sábado, 10 de abril de 2010

Um Simples construtor de Pontes


“Amigo é coisa para se guardar debaixo de sete chaves dentro do coração”.

Cantou um poeta citando outro seu igual.

Eu tenho poucos amigos; a vida impõe as distâncias.

Porém, os poucos que tenho distam em tempo e espaço.

A verdadeira amizade está em extinção.

Minha geração sorve silente o amargor da solidão.

Há pelo menos cinco grupos de pessoas quem me cercam:

Os estranhos, aos quais dirijo a palavra raras vezes com os quais tenho um contrato social.

Os colegas, com os quais convivo superficialmente, candidatos a amigos, conhecidos.

Os inimigos, os que nem são estranhos, mas andam no círculo dos colegas,

Os traidores, ex-colegas, candidatos a futuros inimigos contra os quais o silêncio é a melhor palavra.

E os raros, muito raros amigos.

A esses eu conto nos dedos.

Hoje vivo numa ilha, lugar seguro para a alma devota ao amor.

Nesta, erigi uma ponte, um caminho para aqueles que desejam abrigar-se no azul do oceano.

Um poeta não pode ser uma ilha sem pontes.

Porque um poeta é um fazedor de pontes.

A poesia não sobrevive sem amor.

O amor não sobrevive sem pontes.

Sem o amor e a poesia eu não sobrevivo.

Vivo sobre tudo que não é só areia ou água.

Subsisto à falência da inocência e da pureza no mundo.

A sinceridade é pão dormido, assado no forno da desilusão.

O amigo de hoje pode ser a desgraça de amanhã.

O sorriso de hoje gesta a lágrima de dias vindouros.

Tapas leves nos ombros que esperam a lâmina fria de punhais odiosos.

“Até tu Brutus?”, Grito que ecoa na surpresa desgostosa.

O manto da traição faz eclodir nos altares hodiernos os Judas pós-modernos.

A amizade é coisa em extinção, o que existe mesmo é a selvageria do ego.

“Ama ao teu próximo como a ti mesmo”. Disse o Criador.

Todavia dizem os egos selvagens: existe alguém mais próximo de mim do que eu mesmo?

Eu sou o meu próximo!

Vivo num mundo onde se cultua a auto-amizade, amor sem pontes.

Nada contra o auto-amor, mas isto não pode traduzir-se no fim da amizade.

O fato é que é possível encontrar ainda amigos mais chegados que irmãos.

No entanto, dê-me uma lanterna, pois ao meio dia, sob a luz do sol os procurarei.

Ando a perguntar-me se sou um bom amigo.

Eu mesmo não saberia responder, visto que não me sinto bom nem amigo na relação de auto-amizade.

Prefiro ser feliz na relação de alteridade, no altruísmo, como um construtor de pontes.

Não sou heterocêntrico, contudo abomino o autocentrismo.

Não sou centro de nada.

Vivo na órbita do mundo e à minha órbita sobrevivem os que me amam.

Ou seja, aqueles que a despeito de meus limites e fragilidades simplesmente não me abandonam.

Nesta constelação vejo poucos astros.

“A amizade é coisa linda...”, disse um poeta,

“... é como unha e dedo, participar segredos. Ter alguém pra conversar COMIGO...”

A verdadeira amizade é como um rubi precioso,

Quem a possui preserve-a ou de súbito será roubada.

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