Tique-taque, tique-taque...
Mera repetição!
A vida é como o movimento do relógio.
Nela repetimos atos, fobias, anseios e alegrias.
Repetimos as coisas leves, sutis e pesadas.
O ciclo vicioso da vida expele seu aroma outra vez.
Tique-taque, tique-taque...
Parado ali, o ritmo da espera acorda a aurora.
O tempo é voraz, não espera por ninguém;
É como um trem que passa nos trilhos do olhar.
A lâmina corta na alma o tormento.
A dor se abriga entre juntas e medulas.
Tique-taque, tique-taque...
O adulto de hoje repete a criança de ontem.
Reedição? Certamente.
Coisas do inconsciente! Verdade intrínseca.
Reminiscências desveladas na anaminese do espelho.
Solfejo de ninar cantarolado em silêncio na penumbra do quarto.
Tique-taque, tique-taque...
Sisifo ainda está ali subindo a montanha: posso vê-lo daqui.
A pedra nunca pára no topo e a alma não se sabe sossego.
Tudo faz o seu giro no fulcro do anelo.
Mera repetição! É isso que é a vida, mera repetição!
Parece que não sabemos fazer diferente.
Tique-taque, tique-taque...
Os ventos, os rios e as gerações fazem os seus constantes circuitos.
Batida natural de coisas que não se cansam de andar em círculos.
Os homens são velhas melodias tocadas num eterno sofrer.
Nascem, vivem, morrem e mais nada.
A dança da vida inspira a dança devida na dúvida.
Tique-taque, tique-taque...
O sol dá o seu giro, mas amanhã estará aqui no mesmo horário.
Tudo gira; gira o mundo,
Nós giramos e gira a roda-gigante.
Sisifo ainda está ali, a pedra sempre lhe escapa das mãos.
Alguém ai fora pode me dizer o que é vórtice?
Tique-taque, tique-taque...
A alma gira em torno espírito,
O corpo gira em torno da alma,
O mundo circunda o corpo,
E este gira sem parar em torno do meu pequeno mundo.
Quanto a mim, gravito na órbita daquilo que em mim se sabe esperança, amor e poesia.
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