quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

À Luz da Escuridão!





A fraca luz do candeeiro ilumina a minha face vencida pelos anos.

As rugas perfazem estradas em que os meus sonhos percorreram rosto afora.

De onde venho há sequidão e para onde vou a primavera chega comigo.

O viver é triste se não há flores no caminho.

Sigo por estradas de pedras, veredas de areia e pó.

Respirar a poeira é próprio de quem anda por ai.

Tudo é poeira! Da poeira viemos e pra ela tornamos.

Seu Leôncio dorme no oitão, na rede sossegada feita um útero.

Dona Amélia passa o café num velho bule posto sobre um fogão de lenha.

O aroma agreste misturado com a fumaça encanta os olhos.

Velhos corpos entre velhos sonhos de seguir por velhos rumos.

O assoprar do vento move a luz e as sombras na parede dançam.

Um cão late no terreiro! Se sente só, mesmo não estando só.

Nada além de um cão com medo do escuro demarcando território.

A luz das estrelas já não assegura clareza para os olhos.

À noite todo gato é pardo e por segurança, é melhor se garantir.

Saiu à varanda e a noite se anuncia densa para o olhar que busca certezas.

A noite esconde a tudo que se vê.

Mesmo os olhos que tentando enxergar a si não se veem.

É amável respirar na escuridão, ao vento leve da noite.

Ouço o cantar de um grilo ali em algum lugar.

Seria a alma desejando destinos?

Sou uma criatura feita de sonhos.

Já não posso suportar a espera.

Desespera-se quem tentar compreender tal enigma.

O véu da noite forra de neblina a estrada por onde a boiada passou.

Fecho a porta atrás de mim e dos meus sonhos.

O querosene da luz não suportou a espera.

Já não precisa fechar os olhos que na escuridão só vê a imaginação.

Está frio lá fora!

Boa noite!


Poema de Robério Jesus.


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