, enquanto são levados pelo vento.





Coloridos, os balões fazem as festas da felicidade.




Não sou fã de balões incendiários portadores da morte.




Tampouco dos que destroem casas e barracos de crianças nas ruas.




Gosto dos balões viçosos, sem fogo, voando por ai com suavidade.


aqueles que são cheios de vento, apenas isso: ar.




Flutuando entre prédios, ruas, praças e montanhas da cidade;




Revoando inopinados entre carros apressados que transportam pessoas ácidas.




Amo balões lançados ao vento bailando ternamente à luz do sol.






Os poetas possuem almas leves.


Acho que tenho alma de poeta embora meu corpo ainda resista à gravidade.



Como poeta devo ter uma alma leve.




O meu corpo não me impede de voar entre as estrelas.



Como menino, sobrevôo mundos.




Minha poesia é leve como balões que transportam sonhos encantados.




Meus sonhos são leves,




Minha esperança sobrevoa e transcende a mim mesmo.


Meu corpo não transcende.




Meus pensamentos insuflados pelo amor sobrevoam mundos.



Flutuo levemente absorto por ai enquanto escrevo poemas leves.




Meus poemas são balões cheios de amor, esperança e vida e portanto, leves.



A alma do poeta é leveza.


A minha alma é leve porque imagina.





Poesia é leveza, pois revela-me enquanto desvela minha alma.





Daqui da minha janela o vento leva-me na minha insustentável leveza de ser.




Moro num país chamado amor.




O meu nome está escrito num balão.




Hoje solto meus balões e dentro deles guardo os meus segredos,



Os quais vagam por ai entre arranha-céus.




Sou leveza que levemente leva a livre esperança em versos.




Meus poemas são balões que passeiam enquanto transportam sonhos.


Minha poesia é leve porque é chama.


Como poeta sou portador da leveza e de balões cheios de sonhos.


Meus versos flutuam porque são balões que colorem os céus da alma de alguém,


Enquanto minha alma cruza o oceano do meu ser finito.


Meus poemas são balões que levam minha alma para além do mar em mim.


Meus poemas são balões sobre os quais viajo à procura de mim mesmo.

sábado, 27 de março de 2010

Meus Dias De Sábados




Hoje é sábado e o dia amanheceu sereno.



Eu já vivi muitos sábados e muitas nostalgias adormeceram em mim.



Os sábados têm uma característica própria, parecem esconder o ritmo dos outros dias da semana.



As pessoas ficam mais calmas,



A cidade aquieta e a alma quer lazer, prazer e paz.



O trânsito nas ruas sossega-se e o coração mais livre respira o vento, o mar, a areia ou os lençóis da cama.



Eu amo ficar em casa. A minha casa.



As casas que não são minhas não casam.



Eu gosto dos sábados de pijamas, cremes de leite e suco de morangos.



Admito que uma chuva leve brinda o afeto e dá o ar de sua graça enquanto no sofá o corpo desliza a procura da melhor posição frente a TV.



Sou um homem citadino e por isso meus sábados seguem os sons que vêm das ruas: carros, vozeio de meninos, cães e até o gorjear de algumas aves que pousam ligeiro sobre as árvores.



As poucas que ainda resistem ao asfalto e à fumaça assassina. E sobre os fios uma família de sagüins passeia desconfiada.



Outros dias já me foram especiais: segundas, terças, quartas, quintas, sextas e domingos.



Mas o sabor do amor define o sabor do shabat.



Sábados sem amor, devoção e alegria são como chuva sem gotas. São granizos que ferem a cidade.



Quando não há amor os dias são pesados como chumbo.



Para onde vão as flores quando o sol e o amor não vêm?



Resta confessar que nem sempre os sábados foram dias admiráveis para mim. Tive sábados tristes e doridos.



Mas agora este se tornou para mim como uma pausa na partitura: um silêncio na melodia enquanto a alma dança ao som das chuvas.



Gosto dos sábados com músicas clássicas, silêncio e pizza: romanesca.



Deus descansou num sábado! Por isso o desenhou.



O que será que Ele sentiu?



Ele tomaria sorvete de morango?



Ouviria canções de amar?



Iria à matinê?



Andaria de mãos dadas?



Sorriria furtivamente só em pensar na beleza da vida?



Acho que sim. Deus é especialista em coisas simples e instantes eternos. Adão e Eva que o digam.



O meu shabat tem que ser edênico.



Tem que ser um passeio com o Criador no Paraíso.



Tem que ser uma caminhada no jardim na viração do dia ou será um tormento.



Ah! Que saudade da minha infância.



Os meus sábados chegam ao fim com o fechar das cortinas da névoa que o dia traz.



O sol se despede e a noite deita seu véu sobre o meu olhar.



Burca minha de onde avisto a candura da face de Deus.



Para onde os olhos olham se o coração não quer enxergar?



Para onde voltar o olhar se os olhos vêm a alegria despedir-se faceira?



Os sábados são assim, a gente sente o peso das horas e logo vem a neblina.



Depois que sacralizaram o domingo, o sábado dessacralizou-se para alguns e com o tempo a poeira pesou sobre seu manto.



Demonizaram o calendário e o homem envileceu a beleza do amor.



Sextas, sábados e domingos são dias que dividem nações, corações, religiões e esperanças. Meras crendices.



Eu vou reinventando os meus dias por aqui.



O meu shabat é feito de alegria, fé, ternura, bondade, família e simplicidade.



Hoje é sábado e eu sou da nação do amor, pertenço à etnia do respeito e habito o país da cordialidade.



Eu quero um dia em que meu corpo e minha alma descansem.



Estou cansado dessas tolas teorias de homens que pensam que sabem sobre Deus.



A religião é uma desgraça. Ela cansa.



Eu gosto mesmo é da expressão: “vinde a mim todos os que estais cansados e oprimidos e eu vos aliviarei”.



Esse é o sábado que eu prefiro. Aquele que nos remete ao verdadeiro sentido do amor.



O homem não foi feito por causa do sábado, mas este para o homem.



Amanhã é domingo. E daí? Se não houver amor de nada valerá!

sexta-feira, 26 de março de 2010

Poemas E Formas




As cidades se repetem e nós nos repartimos nas formas das ruas.



Repetimo-nos na ânsia de fazer a vida diferente. Ledo engano!



Repetimo-nos, repartimo-nos e não respeitamo-nos.



Somos quase todos moradores da rotina e da mesmice.



Habitamos a avenida das mesmas coisas: pontes, shoppings, condomínios e praças.



Somos todos cidadãos que habitam em pequenos e grandes caixotes.



O tipo e o tamanho destes são determinados pelo poder aquisitivo dos corpos quadriláteros.



Não é isso que as coisas, casas e os apartamentos são?

As formas refletem o homem e este às formas.



Os mais pobres se aquecem nas ruas com as caixas de papelão nos quadrantes dos mais ricos.



Quem disse que dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar no espaço?

E assim, se dá a famigerada luta por espaços nas cidades: cada um no seu quadrado.



No espaço e entre espaços, as cidades e os homens se repetem.



O mundo meu senhor, para alguns, é feito de cimento, ferro, bloco e argila,

Mas para outros, é feito de vento, poeira e evas amargas.



A nossa alma é feita de fagulhas e mora num mundo quadrado e ígnio.



Todos nós estamos cercados de formas geométricas.

Pensamos a vida, o tempo e o mundo geometricamente.



O sol, os olhos, a lua, a terra e o universo são esféricos.

A prisão, o andor, o carrinho de pipocas e a tumba são formas.


O amor é quadrado e habita as almas esféricas que habitam corpos quadrados e redondos.




A morte é cúbica.

O silêncio é linear.



A vida é aquilo que se dá em círculos.



A dor meu senhor é hexagonal.



A ternura é apenas um ponto de afeto entre duas pessoas que se amam no tempo e no espaço.



Eu, daqui do meu lugar, vejo em prismas o ocorre ao meu redor.



Meu mundo é polígono, meu sentimento cilíndrico.



Eu acho que o metafísico é triangular juntamente com a poesia.



Os poemas se dão em paralelogramas, enquanto, minha vida se dá em trapézio.



Os poetas são meras linhas retas que ganham sinuosidade à medida que pontuam seus amores e suas dores.



E eu? Eu sou como as pipas! Vôo por ai a procura de ar, vento, sol, mar e alturas.



A forma geométrica das pipas chama-se rombo, mas as pipas, em si são formas de amor que preenchem os rombos de uma alma que deseja cura das feridas que o tempo fez.



A esperança é como um cone que baliza a vida, posto na estrada demarcando para o ser o caminho para a felicidade.



O poder é pentágono, suas pontas perfuram o medo e o modo de ser dos homens.

A minha alma de poeta é líquida, ela perfaz as formas e transita livre, leve e solta entre as cores, os versos e as flores.


terça-feira, 23 de março de 2010

E O Menino Caminha ...




E o menino caminha e caminhando chega no mundo.


O mundo é um lugar para o qual olhos e pés que se sabem distantes desejam ir.


E o menino caminha sobre trilhos que rumam para velhas estações.




Equilibra-se de braços abertos enquanto a alma adeja,




Olhos e pés fitos sobre a malha férrea,




Trilha tortuosa que o capim esconde entre muros.



O menino não sabe que o trem deixou de passar por ali já há muito.



O apito de outrora ainda ecoa na escuta da saudade.



O trem vara as estações: primavera, verão, outono e inverno.



Na igrejinha o sino brande sua espada onde a fé arqueja cedo.



Onde dará a curva dessa estrada?



O futuro é uma esquina logo ali.



O menino simplesmente não sabe.



O menino nada sabe.



Sinto-me caminhando sobre trilhos que perfuram trilhas.




As trilhas que desejo não são as mesmas que tenho diante dos meus olhos.



O meu olhar deseja muito mais que meras estações.



As águas de março embelezam a moldura do dia e minha



vida como mourão que cerca o roçado se faz silêncio.

Ando absorto por ai.



Não sinto as horas e pequenas atividades já não me apetecem.



Fujo de tudo que se chama tédio.



Hoje o meu nome é: espera.




Sou para mim mesmo um hiato.



Quem entenderia o meu sentimento? Foraclusão.




Prefiro calar-me, visto que não sei nem definir o que sinto.




Quem sou eu? Acho que...



O que desejo? Deixa-me ver...



Não sei. Até tentei dizer.



E o menino caminha e caminhando chega.




Aonde? Não sei. Em algum lugar que seja melhor que o agora.

segunda-feira, 15 de março de 2010

Estações De Mim




A primavera estava ali, sendo gerada no silêncio do inverno.

Os invernos são assim, parem primaveras de flora alegre e viçosas.

Os invernos meus, de igual modo, fazem a parturição de mim mesmo.

Ressurjo de minha gélida estação como a fênix no deserto.

Sou feito feto no afeto de Deus nas raízes de dias frios.

Minha face pálida abre-se para o amor como uma flor nas montanhas.

Relevos de mim que revelam a dor velada no silêncio.

Vela acesa na escuridão de noites sem luares.

O rio passa silente enquanto escorrega para o mar além.

Os dias escorregam calados como meninos solitários.

E eu correndo atrás das pipas no ar me solto absorto por ai.

Voltar para casa me alegra a alma.

O lar é sempre um lugar de abrigo.

É onde os guerreiros saram as feridas enquanto restauram a alma.

Daqui do meu lugar vou indo devagar para onde Deus quiser.

As ruas são as mesmas nas cidades que se repetem.

Repete-se o homem na rotina de dias que passam lentos.

Reinvento-me enquanto mudanças acontecem na face do tempo.

quarta-feira, 3 de março de 2010

Xeque Mate!



Portugal Verão de 2010.


O jogo está jogado, retroceder não dá mais.

Dados postos sobre o tabuleiro da existência.

Como esquecer as coisas se a mente não faz mais nada além de arquivar imagens?

Como olvidar as coisas se o vivido dói e o amor se faz abismo?

A vida é mesmo assim: um conto ligeiro.

Somos todos peças de um xadrez imaginário,

Onde peões se esmurram por uma sobrevivência inócua.


As torres se elevam em palácios alheios,

Refrega de ignóbeis vestidos de príncipes.

Com o tempo a gente descobre que há mais dignidade entre os plebeus que na realeza.

Enquanto os cavalos correm soltos por ai sorvendo o vento,

O estamento chafurda na lama e o bobo da corte leva a culpa pela alegria que não


vem.

Quem tem culpa de o bobo não ser o bobo, mas o rei.

O bobo ri-se de si mesmo e de seu trágico destino:


Alegrar quem não merece a beleza e a alegria faceira da vida.


A rainha continua ali inopinada e inútil, firme,

Mas sem luz no olhar: um olhar abissal.


O rei? Este sim! Impáfia feita gente.



Apenas não enxerga a verdade de que no tabuleiro


Todos se esforçam para protegê-lo enquanto perdem suas vidas e tempo.

A coroa às vezes distrai e engana quem a possui.


“Mente quem diz que a vida é bela”, cantou o poeta.

No xadrez meu senhor, quem se sai melhor é o bispo.


Este sim existe para transversalizar-se na desgraça alheia.

Viez de mim na angústia não sarada de passados vívidos.



Xeque Mate!


Hoje mora em mim a indecisão e a cisão.


E cindido escrevo meus versos na areia: escrita que o mar apaga..

Para onde irei depois das chuvas?

Não sei dizer! Nada sei dizer sobre o futuro ou sobre as chuvas!

Eu queria diluir-me e sair por ai em silêncio



E invisível como água que passa sem sequer ser notada.


Sinto que a única realidade que me faz enxergar o sentido das coisas

É a certeza de que Deus é amor.

O amor! Esse tem muitas faces, mas se esconde por ai longe do olhar pueril.


O frio na espinha me faz lembrar que Deus não joga dados


Tampouco xadrez com bispos, rainha e rei.

Deus, meu senhor, é amigo de bobos e peões.


Ele como no passado, não se impressiona com as torres erigidas na Babel dos homens de hoje.


Se eu estou feliz?

Sim. Porque devolvi o sorriso a um amigo e passei azeite em suas feridas abertas.

Mas, ainda quero enxugar-lhe as manchas das lágrimas


Deixadas na face, vertidas no escuro do abandono.


Eu cresci ouvindo dizer que homens não choram.


Choro porque não sou homem?

Não. Choro porque tenho alma de anjo em corpo de menino.

Meninos choram sem culpas.


Minha alma chora porque se sabe pequena e só.


É que a Páscoa vem ai e o cordeiro será devorado com ervas amargas.

Perdão sempre dado no altar da sinceridade do coração que não guarda mágoas!

Mágoas? Águas passadas em ribeiros de lágrimas.


Ódio contido em odres novos, para que não se perca o amor nem se derrame o vinho.


Vinho da vinha da esperança nas adegas do tempo.


O poeta embriaga-se nos versos que sangra, enquanto o sangue destila a saudade,


E os pés, ébrios, feito pena de tinteiro vazio do paço real que pixa os muros das cidades.


Se eu estou triste?

Não tenho tempo para isso! Tristeza é pão que alimenta os poetas.

Pão nosso de cada dia comido na pressa dos deuses.

Eu quero mesmo é ser um saltimbanco!

Quero dar um xeque mate na tibieza do meu ser hiato.

Findo esse poema amando


Ao Único Ser que me totaliza nessa mera quimera de instante:

DEUS.

terça-feira, 2 de março de 2010

Doce Ilusão



A Gramática esvazia-se ante o meu ser nauseabundo.

Mundo de cefaléias impermeáveis,

Gotas de chafariz dourados com respingos de prata em praças de pedras.


A aurora eclode onde o olhar ansioso asna vagabundo.

O Burro-falante é mais felizardo quando cala-se.

O alto-falante cala a voz do mercador na feira.


A fera descansa vencida na jaula das emoções.

A taça de cristal quebrou-se e a fúria que vinha da escuridão era pífia e passou.

O sol sequer deu as caras para essas bandas.


Mundo, vasto mundo.

Fundo de mim que vago absorto num navio negreiro.
Profundo da alma no fundo do pote.
Ao fundo do abismo,
No fundo do poço.
Um eterno sem fim.
Mundo estrito mundo.
Restrito, como restrita é a prece do injustiçado.

Oferta de paz em altares fendidos.


A Gramática continua ofendida,

E o poeta apenas diz o que o coração embriagado de veneno destila,

verte o que os olhos grávidos de absinto exalam.


O verbo se fez carne na poesia,

e a palavra se fez corpo andando por ai no frio de ruas gélidas.

Mas, quanto a mim, sou apenas uma doce ilusão no jogo sórdido dos abutres,


Destraio-me enquanto corro atrás do vento: mera aflição de espírito.