quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Para Dizer Que Eu Falei Das Flores!




O esquecimento é mordaça para um poeta.

O que eu quero esquecer não me faz nascer poesia.

Nascer outra vez é experiência de poetas adormecidos.

Poetas morridos, fendidos e esculpidos em pedra de engaste.

Pausa no tempo de uma espera longa.

É mordaz a solidão quando e onde não há flores.

É entorpecente os invernos sem neve, chuva ou frio.

Um bêbado assegura-se na pilastra da estação claudica sem destino.

Clandestino de si nas horas roubadas no bar.

Tenra farândola que embriaga a poesia de sons e aguardente.

Fumaça de um cachimbo que arde os olhos ébrios.

Sóbrio olhar de sombrio aspecto.

Poetas e mordaças não combinam.

Ou morre o poeta, ou morre a poesia.


Poesia morta é mundo virado ao avesso.

Poetas mortos é mundo sem cores.

Sem poesias o mundo é deserto.

Êxodo do amor na terra do sol; solidão que se pronuncia.

Do que vale o mundo sem as flores e as chuvas de junho?

Sinto saudade da palavra quando surge em mim feito flor que nasce no campo.

Orvalhos meus de lágrimas que deslizam a face em silêncio.

O canto da araponga se faz ouvir no mato.

Ato de coragem de quem nada quer saber da civilização.

A Nara era Leão quando derramava sua ternura em forma de canção.

E por "Este Seu Olhar" que eu adejei num céu só meu.

Eu escrevo este poema só pra lembrar e dizer que já falei das flores.

Poema de Robério Jesus.



Foto de:

Vanderlita Gomes B Marquetti/ Fotografa de Amores e Amoras/ Campinas/ SP

                       vrmarquetti@mpc.com.br


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