sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Medo do Escuro - Feira de Santana Outono 2008


"A poesia que teimava em esconder-se, deu à luz a palavra.
Versa em mim o medo de dizer o que o coração quer calar;
a luz do fim do túnel deixou de ser do túnel o fim;
minha alma nem sabe se ainda existe em meio a tantas pedras,
na rua escura da saudade que acolhe a luz solitária de postes molhados da chuva;
e eu, com o meu olhar sem norte, percorro a penumbra sem nada avistar.

Da escuridão nasce a luz. Os vagalumes não se cansam de fazer-se notar.
Vidrado e absorto, meu corpo nada diz, sequer sabe-se corpo;
sou do silêncio o sino e do medo o badalo.
Abalo de mim que nota-se na respiração.

Medo do futuro; do nada; de desdizer o antes dito com tanta firmeza.
As verdades de ontem são objeto de risos hoje;
o que será das certezas de hoje no amanhã?
Temo um mundo sem fé, sem cruz e sem amor,
temo um paraíso sem Cristo, túmulos sem ressurreição;

Temo a banalização da vida e a religião sem sinceridade do presente.
Temo o cinismo que cresce em larga escala nos antes amantes de Deus.
Temo o despido da pureza, pois nos altares os cordeiros ainda morrem,
e os sacrifícios de muitos locupletam a poucos.

Os profetas morreram e o que restou foi um arremedo de videntes.
As ruas outrora iluminadas estão sem luzes, e Deus, é objeto apenas do discurso de quem planta o futuro a seu bel prazer transportando as lanternas.
Deus? Continua transcendente nos templos do capitalismo,
mas, imanente onde a hegemonia de Mamon não deu sua cara, nos lugares onde os cordeiros berram entre abismos, onde os lobos não vêem, nem uivam.
Sinto saudade dos meus pais na fé.


Eu mesmo estou a perguntar-me: onde estou na história? Que rua escura é esta?
Que mar/ que charco? Que pena!
Deus se podes ouvir minha prece, diga-me!
O que faremos com a lâmpada que está debaixo do velador?".

Nenhum comentário: