Hoje eu acordei sem razões aparentes para acordar,
A impressão que se me dava era que nada lá fora me apetecia.
Era como se meu eu estivesse a fim de saber o que as repartições de mim
queriam de fato.
Num mergulho profundo passei a sondar-me como numa
meditação profunda do meu ser mais profundo.
Dei-me a auscultar os fomentos do meu espírito.
Permiti-me à oitiva da alma e suas freqüentes sensações.
Indaguei do meu corpo as razões de suas mobilidades e compulsões.
Essa não foi uma viagem fácil porquanto não foi feita sem fissuras
sentimentais.
Viajando eu descobri que o meu espírito é algo dentro de mim que
transcende às futilidades do mundo.
Meu espírito quer alguma coisa que não é mundo, tangível ou mera
empiricidade.
O fundamento ontológico de mim quer o fora do mundo, o fora de mim, o fora
de série e do comum.
Poucas vezes o vi satisfeito e sua completude se dá na relação plena com o
Numinoso: Deus.
O divino é o território de sua alegria; ai sossega-se por saber-se feliz.
Na falta do mesmo ou na simples sensação de distanciamento, transtorna-se.
A oração parece ser o caminho que a alma encontra para nutrir o espírito
sedento de paz.
Neste mergulho em mim mesmo notei quão distante está o meu corpo das
fronteiras do meu espírito.
O espírito quer a eternidade, o transcendente e o divino.
O corpo clama pelo mundo, as coisas e por suas vicissitudes.
O corpo anseia por aquilo de que ele é feito: matéria, transitoriedade.
O corpo quer jardins,
Quer as estrelas, o luar e os oceanos.
O corpo deseja outros corpos: os terrestres e ou os celestes: transcendental.
Este ignora as coisas do espírito e combate avidamente a abstração.
O espírito quer a beleza, o amor pleno, o bem.
O corpo concreto procura pelas coisas concretas:
Comida, bebida, roupa, abraços.
Há um abismo entre as coisas do corpo e as coisas do espírito.
Ambos só se comunicam na mediação feita pela alma.
É nela e somente nela que corpo e espírito dialogam e arrefecem a guerra.
Mundos antagônicos ocupando o mesmo lugar no espaço: alma.
Ai eu entendi o papel da alma e sua árdua tarefa de negociar os interesses destes.
A alma meu senhor é intermediária de mundos distintos.
É ela que equaciona e processa em si os desejos dos opostos.
Todos, espírito, alma e corpo buscam de per si, seus prazeres.
Quando o espírito não respeita o corpo exige da alma a abstração e a
transcendência.
Quando o corpo não o respeita faz a alma devorar as coisas e o mundo.
Quando a alma atende somente aos apelos do corpo nasce o ciúme, a ira, o
ódio, a sensualidade e os deleites daqui.
Se ela atente aos do espírito, nasce a fé, a poesia, a música, contemplação, a
Adoração e os deleites dali.
Porém, se esta ignora a ambos, a psicose se instala enquanto instila o altista.
Somente na psicose é que a alma ignora os reclames sub-reptícios do ser:
liberta-se e aliena-se.
Neurose é a alma ainda em conflito resistindo os seus algozes.
É a alma não querendo ser ponte, porta ou caminho.
É a alma não querendo ser escrava.
Na psicose ela já fez a escolha de nada ser ou de ser livre da pressão.
Parado e deitado ali eu reflito a condição refém da alma.
O fato é que não há escolhas, a alma tem que cumprir o seu destino.
Fugir é adoecer.
Viver é equacionar sempre.
Corpo e espírito são tirânicos.
A alma é aquilo em nós que vive na corda bamba.
Um pouco de sossego, um pouco de paz e pronto: morte.
A gente não quer só comida, a gente quer bebida, diversão e arte...
A gente quer mais do que isso, a alma quer completude.
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