Eu ainda me lembro!
Era um dia calmo, um dia dos muitos dias que nos envolveram como um manto, naquela fábrica de anzóis.
Esse era o nome indígena da cidade de Pindamonhangaba que abrigou os nossos corpos frágeis.
Quando o avistei vestido com seu terno bege, gravata e calça marrons, eu fiquei de longe, refletindo-o admirado.
Ele era notável e diferia dos demais no porte, no traje e no linguajar.
Havia um ar de suave tristeza naquele olhar que encantava as donzelas e assustava a concorrência.
Sua alma cantante se enlevava aos céus, fulgurando canções de amor a Deus.
O sotaque portenho revelaria a grandiosidade de sua alma e voz encantadoras.
Ele era diferente de tudo que por ali havia entre as árvores, os blocos, as gentes e os livros.
De onde ele vinha, eu não sabia; sabê-lo-ia mais tarde, na capela, onde transcendíamos a tudo.
Ali entre nós o mundo se fazia coisa pequena e as horas passavam sem pressa, como um rio.
Arão Luther! Era esse o nome que percorria aqueles corredores escuros e frios.
Foi chegando, ficando e logo, aninhou-se entre aquelas vivas almas sorridentes.
Juntos nós oramos, cantamos e sorrimos de tudo.
Do que sorríamos? Das mesmas razões pelas quais chorávamos: a vida.
De todas as faces e vozes que por ali deixaram suas marcas a dele, é impossível esquecer.
Viajamos juntos, brigamos, reatamos e fizemos daqueles, os dias mais belos de nossas vidas.
E foram noites, tardes e manhãs e viu Deus que era bom.
Sinto saudade de você meu amigo.
Onde quer que Criador o tenha plantado para florir que floresças.
Segue cantando meu amigo, pois a tua melodia ainda ecoa no infinito.
A tua voz transporta a tua alma e que beleza há mais tenra?
Vai, faz o teu voo, como uma libélula torna possível o teu cantar.
Muitos saberão quem te tornastes, mas nós não nos esqueceremos de quem já fostes.
O menino montanhês, um ser iluminado, um coração inspirado, um olhar sublime, alto e formoso.
Não é este o significado e o sentido do teu nome? Arão Luther!
Guarda o teu coração e vive o que foste chamado para ser: uma voz que rompe a eternidade.
Acaso tu tenhas esquecido, eu quero que saibas que nós jamais o apagamos da memória.
Eu ainda me lembro!
Robério Jesus
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