terça-feira, 13 de abril de 2010

Minha Alma De Menino



Hoje eu acordei sem razões aparentes para acordar,

A impressão que se me dava era que nada lá fora me apetecia.


Era como se meu
eu estivesse a fim de saber o que as repartições de mim

queriam de fato.

Num mergulho profundo passei a sondar-me como numa

meditação profunda do meu ser mais profundo.

Dei-me a auscultar os fomentos do meu espírito.

Permiti-me à oitiva da alma e suas freqüentes sensações.

Indaguei do meu corpo as razões de suas mobilidades e compulsões.

Essa não foi uma viagem fácil porquanto não foi feita sem fissuras

sentimentais.

Viajando eu descobri que o meu espírito é algo dentro de mim que

transcende às futilidades do mundo.

Meu espírito quer alguma coisa que não é mundo, tangível ou mera

empiricidade.

O fundamento ontológico de mim quer o fora do mundo, o fora de mim, o fora

de série e do comum.

Poucas vezes o vi satisfeito e sua completude se dá na relação plena com o

Numinoso: Deus.

O divino é o território de sua alegria; ai sossega-se por saber-se feliz.

Na falta do mesmo ou na simples sensação de distanciamento, transtorna-se.

A oração parece ser o caminho que a alma encontra para nutrir o espírito

sedento de paz.

Neste mergulho em mim mesmo notei quão distante está o meu corpo das

fronteiras do meu espírito.

O espírito quer a eternidade, o transcendente e o divino.

O corpo clama pelo mundo, as coisas e por suas vicissitudes.

O corpo anseia por aquilo de que ele é feito: matéria, transitoriedade.

O corpo quer jardins,

Quer as estrelas, o luar e os oceanos.

O corpo deseja outros corpos: os terrestres e ou os celestes: transcendental.

Este ignora as coisas do espírito e combate avidamente a abstração.

O espírito quer a beleza, o amor pleno, o bem.

O corpo concreto procura pelas coisas concretas:

Comida, bebida, roupa, abraços.

Há um abismo entre as coisas do corpo e as coisas do espírito.

Ambos só se comunicam na mediação feita pela alma.

É nela e somente nela que corpo e espírito dialogam e arrefecem a guerra.

Mundos antagônicos ocupando o mesmo lugar no espaço: alma.

Ai eu entendi o papel da alma e sua árdua tarefa de negociar os interesses destes.

A alma meu senhor é intermediária de mundos distintos.

É ela que equaciona e processa em si os desejos dos opostos.

Todos, espírito, alma e corpo buscam de per si, seus prazeres.

Quando o espírito não respeita o corpo exige da alma a abstração e a

transcendência.

Quando o corpo não o respeita faz a alma devorar as coisas e o mundo.

Quando a alma atende somente aos apelos do corpo nasce o ciúme, a ira, o

ódio, a sensualidade e os deleites daqui.

Se ela atente aos do espírito, nasce a fé, a poesia, a música, contemplação, a

Adoração e os deleites dali.

Porém, se esta ignora a ambos, a psicose se instala enquanto instila o altista.

Somente na psicose é que a alma ignora os reclames sub-reptícios do ser:

liberta-se e aliena-se.

Neurose é a alma ainda em conflito resistindo os seus algozes.

É a alma não querendo ser ponte, porta ou caminho.

É a alma não querendo ser escrava.

Na psicose ela já fez a escolha de nada ser ou de ser livre da pressão.

Parado e deitado ali eu reflito a condição refém da alma.

O fato é que não há escolhas, a alma tem que cumprir o seu destino.

Fugir é adoecer.

Viver é equacionar sempre.

Corpo e espírito são tirânicos.

A alma é aquilo em nós que vive na corda bamba.

Um pouco de sossego, um pouco de paz e pronto: morte.

A gente não quer só comida, a gente quer bebida, diversão e arte...

A gente quer mais do que isso, a alma quer completude.

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