quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Desenhos!





Eu sinto-me como se estivesse sendo soterrado por um grande peso.

Indomável, a alma não deseja reconciliar-se com o mundo.

A mente se dilata formulando imagens pitorescas nos muros do desejo.

Sou pichador de mim mesmo. Minha pichação é arte!

Criação caricata de uma farta do mundo real.

Rabiscos de operações geométricas na lousa da imaginação.

Rabiscos meus confusos e difusos como poesia que não vem.

Riscos maus traçados de uma espera que me desespera.

Já não me verto aos velhos deuses dessa civilização hipócrita.

Velha fábrica de ilusões que se alinha ao nada.

Não fumo cigarros, mas assopro a fumaça das religiões.

Meu cachimbo da paz já não faz paz em canto algum.

Caciques e pajés foram fumados na devassa da queimada que pariu monocultura.

Quando criança para fugir do mundo eu desenhava nas paredes.

O que eu desenhava? Desejos.

Desenhar desejos e sonhos é a forma que uma criança vai vencendo os seus medos.

Quando não se tem cadernos ou folhas de papel, escrevemos nas paredes,

Ao chão e onde quer que a imaginação possa garantir a liberdade ao menino oprimido.

Cedo eu aprendi que, rabiscar casinhas, estrelas, sóis e luas, mares, o amanhecer,
flores e jardins nas paredes era uma terapia para o meu coração dorido.

Hoje eu não desenho nas paredes, escrevo poesias enquanto repinto o mundo.

Minha poesia é como meus rabiscos infantis, feitos apenas para esquecer a dor.

Eu não sabia fazer versos, mas sabia imaginar a beleza.

Minha poesia é rupestre, desenhos meus nas paredes das cavernas da alma.

O menino em mim rabisca, insiste, insta, desliza a mão e a mente.

Minha poesia é arte que me esconde.

É labirinto em que se dá minha refrega com meu Minotauro.

Meus poemas são garranchos de uma alma absorta na órbita da esperança.

Eterno vir-a-ser que em mim faz florescer manhãs frias e orvalhadas.

Minha poesia é geometria dos meus sonhos indizíveis.

Quem souber desvendá-los achará um tesouro numa ilha deserta.

Escrevo porque meus rabiscos me remetem ao menino que eu era.

Quando sonhava o adulto que seria.

Sonho porque sendo adulto já não posso esquecer-me de quem fui.

Padeço com o que me tornei: por isso desenho!

Eu desenho os desenhos que resistem impávidos a negação do amor...


Poema de Robério Jesus.


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