terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Famoso Na Lança!



Peço vênia a José de Alencar, o escritor,

Posto que, como definira seu Arnaldo Louredo, em o Sertanejo,

“os meus pés não têm as asas do meu desejo”.

Os pensamentos voam mais rápido que as palavras.

Estas troam mais velozes que o meu próprio corpo esgotado.

Aspirando alegria, tento arrancar leite de pedra.

Minha poesia é ribeiro que sangra nas artérias de uma alma que viaja para um mar de desejos.

Eu sofro diuturnamente do mesmo mal que sofria Patativa do Assaré:

“Há sempre um verso se blindo dentro de mim”.

Talvez seja assim que os sonhos se tornam realidade.

Vestígios de mim mesmo no espelho, à sombra das estrelas.

Uma cachoeira de palavras deságua das alturas sobre as pedras da minha alma.

Sou mistura fina de tradições distintas; nordestino eu sou de sangue e essência.

Minha africanidade dardeja meu espírito festivo e alegre.

Minha compleição indígena faz de mim um guerreiro de arco e flecha.

Em mim, eu sou a arte e a guerra.

Sou a paz e a beligerância.

Trago nas mãos as begônias e as lanças.

Não foi em vão que me meus pais me chamaram de ROBÉRIO: (famoso com lança).

Atavismos meus de invernos e outonos idos.

Minha lança é a palavra. Palavra sábia. Palavra dita, como taças de ouro em salvas de prata.

Eu quero uma vida sábia, sabia sabiá?

O sabiá sabia, pois efusivo assovia o amor, incólume.

Terna lança que se enlaça nas tranças do desejo de tenras lembranças.

Minha alma está cheia de primaveras. É das flores que sinto saudade!

E assim, lembro-me da Cecília Meireles brotando outra vez:

“Aprendi com as primaveras a me deixar cortar para poder voltar sempre inteira”.

Quando a alma está cheia de primaveras o amor é flor que nasce verdejante no campo.

Flor de timidez em vergôntea.

Numa esmeralda escreverei o meu nome.

Na safira o meu sobrenome de índio indômito.

Eu sou xavante na alma e angola no canto.

Vou escrevinhando poemas sobre pedras preciosas para que durem.

Sonho ser objeto de escavação em outras gerações, nas estações das flores.

E quando encontrado, lá estará dito sobre mim:

“O menino Famoso Na Lança,

Se lançou pelo mundo e amou-o de verdade.

O menino que suplicava, o orante,  tinha um caso de amor com a vida,

Com a beleza e com as flores”.

Amar é ter um caso de amor com a poesia, com a beleza e a ternura.    

Laço que enlaça a alma nas tranças e nas lanças que nos lança fora o medo.

Sim, meu nome “ROBÉRIO”: Famoso Na Lança!

Assim o quis o Criador, seu inventor e origem!

Eu sou como uma lança. Terna lança que me lança por ai!

Firmeza que me arremessa entre abismos de sonhos e realidade.


Poema de Robério Jesus.

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