domingo, 15 de janeiro de 2012

Como As Aves!






Eu amo os raios do Sol porque são livres.

A liberdade é um dom quando o amor é uma melodia possível.

O amor é como som de rabeca tocada na brisa da tarde/
que se derrama sertão afora.

Meu corpo sertanejo tem alma medieval e o espírito das fábulas do Oriente.

Do sertão eu trago a história,

Do medievo transporto a beleza, mas do Oriente abrigo a força e poesia.

Na poeira avermelhada do terreiro eu fundi o meu sonho.

Da beleza forjada no tecido da alegria eu urdi o meu mundo.

A beleza é como aves que voam por ai onde os olhos dos que amam observam.

O amor é como aves de penas alvas e leves.

Plumagens douradas ao Sol de fins de tardes.

As aves me fascinam quando nas alturas rumam além,

Seguindo na direção de sóis distantes.

Não gosto de aves presas em gaiolas, elas são tristes.

Seu canto é dor.

Dor de quem partiu de seu torrão natal.

As gaiolas são armadilhas para emoldurar a beleza: natureza morta.

O canto das aves é mais lindo quando estas, livres, emanam saudade.

Aves livres são aves que migram para sertões e primaveras longes.

Nada há mais belo que os pássaros cantando em galhos de flores tenras.

Eu já abri as minhas gaiolas, já soltei as aves!

Não as quero, aves presas, cantando como quadros vivos na parede.

Quando aprisionadas seu canto é grito,

É gemido de aves partidas.

Desespero de quem da liberdade tragou a candura.

As aves que se vão, sabem o caminho de volta.

Amo as aves quando sabem por que voltam.

Amo-as quando voltam e pousam em meus ombros sem dor.

Quando sabem porquê estão ali.

Ave feliz é ave livre na copa das árvores.

Sem o mundo para voar os gorjeios são dores intensas.

Não há ternura entre grades onde as asas sorvem os limites.

Aves livres são aves inteiras, infinitas.

Seu canto é mais doce, exuberante.

Seus sons são mais amáveis e suaves.

Suas manhãs são adoráveis; suas tardes são mais anis.

Sinto-me seguro como as aves quando pousam no tronco da liberdade.

Sigo cantando por que tenho um amor onde pousar.

O Criador pensou-me sem gaiolas, migrando por ai sobre lagos, rios e nascentes.

Sigo com o vento para um abrigo chamado saudade.

Minha eterna morada onde Deus habita como Ave mãe.

Eu já cantei em gaiolas. Doce ilusão.

Alçapões com alpistes e frutos, objetos do desejo.

Eu quero respirar ar puro.

Cantar sobre muros, telhados e jardins.

Não quero ser gaiola onde o amor seja prisão.

Quero ser natureza livre para oferecer o céu para outras aves.

Hoje bebo água na beira de lagoas, riachos e ribeiros.

Nas alturas busco forças para recomeçar sempre.

Dependo do Criador somente, sementes de amores sonhados.

Deem-me a liberdade ou morrerei inanido.

Não quero o tédio das certezas, prefiro os riscos da esperança.

Não quero as convicções paralisantes, anelo o provisório e mutante.

Ainda não sei como morrem as aves.

No entanto, eu nunca as vi em filas de hospitais ou em manicômios.

“Se todo animal inspira ternura, o que houve, então, com os homens?”

Indagou Guimarães Rosa alhures.

Não sei se concordo totalmente com o Mestre G. Rosa nesse dito:

“O mundo é mágico. As pessoas não morrem, ficam encantadas”.

Acho que o mundo é mágico sim,

Mas são as aves que ficam encantadas quando morrem.

Os homens apenas se encantam quando sensíveis.

Eles se encantam quando o amor é a realidade de uma melodia possível.

Não quero meu corpo nem meu canto em gaiolas.

Quero ser livre.

Quero ser ave com vocação para a liberdade!

Pois como ave, minha alma é leveza.


Poema de Robério Jesus.



Foto de:
Vanderlita Gomes B Marquetti/ Fotografa de Amores e Amoras/ Campinas/ SP
vrmarquetti@mpc.com.br

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