Hoje é sábado e o dia amanheceu sereno.
Eu já vivi muitos sábados e muitas nostalgias adormeceram em mim.
Os sábados têm uma característica própria, parecem esconder o ritmo dos outros dias da semana.
As pessoas ficam mais calmas,
A cidade aquieta e a alma quer lazer, prazer e paz.
O trânsito nas ruas sossega-se e o coração mais livre respira o vento, o mar, a areia ou os lençóis da cama.
Eu amo ficar em casa. A minha casa.
As casas que não são minhas não casam.
Eu gosto dos sábados de pijamas, cremes de leite e suco de morangos.
Admito que uma chuva leve brinda o afeto e dá o ar de sua graça enquanto no sofá o corpo desliza a procura da melhor posição frente a TV.
Sou um homem citadino e por isso meus sábados seguem os sons que vêm das ruas: carros, vozeio de meninos, cães e até o gorjear de algumas aves que pousam ligeiro sobre as árvores.
As poucas que ainda resistem ao asfalto e à fumaça assassina. E sobre os fios uma família de sagüins passeia desconfiada.
Outros dias já me foram especiais: segundas, terças, quartas, quintas, sextas e domingos.
Mas o sabor do amor define o sabor do shabat.
Sábados sem amor, devoção e alegria são como chuva sem gotas. São granizos que ferem a cidade.
Quando não há amor os dias são pesados como chumbo.
Para onde vão as flores quando o sol e o amor não vêm?
Resta confessar que nem sempre os sábados foram dias admiráveis para mim. Tive sábados tristes e doridos.
Mas agora este se tornou para mim como uma pausa na partitura: um silêncio na melodia enquanto a alma dança ao som das chuvas.
Gosto dos sábados com músicas clássicas, silêncio e pizza: romanesca.
Deus descansou num sábado! Por isso o desenhou.
O que será que Ele sentiu?
Ele tomaria sorvete de morango?
Ouviria canções de amar?
Iria à matinê?
Andaria de mãos dadas?
Sorriria furtivamente só em pensar na beleza da vida?
Acho que sim. Deus é especialista em coisas simples e instantes eternos. Adão e Eva que o digam.
O meu shabat tem que ser edênico.
Tem que ser um passeio com o Criador no Paraíso.
Tem que ser uma caminhada no jardim na viração do dia ou será um tormento.
Ah! Que saudade da minha infância.
Os meus sábados chegam ao fim com o fechar das cortinas da névoa que o dia traz.
O sol se despede e a noite deita seu véu sobre o meu olhar.
Burca minha de onde avisto a candura da face de Deus.
Para onde os olhos olham se o coração não quer enxergar?
Para onde voltar o olhar se os olhos vêm a alegria despedir-se faceira?
Os sábados são assim, a gente sente o peso das horas e logo vem a neblina.
Depois que sacralizaram o domingo, o sábado dessacralizou-se para alguns e com o tempo a poeira pesou sobre seu manto.
Demonizaram o calendário e o homem envileceu a beleza do amor.
Sextas, sábados e domingos são dias que dividem nações, corações, religiões e esperanças. Meras crendices.
Eu vou reinventando os meus dias por aqui.
O meu shabat é feito de alegria, fé, ternura, bondade, família e simplicidade.
Hoje é sábado e eu sou da nação do amor, pertenço à etnia do respeito e habito o país da cordialidade.
Eu quero um dia em que meu corpo e minha alma descansem.
Estou cansado dessas tolas teorias de homens que pensam que sabem sobre Deus.
A religião é uma desgraça. Ela cansa.
Eu gosto mesmo é da expressão: “vinde a mim todos os que estais cansados e oprimidos e eu vos aliviarei”.
Esse é o sábado que eu prefiro. Aquele que nos remete ao verdadeiro sentido do amor.
O homem não foi feito por causa do sábado, mas este para o homem.
Amanhã é domingo. E daí? Se não houver amor de nada valerá!
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