A fraca luz do candeeiro ilumina a minha face vencida pelos anos.
As rugas perfazem estradas em que os meus sonhos percorreram rosto afora.
De onde venho há sequidão e para onde vou a primavera chega comigo.
O viver é triste se não há flores no caminho.
Sigo por estradas de pedras, veredas de areia e pó.
Respirar a poeira é próprio de quem anda por ai.
Tudo é poeira! Da poeira viemos e pra ela tornamos.
Seu Leôncio dorme no oitão, na rede sossegada feita um útero.
Dona Amélia passa o café num velho bule posto sobre um fogão de lenha.
O aroma agreste misturado com a fumaça encanta os olhos.
Velhos corpos entre velhos sonhos de seguir por velhos rumos.
O assoprar do vento move a luz e as sombras na parede dançam.
Um cão late no terreiro! Se sente só, mesmo não estando só.
Nada além de um cão com medo do escuro demarcando território.
A luz das estrelas já não assegura clareza para os olhos.
À noite todo gato é pardo e por segurança, é melhor se garantir.
Saiu à varanda e a noite se anuncia densa para o olhar que busca certezas.
A noite esconde a tudo que se vê.
Mesmo os olhos que tentando enxergar a si não se veem.
É amável respirar na escuridão, ao vento leve da noite.
Ouço o cantar de um grilo ali em algum lugar.
Seria a alma desejando destinos?
Sou uma criatura feita de sonhos.
Já não posso suportar a espera.
Desespera-se quem tentar compreender tal enigma.
O véu da noite forra de neblina a estrada por onde a boiada passou.
Fecho a porta atrás de mim e dos meus sonhos.
O querosene da luz não suportou a espera.
Já não precisa fechar os olhos que na escuridão só vê a imaginação.
Está frio lá fora!
Boa noite!
Poema de Robério Jesus.
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