terça-feira, 2 de março de 2010

Doce Ilusão



A Gramática esvazia-se ante o meu ser nauseabundo.

Mundo de cefaléias impermeáveis,

Gotas de chafariz dourados com respingos de prata em praças de pedras.


A aurora eclode onde o olhar ansioso asna vagabundo.

O Burro-falante é mais felizardo quando cala-se.

O alto-falante cala a voz do mercador na feira.


A fera descansa vencida na jaula das emoções.

A taça de cristal quebrou-se e a fúria que vinha da escuridão era pífia e passou.

O sol sequer deu as caras para essas bandas.


Mundo, vasto mundo.

Fundo de mim que vago absorto num navio negreiro.
Profundo da alma no fundo do pote.
Ao fundo do abismo,
No fundo do poço.
Um eterno sem fim.
Mundo estrito mundo.
Restrito, como restrita é a prece do injustiçado.

Oferta de paz em altares fendidos.


A Gramática continua ofendida,

E o poeta apenas diz o que o coração embriagado de veneno destila,

verte o que os olhos grávidos de absinto exalam.


O verbo se fez carne na poesia,

e a palavra se fez corpo andando por ai no frio de ruas gélidas.

Mas, quanto a mim, sou apenas uma doce ilusão no jogo sórdido dos abutres,


Destraio-me enquanto corro atrás do vento: mera aflição de espírito.

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