Eu arrodeio o tempo entrando nas curvas do vento.
Os cabelos do vento são longos e lisos, deslizam sutis.
Seu coração bate forte, mesmo quando sorri sua brisa.
O vento é arredio. É indomável!
Vento é rih e é rir: zomba de tudo que subestima a sua liberdade.
Não se aprisiona, tampouco se deixa aprisionar.
É livre; é o que não pode ser detido por ninguém.
Sopra onde, como e sobre quem quiser.
A lágrima do vento é quente e seu hálito é suave e aromático.
O pranto do vento é uivante.
O seu olhar é transparente como o tom da sua pele.
O vento é uma ave que voa lépida por ai.
Nas suas asas voam os meus sonhos pelas fendas do tempo.
O vento levanta a poeira quando quer brincar e se fazer menino.
Sem juízo, invade as ruas abrindo portas e janelas, bailando a valsa do amor.
O poeta sagrado entendendo isso disse:
“O vento vai para o sul, e faz o seu giro vai para o norte; volve-se e revolve-se na sua carreira, e retoma os seus circuitos”.
Correr com o vento é tudo que desejo; brincar, sorrir nos respingos da chuva.
Quero fazer barquinhos de papel e na enchorrada do tempo, apensas seguir com o olhar e asas nos pés.
Vaidade de vaidades, tudo é vaidade! Disse o pregador.
“Ventania” é o nome das certezas desta civilização ocidental.
No oriente os ventos são outros, não menos ilusórios.
Lya Luft tinha razão: “Até no luto temos de assumir novas posturas: sofrer vai ficando fora de moda”.
O poeta do saber arejando-se e tentando aventar a verdade de tudo disse:
“Do riso disse: Está doido; e da alegria: De que serve estar.
Busquei no meu coração como estimular com vinho...
Fiz para mim obras magníficas: edifiquei casas, plantei vinhas;
Fiz hortas e jardins, e plantei neles árvores frutíferas de todas as espécies.
Fiz tanques de águas, para deles, regar o bosque em que reverdeciam as
árvores.
Comprei servos e servas... Também tive grandes possessões de gados e de
rebanhos...
Ajuntei também para mim prata e ouro, e tesouros dos reis ...
Provi-me de cantores e cantoras, e das delícias dos filhos dos homens.
Assim me engrandeci, e me tornei mais rico do que todos os que houve antes
de mim...
E tudo quanto desejaram os meus olhos não lho neguei, nem privei o meu
coração de alegria alguma...
Então olhei eu para todas as obras que as minhas mãos haviam feito...
E eis que tudo era vaidade (correr atrás do vento, fumaça) e desejo vão, e
proveito nenhum havia debaixo do sol.
Não há nada melhor para o homem do que comer e beber, e fazer que a sua alma goze do bem do seu trabalho.
Vi que também isso vem da mão de Deus”.
Vivo no meio de uma geração que corre atrás do vento e diz que não.
Os poetas são verdadeiros, pois assumem realmente a vocação humana.
Os poetas são como os profetas, sonham no mundo com a possibilidade de novos e inimagináveis mundos.
“O “ter de” nos faz correr por aí com algemas nos tornozelos, mas talvez a
gente só quisesse ser um pouco mais tranquilo, mais enraizado, mais amado, com algum tempo para curtir as coisas pequenas e refletir”, disse Lya Luft.
Sou carpinteiro de mim mesmo já não corto mais minhas árvores.
Preservo as raízes fincadas ao chão da esperança do porvir.
O veredito do tempo é este: tudo é feito de vento!
Às vezes, a vida é vento menino que brinca e nos leva leves por ai.
Fumaça! É o que as certezas são!
Aflição de espírito! O melhor das invenções políticas.
Correr atrás do vento! É o que São as religiões.
Eu, sem torpor algum, me defino como o “filho do Vento”.
O vento sabe ser brando quando o mundo é quietude.
Ao menos, assim, eu não alimento a doce ilusão de que a realidade seja alguma coisa em que deva me apegar no naufrágio do da minha existência.
Carpe Diem! Colham as rosas, pois o tempo também é vento.
Poema de Robério Jesus.
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