quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Indiferença Sutil!



Foi assim que um amigo expressou a maneira de como imagina que Deus vê:
“Numa noite escura, numa pedra escura, uma formiga escura, Deus vê”.
Com essa frase, ele foi dardejando a sua fé em Deus e a certeza de ser notado.
Eu já andei na noite escura, sobre pedra e ponte escuras como uma formiga, escura e no escuro.
Viajei pelo mundo sem saber ou sentir que estava sendo notado.
Falo das viagens que se faz com a alma, quando e onde o corpo não pode ir.
Eu sempre quis tocar a beleza.
Para ver a beleza é necessário ter uma alma leve.
Viver num mundo a parte, sentir a fragrância de poemas flagrantes.
Refiro-me ao mundo que vivem as crianças quando velejam no tempo.  
Quando criança pobre, nas ruas, eu não me importava com essas coisas de leis, governos ou crises econômicas.
As crises são coisas dos adultos.
Acho que o mundo seria melhor se fosse governado pelas crianças.
Haveria mais amor, verdade e menos corrupção e morte.
As crianças apenas vivem.
Se elas choram, choram por razões outras e não as político-econômicas.
A gente aprende a sobreviver com o simples.
A gente aprende a viver em silêncio.
A gente aprende!
Se há amor, então há todas as razões para a felicidade.
Se não há amor, nascem os ladrões, os perversos e os religiosos.
A religião eclode do amor rompido.
É a necessidade de ligar o que se rompeu um dia.
Sem ver televisão, ouvir o rádio, ler o jornal ou as últimas notícias, a vida segue o seu curso.
A simplicidade da vida é tão imensa que a gente vai vivendo, a gente vai levando!
A gente vai vivendo os pedacinhos de vida e tempo que Deus permite.
É quando viver se torna a demora de quem monta um quebra-cabeça: a gente junta as peças aos pedacinhos, de força em força, sem pressa. 
A gente nem se dá conta de uma crise mundial.
Globalizam uma crise que se resume na solidão do gabinete de um só homem.
O que pensa quando está só?
Eu quero ser criança. Isso mesmo que você leu!
Criança na alma e na vida; pura inocência!
Transportar um coração e um viver sem culpas.
Religiões são desnecessárias quando se tem uma consciência em paz com Deus, consigo mesmo e com os outros.
E assim, vai-se vivendo!
Vai-se levando! Eu quero me sabotar no saber.
Quero fingir esquecimento. Esquecer!
Quero uma sutil indiferença para as coisas que anseiam a maioria.
Eu quero a quietude, o amor, o mar, o amanhecer sob a neblina e o sol.
O florescer da estrada onde aves rumam em V para o horizonte.
Não é assim que vivem os nossos muitos irmãos nos interiores, pelo mundo afora?
Eu só sou um poeta, um simples poeta!
O meu dever é guardar a beleza. Descrevê-la como a uma pintura na tela.
Como guardião da beleza eu caminho entre as flores que nascem pelo caminho.
Eu trago tatuados em mim, o tempo, o amor e os sonhos.
O vento da tarde sopra o meu alento com seu hálito esvoaçante.
Quero aprender a ouvir o silêncio.
Como descreve a ternura, eu quero “sentir infinitamente”.

Poema de Robério Jesus.


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