domingo, 15 de janeiro de 2012

Vendo A Chuva Da Janela!





Chove lá fora e eu, avisto a rua da janela.

A vidraça embaçada por dentro está cheia de gotas por fora.

Trago as minhas narinas rentes à cortina, enquanto penso.

Parado ali, absorto, pergunto-me sobre se há verdade no amor.

Indago se há amor entre os homens.

Por onde andará? Será que ainda existe? Talvez!

Já testemunhei muitas chuvas da sacada.

Às vezes molho nelas a minha face para me sentir vivo.

Ensaios de liberdade de quem aprisionado respira a chuva.

Rubem Alves dorme ali na escrivaninha, de bruços, ao lado da boca de Deus.

Meus poetas dormem, enquanto tenso, tento sibilar poesias.

Um vento fresco passa pela greta da janela por onde respiro agora.

Minha mente inquieta vagueia pelas praias onde há gramas nauseantes.

Insólita inquietação de quem se assenta para ver o mar.

Nauseabundo, sinto a derrota de um corpo vencido pelo tempo.

Envelheci. Já não sou mais o mesmo, mas ainda entorpeço-me.

O menino em mim dá lugar ao velho. Sinto-me um sexagenário!

Lá fora não há muitas coisas que me deem sabor.

Reumatismos meus de dramas passados. Meras repetições!

Quero a quietude do quarto, o aconchego de mim mesmo.

Quero a concha do silêncio na palma do amor de mim mesmo.

Há dias para os quais a solitude é o melhor vinho.

A despeito de mim, as parreiras crescem nos vales.

Sempre desconfiei que o amor fosse uma película que assistimos no escuro.

Todos os rios nascem em meus olhos.

Afluentes meus de dores antigas.

Desolação é a palavra que define os meus atavios.

Não quero as bravatas apressadas dos que dizem amar.

Eu quero fotografar a natureza, pois há mais amor entres os pássaros e as flores.

As flores não me destroem, tampouco as aves são maldosas.

Desajeitado e silente, subscrevo-me.

Não quero sabotar a mim mesmo, prefiro as árvores às promessas.

As acácias são fiéis às estações e os flamboyants florescem sempre.

Subverto a paciência e insisto olhando para os carros lá fora.

Ray Charles ainda toca na vitrola, em vinil, mas gracioso: Georgia On My Mind.

A propósito, o que sublinha minha mente nesse instante? A não palavra!

Sinto um frio correr pela espinha. Tenho medo de perder a inocência.

As certezas? Deixei-as todas na última estação, enquanto via o trem partir.

Depois que o último trem se foi restaram-me os trilhos, sobre os quais caminho
absorto.

Num vagão descansei meus sonhos, em outro, as desilusões.

Desembarco de mim mesmo embarcando em remotas recordações.

A minha alma insiste em sair desta sórdida Auschiwitz.

A chuva fina ainda dardeja o solo e uma pomba pousa logo ali.

Meu olhar que pare riachos voa com as pombas alhures.

Há mais sorte para os pombos, porque livres das vicissitudes das cidades.

Na parede o relógio me assiste e o cuco, operário, me avisa o tempo.

É tempo de repensar, reviver, renascer, recriar e reinventar a mim mesmo.

O que quero ser quando reinventado?

Eu quero ser criança, pássaro, cravo ou apenas borboleta.

Estes não transportam culpas nem dizem que amam,

Apenas amam sem sequer saberem oque seja o amor.

Saio da janela, mas a minha alma sequer se demove dali.

Para onde irei? As ruas estão escuras e perigosas, cheias de incertezas.

Os templos estão vazios; já não há mais sentido que valha a pena.

Nos correios já não há mais destinos nem cartas de amor, apenas as de cobranças.

Eu queria subir na torre mais alta e observando a cidade, esperar o pôr-do-sol.

Contraditoriamente, sinto leveza, pois o que amei, amei de verdade enquanto

amei.

É que o amor é assim, “eterno enquanto dura”, disse o poeta.

Pascal tinha razão: “O coração tem razões que a própria razão desconhece”

Ignoto, sigo em silêncio, enquanto respingos de chuvas finas escorrem em minha
janela, seguindo as lágrimas.


Não me sinto um coitado, sou apenas humano, demasiado humano!

A minha dor é a mesma dor de outras tantas dores de pessoas pelo mundo afora.

É que como a alegria, as dores se assemelham entre as pessoas.

Essa sinfonia não é tocada por só um instrumento.

Chove lá fora e aqui faz tanto frio!

Tudo que eu queria era apenas um abraço!



Poema de Robério Jesus.



Foto de:
Vanderlita Gomes B Marquetti/ Fotografa de Amores e Amoras/ Campinas/ SP
vrmarquetti@mpc.com.br

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