segunda-feira, 26 de abril de 2010

Sinfonias Em Mim



Hoje me sinto úmido no corpo e na alma.

Minhas esperanças vicejaram no amanhecer de mim mesmo.

Meu ser temporal sente o frio da vida que me rodeia bela em flor.

Alguma coisa em mim anuncia dias primaveris,

Enquanto Ravel faz-me perceber a vida ao som de seu Bolero encantador.

Transcendo a minha dor à Nona Sinfonia de Beethoven que me desperta a saudade,

No despertar da lua prateada, Serenata no céu do desejo, serena o meu olhar.

A refrega de dias tórridos, agrestes, ainda me ameaça o sossego.

Desejo a noite e dela a canção.

Absorvo as estrelas,

Viajo em cometas que cometam em mim a travessia de mim mesmo.

Asteróides ligeiros num olhar pueril.

Anelo a poesia feita verso em canções de ninar.

Sou menino que tem sede de vida, das vias e das alegrias.

Preciso brotar para mim mesmo neste chão de céu de anil.

Conheço um homem que do amor se fez refém e em silêncio cala o mundo.

Enquanto calado pare recordações e nestas abre as janelas da alma.

Conheço um menino que ama o mundo enquanto absorve o vento.

Conheço um menino que desconhece um homem que o ama eternamente.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Minha Vida Em Lá Menor



Não consigo entender minha ligação com as alturas.

Voar de asa delta, Skysurf, Windsurf e,

Empinar pipas me apetece, mas não é possível na chuva.

Chove lá fora e o meu olhar que sorve o vento segue as gotas.

Sou prisioneiro do silêncio.

A minha alma cala o que poderia explodir o meu mundo de símbolos e leis.

Ouço ao longe a 1812 de Tchaikovsky: Napoleão de volta para casa,

Mas o meu coração deseja a Für Elise de Ludwig Van Beethoven.

Sinto em lá menor a doçura da minha alma alada, ao lado.

A janela abriga o meu corpo solitário anelante,

Sinto-me estrangeiro mesmo aqui no lugar do afeto.

Não sei explicar a alternância das minhas emoções,

Devo estar parindo um novo mundo ou gerando os ranços do velho.

É figadal essa minha espera das horas que não passam.

Sou uma espécie de Prometeu portador do fogo.

Arde em mim as chamas estomacais da azia que me consome aos poucos.

Sou prisioneiro na cela feita por grades de gotas de chuvas.

Mas, se livre, para onde irei?

Começar tudo outra vez? Repetir-me numa fadiga constante?

O mundo é o mesmo.

As pessoas e as ânsias também.

Para que mundo novo poderia voar o meu pássaro sem dor?

Depois das chuvas brilhará o sol.

Quem me dera ser invisível.

Quem me dera travestir-me de vento para sair por ai.

Daqui da minha janela imaginária eu toco a vida em lá menor.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Uma Questão De Semântica



Situo-me no fundo de mim mesmo agora.

Não sei ao certo o que dizer se tudo aqui é espera.

A palavra não eclode em mim e assim a primavera dá lugar ao sol.

Acontece que tudo aqui exige a palavra que não vem.

O que fazer quando a palavra não vem?

Nada, apenas respirar fundo e adejar em silêncio.

Sinto Deus perto de mim, Presença em mim que transporta-me e que transcende-me sobremodo.

Calo em mim a palavra amar, verbete que define a tudo o que penso sentir.

Mas amar dói? Resta saber em qual perspectiva.

A palavra amar contém quatro grandes universos que mais admiro,

Amar enquanto ato do amor em si.

A palavra mar que me remete às travessias.

Mar, como lugar onde velejo para longe de tudo que se chama nostalgia,

E, a palavra ar.

Nada melhor que respirar o ar dos campos, onde jardins floridos dão lugar aos sonhos.

Vôo profundo no céu de oceanos azuis e montanhas cinzentas.

Daqui eu vejo as pipas presas às linhas que seguram meninos nas ruas.

Vejo aves voando na direção do adeus.

E finalmente, amar contém no sentido contrário o verbete rama.

Aqui a esperança não traz confusão. O verde é ramalhete na guirlanda do afeto.

Folhas de outonos distantes.

Rama é semente que refaz o mundo.

Amar é tudo isso! É mar, é ar, é rama.

Amar é simplesmente amor.

Amar é rocha firme sobre a qual meu corpo simplesmente espera.

De onde o meu olhar contempla a eternidade.

Amar é mais que uma questão de semântica.

Amar é mar,

É céu,

É ar,

É voar sem asas por ai sobre o céu da cidade,

É ramalhete de esperança,

Mas é antes e acima de tudo a palavra que me faz ser quem sou.

E o que sou?

Um menino, apenas um menino, empinador de pipas,

Sim, um menino que encontra nas palavras as linhas,

E uma maneira de significar o seu mundo: semântica.

terça-feira, 13 de abril de 2010

Minha Alma De Menino



Hoje eu acordei sem razões aparentes para acordar,

A impressão que se me dava era que nada lá fora me apetecia.


Era como se meu
eu estivesse a fim de saber o que as repartições de mim

queriam de fato.

Num mergulho profundo passei a sondar-me como numa

meditação profunda do meu ser mais profundo.

Dei-me a auscultar os fomentos do meu espírito.

Permiti-me à oitiva da alma e suas freqüentes sensações.

Indaguei do meu corpo as razões de suas mobilidades e compulsões.

Essa não foi uma viagem fácil porquanto não foi feita sem fissuras

sentimentais.

Viajando eu descobri que o meu espírito é algo dentro de mim que

transcende às futilidades do mundo.

Meu espírito quer alguma coisa que não é mundo, tangível ou mera

empiricidade.

O fundamento ontológico de mim quer o fora do mundo, o fora de mim, o fora

de série e do comum.

Poucas vezes o vi satisfeito e sua completude se dá na relação plena com o

Numinoso: Deus.

O divino é o território de sua alegria; ai sossega-se por saber-se feliz.

Na falta do mesmo ou na simples sensação de distanciamento, transtorna-se.

A oração parece ser o caminho que a alma encontra para nutrir o espírito

sedento de paz.

Neste mergulho em mim mesmo notei quão distante está o meu corpo das

fronteiras do meu espírito.

O espírito quer a eternidade, o transcendente e o divino.

O corpo clama pelo mundo, as coisas e por suas vicissitudes.

O corpo anseia por aquilo de que ele é feito: matéria, transitoriedade.

O corpo quer jardins,

Quer as estrelas, o luar e os oceanos.

O corpo deseja outros corpos: os terrestres e ou os celestes: transcendental.

Este ignora as coisas do espírito e combate avidamente a abstração.

O espírito quer a beleza, o amor pleno, o bem.

O corpo concreto procura pelas coisas concretas:

Comida, bebida, roupa, abraços.

Há um abismo entre as coisas do corpo e as coisas do espírito.

Ambos só se comunicam na mediação feita pela alma.

É nela e somente nela que corpo e espírito dialogam e arrefecem a guerra.

Mundos antagônicos ocupando o mesmo lugar no espaço: alma.

Ai eu entendi o papel da alma e sua árdua tarefa de negociar os interesses destes.

A alma meu senhor é intermediária de mundos distintos.

É ela que equaciona e processa em si os desejos dos opostos.

Todos, espírito, alma e corpo buscam de per si, seus prazeres.

Quando o espírito não respeita o corpo exige da alma a abstração e a

transcendência.

Quando o corpo não o respeita faz a alma devorar as coisas e o mundo.

Quando a alma atende somente aos apelos do corpo nasce o ciúme, a ira, o

ódio, a sensualidade e os deleites daqui.

Se ela atente aos do espírito, nasce a fé, a poesia, a música, contemplação, a

Adoração e os deleites dali.

Porém, se esta ignora a ambos, a psicose se instala enquanto instila o altista.

Somente na psicose é que a alma ignora os reclames sub-reptícios do ser:

liberta-se e aliena-se.

Neurose é a alma ainda em conflito resistindo os seus algozes.

É a alma não querendo ser ponte, porta ou caminho.

É a alma não querendo ser escrava.

Na psicose ela já fez a escolha de nada ser ou de ser livre da pressão.

Parado e deitado ali eu reflito a condição refém da alma.

O fato é que não há escolhas, a alma tem que cumprir o seu destino.

Fugir é adoecer.

Viver é equacionar sempre.

Corpo e espírito são tirânicos.

A alma é aquilo em nós que vive na corda bamba.

Um pouco de sossego, um pouco de paz e pronto: morte.

A gente não quer só comida, a gente quer bebida, diversão e arte...

A gente quer mais do que isso, a alma quer completude.

sábado, 10 de abril de 2010

Um Simples construtor de Pontes


“Amigo é coisa para se guardar debaixo de sete chaves dentro do coração”.

Cantou um poeta citando outro seu igual.

Eu tenho poucos amigos; a vida impõe as distâncias.

Porém, os poucos que tenho distam em tempo e espaço.

A verdadeira amizade está em extinção.

Minha geração sorve silente o amargor da solidão.

Há pelo menos cinco grupos de pessoas quem me cercam:

Os estranhos, aos quais dirijo a palavra raras vezes com os quais tenho um contrato social.

Os colegas, com os quais convivo superficialmente, candidatos a amigos, conhecidos.

Os inimigos, os que nem são estranhos, mas andam no círculo dos colegas,

Os traidores, ex-colegas, candidatos a futuros inimigos contra os quais o silêncio é a melhor palavra.

E os raros, muito raros amigos.

A esses eu conto nos dedos.

Hoje vivo numa ilha, lugar seguro para a alma devota ao amor.

Nesta, erigi uma ponte, um caminho para aqueles que desejam abrigar-se no azul do oceano.

Um poeta não pode ser uma ilha sem pontes.

Porque um poeta é um fazedor de pontes.

A poesia não sobrevive sem amor.

O amor não sobrevive sem pontes.

Sem o amor e a poesia eu não sobrevivo.

Vivo sobre tudo que não é só areia ou água.

Subsisto à falência da inocência e da pureza no mundo.

A sinceridade é pão dormido, assado no forno da desilusão.

O amigo de hoje pode ser a desgraça de amanhã.

O sorriso de hoje gesta a lágrima de dias vindouros.

Tapas leves nos ombros que esperam a lâmina fria de punhais odiosos.

“Até tu Brutus?”, Grito que ecoa na surpresa desgostosa.

O manto da traição faz eclodir nos altares hodiernos os Judas pós-modernos.

A amizade é coisa em extinção, o que existe mesmo é a selvageria do ego.

“Ama ao teu próximo como a ti mesmo”. Disse o Criador.

Todavia dizem os egos selvagens: existe alguém mais próximo de mim do que eu mesmo?

Eu sou o meu próximo!

Vivo num mundo onde se cultua a auto-amizade, amor sem pontes.

Nada contra o auto-amor, mas isto não pode traduzir-se no fim da amizade.

O fato é que é possível encontrar ainda amigos mais chegados que irmãos.

No entanto, dê-me uma lanterna, pois ao meio dia, sob a luz do sol os procurarei.

Ando a perguntar-me se sou um bom amigo.

Eu mesmo não saberia responder, visto que não me sinto bom nem amigo na relação de auto-amizade.

Prefiro ser feliz na relação de alteridade, no altruísmo, como um construtor de pontes.

Não sou heterocêntrico, contudo abomino o autocentrismo.

Não sou centro de nada.

Vivo na órbita do mundo e à minha órbita sobrevivem os que me amam.

Ou seja, aqueles que a despeito de meus limites e fragilidades simplesmente não me abandonam.

Nesta constelação vejo poucos astros.

“A amizade é coisa linda...”, disse um poeta,

“... é como unha e dedo, participar segredos. Ter alguém pra conversar COMIGO...”

A verdadeira amizade é como um rubi precioso,

Quem a possui preserve-a ou de súbito será roubada.