sexta-feira, 26 de março de 2010

Poemas E Formas




As cidades se repetem e nós nos repartimos nas formas das ruas.



Repetimo-nos na ânsia de fazer a vida diferente. Ledo engano!



Repetimo-nos, repartimo-nos e não respeitamo-nos.



Somos quase todos moradores da rotina e da mesmice.



Habitamos a avenida das mesmas coisas: pontes, shoppings, condomínios e praças.



Somos todos cidadãos que habitam em pequenos e grandes caixotes.



O tipo e o tamanho destes são determinados pelo poder aquisitivo dos corpos quadriláteros.



Não é isso que as coisas, casas e os apartamentos são?

As formas refletem o homem e este às formas.



Os mais pobres se aquecem nas ruas com as caixas de papelão nos quadrantes dos mais ricos.



Quem disse que dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar no espaço?

E assim, se dá a famigerada luta por espaços nas cidades: cada um no seu quadrado.



No espaço e entre espaços, as cidades e os homens se repetem.



O mundo meu senhor, para alguns, é feito de cimento, ferro, bloco e argila,

Mas para outros, é feito de vento, poeira e evas amargas.



A nossa alma é feita de fagulhas e mora num mundo quadrado e ígnio.



Todos nós estamos cercados de formas geométricas.

Pensamos a vida, o tempo e o mundo geometricamente.



O sol, os olhos, a lua, a terra e o universo são esféricos.

A prisão, o andor, o carrinho de pipocas e a tumba são formas.


O amor é quadrado e habita as almas esféricas que habitam corpos quadrados e redondos.




A morte é cúbica.

O silêncio é linear.



A vida é aquilo que se dá em círculos.



A dor meu senhor é hexagonal.



A ternura é apenas um ponto de afeto entre duas pessoas que se amam no tempo e no espaço.



Eu, daqui do meu lugar, vejo em prismas o ocorre ao meu redor.



Meu mundo é polígono, meu sentimento cilíndrico.



Eu acho que o metafísico é triangular juntamente com a poesia.



Os poemas se dão em paralelogramas, enquanto, minha vida se dá em trapézio.



Os poetas são meras linhas retas que ganham sinuosidade à medida que pontuam seus amores e suas dores.



E eu? Eu sou como as pipas! Vôo por ai a procura de ar, vento, sol, mar e alturas.



A forma geométrica das pipas chama-se rombo, mas as pipas, em si são formas de amor que preenchem os rombos de uma alma que deseja cura das feridas que o tempo fez.



A esperança é como um cone que baliza a vida, posto na estrada demarcando para o ser o caminho para a felicidade.



O poder é pentágono, suas pontas perfuram o medo e o modo de ser dos homens.

A minha alma de poeta é líquida, ela perfaz as formas e transita livre, leve e solta entre as cores, os versos e as flores.


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