O sertão é assim, tão inexplicável, inexorável.
A vida que se afirma aqui é a da morte do mato.
A morte no sertão é vida audaciosa e ardente.
Mata o mato que morre de sede na beira da estrada.
O sertão é assim, tão inesgotável, indelével.
Aqui as estações são marcantes, tons de arco-íris.
O verão é fogo sobre terra de dia e frio à noite.
O outono é mormaço e a tardezinha, algazarra das folhas.
A primavera é das flores a morada mais sublime.
O inverno os céus chorando faz brota a vida morta no último verão.
O que morre no verão ressuscita nas outras estações.
Somente o sertanejo morre e vive em todas elas.
Renasce das cinzas e do pó refaz sua habitação.
O meu amor é sertanejo e agreste,
É flamboyant solitário entre a morte e a vida.
O sertão é assim, tão inexprimível, insondável.
O vento quente atinge a face e esmorece o homem.
Terra que viceja a palma, o mandacaru e a açucena.
O jumento forte desaba e a carcaça esquálida lança seu odor.
Sobre o tronco seco da árvore morta, urubus celebram.
O sertão é assim, inexpugnável, indizível.
A flor do mandacaru é vermelha.
Umbus e seriguelas adocicam o dossel afogueado.
Um tom de cinza esgarça o sossego do olhar que perfila o caminho.
A alma adormece em dor e profundo silêncio.
O sertão é assim, inesperadamente belo.
A minha alma quer o paraíso expulso desse lugar.
Mas o Adão em mim se lembra da última refeição.
Por onde andará Deus? Puniu a terra para não punir o amado.
O sertão é assim, cardos e espinhos, ressurreição da vida em flor.
Na casa abandonada floresceu a macieira.
O meu olhar que anela o mundo abraçou o sol.
A alma quer voar para as montanhas.
O sertão é assim, sou eu o sol, a lua e as estrela.
Cumplicidade de quem sabe o amor na comunhão com o mundo.
Poema e foto de Robério Jesus.
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