Peço vênia a José de Alencar, o escritor,
Posto que, como definira seu Arnaldo Louredo, em o Sertanejo,
“os meus pés não têm as asas do meu desejo”.
Os pensamentos voam mais rápido que as palavras.
Estas troam mais velozes que o meu próprio corpo esgotado.
Aspirando alegria, tento arrancar leite de pedra.
Minha poesia é ribeiro que sangra nas artérias de uma alma que viaja para um mar de desejos.
Eu sofro diuturnamente do mesmo mal que sofria Patativa do Assaré:
“Há sempre um verso se blindo dentro de mim”.
Talvez seja assim que os sonhos se tornam realidade.
Vestígios de mim mesmo no espelho, à sombra das estrelas.
Uma cachoeira de palavras deságua das alturas sobre as pedras da minha alma.
Sou mistura fina de tradições distintas; nordestino eu sou de sangue e essência.
Minha africanidade dardeja meu espírito festivo e alegre.
Minha compleição indígena faz de mim um guerreiro de arco e flecha.
Em mim, eu sou a arte e a guerra.
Sou a paz e a beligerância.
Trago nas mãos as begônias e as lanças.
Não foi em vão que me meus pais me chamaram de ROBÉRIO: (famoso com lança).
Atavismos meus de invernos e outonos idos.
Minha lança é a palavra. Palavra sábia. Palavra dita, como taças de ouro em salvas de prata.
Eu quero uma vida sábia, sabia sabiá?
O sabiá sabia, pois efusivo assovia o amor, incólume.
Terna lança que se enlaça nas tranças do desejo de tenras lembranças.
Minha alma está cheia de primaveras. É das flores que sinto saudade!
E assim, lembro-me da Cecília Meireles brotando outra vez:
“Aprendi com as primaveras a me deixar cortar para poder voltar sempre inteira”.
Quando a alma está cheia de primaveras o amor é flor que nasce verdejante no campo.
Flor de timidez em vergôntea.
Numa esmeralda escreverei o meu nome.
Na safira o meu sobrenome de índio indômito.
Eu sou xavante na alma e angola no canto.
Vou escrevinhando poemas sobre pedras preciosas para que durem.
Sonho ser objeto de escavação em outras gerações, nas estações das flores.
E quando encontrado, lá estará dito sobre mim:
“O menino Famoso Na Lança,
Se lançou pelo mundo e amou-o de verdade.
O menino que suplicava, o orante, tinha um caso de amor com a vida,
Com a beleza e com as flores”.
Amar é ter um caso de amor com a poesia, com a beleza e a ternura.
Laço que enlaça a alma nas tranças e nas lanças que nos lança fora o medo.
Sim, meu nome “ROBÉRIO”: Famoso Na Lança!
Assim o quis o Criador, seu inventor e origem!
Eu sou como uma lança. Terna lança que me lança por ai!
Firmeza que me arremessa entre abismos de sonhos e realidade.
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