sexta-feira, 2 de julho de 2010

Véspera



Hoje eu acordei sentindo-me preso como uma ave vencida na gaiola.

É véspera de 02 de Julho, data que me lembra a liberdade.

Não me sinto com vocação para Peru.

Por que? Perus morrem em vésperas.

Eu quero o canto dos pássaros,

O vôo das garças, livres nos céus de meu Deus.

Eu quero o mar, o ar e o sol da liberdade.


Adoeço quando em casulos.

Emudeço em mim o meu canto se não sorvo a alegria.

As janelas da esperança dão passagem ao vento e à luz.

Eu quero um país de homens livres. Seria possível?

Uma terra onde justiça, dignidade e respeito sejam o prato do dia.

Da favela é possível ver o sol nascer dourando o olhar?

No banco da praça é possível dormir confortável ao frio?


Do cárcere é possível a juventude sonhar com uma pátria livre?

No Congresso Nacional é possível a honestidade?

Na igreja é possível o Cristo sem efígie?

Entre muros a sofreguidão devora as horas,

Já é tarde e o outono abre uma rua para a saudade.

Os raios de luz do sul focam o retrato na parede do desejo,

O rosto do menino ilumina a via do homem que havia de vir.


Descalço, sobre trilhos, o chão devora os pés dos que trafegam,

A história ensina o caminho de como se dançar a valsa da vida.

Sua alma mansa não amansa o tempo que insiste em não parar.

Sua poesia sonora faz-se ouvir nas asas das gaivotas que passeiam em silêncio,

E me remete ao frio e ao fio que vem lá do sul, que desperta as aves.

As marcas dos vergões da tristeza riscam o corpo no cepo dos que esperam.

Que vergonha se me dá na face rubra cheia de palavras caladas.


Porta entreaberta onde a dor de quem caminha em trapézio equilibra-se.

O escultor dá forma ao homem com granito e da pedra arranca eternidade.

Perfume de quem diz o que o mundo quer calar.

Oferta derramada no altar da esperança de um amor feito poesia.

A sala acolhedora da ternura num instante grita o amor que instiga a morte.

Frasco de perfume aberto para destilar poemas sinceros.

Uma voz se fez ouvir entre abraços idos.


Uma noz, partida na comunhão dos que vivem na lembrança.

Anzol posto na garganta de quem canta o canto da partida.

Resgate de eternidade na finitude do olhar que ancora o afeto.

Sorridente, a vida segue o seu caminho e percorre o tempo.

Eu percorro os pensamentos, enquanto o sangue me percorre as veias.

Ergue-se uma nova canção, numa nova estrada, para um novo mundo de rara beleza.

Em mim exala o aroma que o desejo instilou na espera, ao soar do sino.

Nenhum comentário: