O esquecimento é mordaça para um poeta.
O que eu quero esquecer não me faz nascer poesia.
Nascer outra vez é experiência de poetas adormecidos.
Poetas morridos, fendidos e esculpidos em pedra de engaste.
Pausa no tempo de uma espera longa.
É mordaz a solidão quando e onde não há flores.
É entorpecente os invernos sem neve, chuva ou frio.
Um bêbado assegura-se na pilastra da estação claudica sem destino.
Clandestino de si nas horas roubadas no bar.
Tenra farândola que embriaga a poesia de sons e aguardente.
Fumaça de um cachimbo que arde os olhos ébrios.
Sóbrio olhar de sombrio aspecto.
Poetas e mordaças não combinam.
Ou morre o poeta, ou morre a poesia.
Poesia morta é mundo virado ao avesso.
Poetas mortos é mundo sem cores.
Sem poesias o mundo é deserto.
Êxodo do amor na terra do sol; solidão que se pronuncia.
Do que vale o mundo sem as flores e as chuvas de junho?
Sinto saudade da palavra quando surge em mim feito flor que nasce no campo.
Orvalhos meus de lágrimas que deslizam a face em silêncio.
O canto da araponga se faz ouvir no mato.
Ato de coragem de quem nada quer saber da civilização.
A Nara era Leão quando derramava sua ternura em forma de canção.
E por "Este Seu Olhar" que eu adejei num céu só meu.
Eu escrevo este poema só pra lembrar e dizer que já falei das flores.
Poema de Robério Jesus.
Foto de:
Vanderlita Gomes B Marquetti/ Fotografa de Amores e Amoras/ Campinas/ SP
vrmarquetti@mpc.com.br
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