O profeta disse: “Ouvirão o canto das aves nas janelas”.
Daqui do meu lugar escuto os pássaros.
Desses, citadinos que, como eu,
Transitam desesperados à procura de um espaço-vida.
Não sei nomear as aves que gorjeiam por aqui, além do bem-te-vi,
Mas sei apreciar suas canções, melodias de sons afáveis.
Nesta terra onde habito até as aves buscam refúgio, enquanto cantam,
E eu, cantando, vou acolhendo-me às tardezinhas de outono.
Como me pareço com as aves?
É simples saber, a melodia em nós é gemido na espera e no desejo.
E da janela ouve-se a voz que cantando se faz alívio.
As aves voam enquanto voa a minha alma sonhadora.
Cavernas não possuem janelas.
São poucas as aves que celebram no inverno polar.
Para alguns seres o inverno sempre vem mais cedo.
E como um urso, eu hiberno, enquanto devoro a gordura de mim mesmo.
Essa autofagia é salutar para quem se nutriu no verão.
Daqui do lugar que é meu, sinto a lucidez que tece a mudança.
Mudo, mudo-me enquanto muda o mundo ao meu redor.
Faço do silêncio a minha melodia mais suave.
Sofonias, o profeta tinha razão,
Que há de mais belo que as aves cantando na janela?
O silêncio em mim me permite ouvir a sinfonia da minha própria espera.
Eu espero o sol que logo mudará o gelo de agora em rios de águas correntes.
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