domingo, 26 de fevereiro de 2012

Rih {"Vento" em árabe}


Eu arrodeio o tempo entrando nas curvas do vento.

Os cabelos do vento são longos e lisos, deslizam sutis.

Seu coração bate forte, mesmo quando sorri sua brisa.

O vento é arredio. É indomável!

Vento é rih e é rir: zomba de tudo que subestima a sua liberdade.

Não se aprisiona, tampouco se deixa aprisionar.

É livre; é o que não pode ser detido por ninguém.

Sopra onde, como e sobre quem quiser.

A lágrima do vento é quente e seu hálito é suave e aromático.

O pranto do vento é uivante.

O seu olhar é transparente como o tom da sua pele.

O vento é uma ave que voa lépida por ai.

Nas suas asas voam os meus sonhos pelas fendas do tempo.

O vento levanta a poeira quando quer brincar e se fazer menino.

Sem juízo, invade as ruas abrindo portas e janelas, bailando a valsa do amor.

O poeta sagrado entendendo isso disse:

“O vento vai para o sul, e faz o seu giro vai para o norte; volve-se e revolve-se na sua carreira, e retoma os seus circuitos”.

Correr com o vento é tudo que desejo; brincar, sorrir nos respingos da chuva.

Quero fazer barquinhos de papel e na enchorrada do tempo, apensas seguir com o olhar e asas nos pés.

Vaidade de vaidades, tudo é vaidade! Disse o pregador.

“Ventania” é o nome das certezas desta civilização ocidental.

No oriente os ventos são outros, não menos ilusórios.

Lya Luft tinha razão: “Até no luto temos de assumir novas posturas: sofrer vai ficando fora de moda”.

O poeta do saber arejando-se e tentando aventar a verdade de tudo disse:

“Do riso disse: Está doido; e da alegria: De que serve estar.

Busquei no meu coração como estimular com vinho...

Fiz para mim obras magníficas: edifiquei casas, plantei vinhas;

Fiz hortas e jardins, e plantei neles árvores frutíferas de todas as espécies.

Fiz tanques de águas, para deles, regar o bosque em que reverdeciam as

árvores.

Comprei servos e servas... Também tive grandes possessões de gados e de

rebanhos...

Ajuntei também para mim prata e ouro, e tesouros dos reis ...

Provi-me de cantores e cantoras, e das delícias dos filhos dos homens.

Assim me engrandeci, e me tornei mais rico do que todos os que houve antes

de mim...

E tudo quanto desejaram os meus olhos não lho neguei, nem privei o meu

coração de alegria alguma...

Então olhei eu para todas as obras que as minhas mãos haviam feito...

E eis que tudo era vaidade (correr atrás do vento, fumaça) e desejo vão, e

proveito nenhum havia debaixo do sol.

Não há nada melhor para o homem do que comer e beber, e fazer que a sua alma goze do bem do seu trabalho.

Vi que também isso vem da mão de Deus”.

Vivo no meio de uma geração que corre atrás do vento e diz que não.

Os poetas são verdadeiros, pois assumem realmente a vocação humana.

Os poetas são como os profetas, sonham no mundo com a possibilidade de novos e inimagináveis mundos.

“O “ter de” nos faz correr por aí com algemas nos tornozelos, mas talvez a

gente só quisesse ser um pouco mais tranquilo, mais enraizado, mais amado, com algum tempo para curtir as coisas pequenas e refletir”, disse Lya Luft.

Sou carpinteiro de mim mesmo já não corto mais minhas árvores.

Preservo as raízes fincadas ao chão da esperança do porvir. 

O veredito do tempo é este: tudo é feito de vento!

Às vezes, a vida é vento menino que brinca e nos leva leves por ai.

Fumaça! É o que as certezas são!

Aflição de espírito! O melhor das invenções políticas.

Correr atrás do vento! É o que São as religiões.

Eu, sem torpor algum, me defino como o “filho do Vento”.

O vento sabe ser brando quando o mundo é quietude.

Ao menos, assim, eu não alimento a doce ilusão de que a realidade seja alguma coisa em que deva me apegar no naufrágio do da minha existência. 

Carpe Diem! Colham as rosas, pois o tempo também é vento.


Poema de Robério Jesus.

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