domingo, 15 de janeiro de 2012

Na Rede Do Amor!




No manto calmo da tarde parei para escutar o silêncio.

Uma brisa leve acariciou minha face inerme.

Ouvir o silêncio é se permitir ouvir o mundo silenciando o corpo.

O chacoalhar suave das folhas ao vento sinaliza a paz.

Da rua nenhum som estridente.

Ao longe um tropel de cavalos e da carruagem.

O vozeio distante; a cigarra e sua canção.

Nos pés de pau entre as flores as aves gorjeiam,

E entre as folhas secas a lagartixa deixa sons intermitentes.

Na rede, largado e esquecido de mim mesmo fechos os olhos.

Meus pensamentos sossegam no oitão da casa.

O Sol rutilante vai alto e ardente no céu tingido de branco e anil.

A natureza sopra seu hálito numa sutil leveza.

Arrebatado, sigo em um navio mercante por mares sem fim.

O balido das ovelhas, o mugido do gado e o cão ladrando na vizinhança.

O galo cantou sua última melodia a meia-hora atrás.

O amor sopitado no balanço da vida adormece nos bilros da palavra calada.

O amor é silêncio quando o afeto é certeza.

Somente no amor é sustentável a leveza do ser.

Quando o silêncio é possível, o amor é palavra no gesto.

É quietude que se derrama nas derramas do tempo.

Quando o amor é cobertor no frio da noite, as estrelas cintilam azuis.

O amor que acoberta é coberta de lã vestida na neblina do relento.

A rede continua balançando o corpo que adeja e sonha.

Quando o amor é rede a vida é possível ao sereno.

Eu quero o sossego que só o sertão pode dar ao sertanejo.

O mundo inteiro é sertão quando se tem doçura, alegria e paz.

Riacho doce que elicia maus agouros. Insólita beleza!

Eu quero o amor que se tem quando se come rapadura com farinha.

Andar num pau de arara mesmo sabendo-o anacrônico.

Quero a morada de massapê, a ponte de pau-a-pique e a paz.

E as certezas que se têm quando a vida aflora a verdade.

Por aqui eu descobri que amar é dar ao outro, certezas e seguranças.

Com tantas incertezas só as certezas do amor são leais.

Um casal de rolinhas se enamora na chuva e da rede eu amo a vida.

Na concha da mão do Eterno me sei palavra escrita.

Frase escrita enquanto Ele dormia: “Eu te amo Pai”.

Presente de quem não pode lhe oferece nada além do amor.

Beleza singela do coração de que O ama de verdade.

Daqui do meu lugar eu quero ser poesia tatuada no peito.

Palavra feita de silêncio.

Poesia que jorra da fonte do ser que deseja.

Sim, eu não quero amar simplesmente,

No fundo eu quero ser o amor.

Pois, só sendo o amor podemos amar de verdade!

Profusa inocência de quem simplesmente sonha.

Para mim a eternidade é amor e silêncio.

Encanto do ser que entrega ao encanto mais tenro.

Lágrima vertida de felicidade!

Suspiro de quem não quer acordar.

Anelo de quem faz sentir no corpo do outro as batidas do coração.

O amor é oferta no altar da ternura.

O amor é rede que embala o meu corpo e os meus sonhos de menino.



Poema e foto de Robério Jesus.

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