Parte da minha vida eu vivi na cidade de Campinas.
Eu tinha apenas 12 anos de idade quando lá cheguei.
A louçania do meu mundo andava quebrada e ali eu me refiz no outono.
A beleza do lugar encheu-me de poesia a alma.
Não me refiro à arquitetura harmoniosa, mas ao adolescer da alma da cidade.
Toda cidade tem uma alma, Campinas tem corpo, alma e espírito.
A alma de um povo se vê nas casas, nas ruas e na convivência.
De toda beleza que pude enxergar, foi no inverno que me enamorei da vida.
O frio das ruas e os ventos uivantes faziam a melodia da ternura.
Os flamboyants, vermelho fogo para o olhar anelante,
Os ipês amarelos, translúcidos de candura que me arrebatavam.
Quantas vezes eu parei minutos a fio preso à exuberante beleza das flores.
Tudo ali promovia em mim certa alienação agradável.
Os muros cobertos de heras.
Os jequitibás nos bosques.
Os jambeiros, os cambuís, morangos e pessegueiros.
O japonês da esquina, os mineiros e aquele sotaque italiano.
Andei por suas ruas como quem pelas artérias percorre o corpo.
O teatro, os parques, os túneis, as escolas, o centro da cidade!
Tudo era belo!
Ali eu enfrentei dias calmos e dias agitados.
Ouvir Toquinho, ler Rubem Alves na coluna do jornal,
João Alexandre, Guilherme Kerr e as cordas.
Guarani versus Ponte Preta.
Liceu, Ateneu e Evolução me evoluíram o desejo do saber.
Fui Patrulheiro do amor em suas ruas frias.
Os edifícios cercados da beleza da primavera, encandeciam os meus olhos.
Quem não sabe ver, jamais contemplará a flor das campinas que é a cidade.
O seu pôr-do-sol define a moldura de sua poesia encantadora.
Sua nostalgia me habitou serena.
Ali eu encontrei amigos, abrigo e um lugar para sonhar.
Sinto saudade de seus outonos,
Das chuvas de granizo e do orvalho das manhãs.
Os nomes dos bairros que mais me encantavam eram os de jardins.
Campinas evoca as flores e à natureza: Taquaral, Campos Elísios, Amoreiras.
As ruas têm nomes de gente importante: Barreto Leme, Benjamim Constant, Bento
Quirino.
As suas praças arborizadas, evocam a beleza e a ternura na calma.
Campinas é música, é Vila Lobos.
Campinas foi o meu amanhecer no adolescer da minha alma.
Sonho mantido em mim como lugar de saudade e paz.
Nesta cidade eu vivi meus outonos e invernos de emoções diversas.
Seus edifícios me chamavam às alturas e ali eu amei a meu pai.
Com os meus irmãos outrora distantes eu sorvi a alegria entremuros.
Sinto saudade dos sóis das tardes e manhãs daquele lugar abrigo.
Campinas é em mim uma tela de amor que o tempo jamais apagará.
Moldura de amor de um mar de sonhos, afetos e alegrias.
Em minha vida as poesias nascem com o vento e com ele as deixo ir.
As lembranças nascem com a distância e nelas ainda choco os ovos da saudade.
Poema de Robério Jesus.
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