sexta-feira, 28 de novembro de 2008

O Amor é Sulco



"As manhãs são belas, as noites me encantam porque silentes,
as aves se aninham nos galhos de árvores nos pastos e quintais da vida,
o gado muge seu desejo contido,
rumina o homem que lê sua história,
mémorias do cárcere da existência.
O grão faz-se quebrar no silêncio,
o sulco da terra distingue as sementes,
águas que rolam para o fundo daquilo que os olhos não veem,
ali onde a vida simplesmente brota longe do olhar,
onde o amor sabe-se planta que viceja incerta,
de corações também incertos.
O amor é sulco que molha o desejo.
Ave de rapina é o ódio,
leva para longe o fruto da terra,
destrói a presa, enquanto grata a devora o corpo,
lenha que consome o afeto, apaga a beleza e,
fragmenta o pão partido entre nós,
mera avidez, tortura penitente, realidade macabra.
Bom mesmo é amar,
se dar, se doar ao tempo e ao vento,
viver e ver a luz que nasce do sol,
fogo que ascende a alegria,
que une sonhos,
faz caminhar na relva segurando as mãos que se afagam,
ali onde meninos nascem, a vida acontece e o amor é a mais profusa realidade".

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