Os olhos marejam na poeira da estrada.
Poeira vermelha de um chão de barro e cercas de espinhos.
Vasilhas postas no fogão de lenha,
Elã de um manjar de eternidade.
Dos plebeus eu quero ser o rei: Artur?
Dê-me um cavalo e te direi por que existo.
A Távola Redonda é redonda porque gira com o sol.
Da nobreza, como disse J. Alencar, eis um "príncipe maltrapilho".
No banquete, barbatimão, alho, farinha e carne seca.
Os deuses não comem farofa e tampouco rapadura.
Somente o sertanejo bravo se esbarra nessa forma olímpia de viver.
De sobremesa, frutas adocicadas e o azedume acredoce das cerejas.
O delir das lágrimas e do suor no abraço demorado.
A face molhada pelo sereno do tempo.
No peito o entretecer da alegria e um sorriso feito de orvalhos.
Com a roupa de ver Deus sigo endomingado para a capela orar.
Rareiam-se as capelas e abundam os cassinos.
Já não se faz tanta diferença entre casas de jogos e templos.
Em ambos os crentes quem riquezas e breves prazeres.
Os sinos faziam a diferença, com o barulho das cidades não é possível ouví-los.
Na sala, sobre a sela, fujo das celas da alma, recantos lúgubres e inóspitos.
Cavalgo por ai entre as mil e uma noites à luz das estrelas.
Quem se engravidou de pores-do-sol gestará a infinita beleza.
Quem gestou invernos colherá primaveras.
Quem do verão foi inoculado parirá outonos.
A vida é assim, essa eterna cumplicidade que enlaça.
Minha alma, como as aves poliniza sementes do amanhã.
Somente quem sonha é capaz de transcender a si mesmo.
Sonhar é um ato de bravura, é a alma apropriando-se de sentido da vida.
A ambiguidade do mundo endurece o coração do mais bravo homem.
Do amor jamais brotará o ódio aos borbotões.
Minha alma é fartura quando o amor é a única verdade.
Pacificado com o mundo eu sou brandura onde descanso a espada.
A minha lança lança para longe o medo e as bestas.
Arremessos meus de prosa e rima.
Navego no mar da poesia e no horizonte avisto uma ilha.
Sou náufrago na ternura e à tardezinha meu nome é saudade.
Sob o sol de mim mesmo ilumino o caminho que é só meu.
Eterna candura de quem teme andar sozinho no escuro.
Eu sou teima no silêncio, coração que insiste.
Teima de poesias que semeiam anelos.
Minha poesia é silêncio e grito indomáveis.
Sinto-me filho de manhãs floridas.
Doces manhãs de invernos frios por onde o amor cavalga.
Doces manhãs de invernos de amores e fragrâncias.
Foto de:
Vanderlita Gomes B Marquetti/ Fotografa de Amores e Amoras/ Campinas/ SP
vrmarquetti@mpc.com.br
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