quarta-feira, 9 de junho de 2010

Flor De Ir Embora



Alguma coisa em mim permanece irrequieta,

Seria a minha alma?

Respiração ofegante,

Uma névoa de tristeza,

Dessas que cobrem as estações de trens em madrugadas de invernos frios.

Um ar de nostalgia inquieta-me,

E meu coração sangrando, segue o passo do gado aquilatando o incompreensível.

E eu, sem saídas, nem sei dizer a razão.

Suspeito que o rebuliço da minha alma tenha a ver com as coisas da saudade, ou não.

Falo das coisas que a gente guarda no baú para ninguém ver: infância, família e inocência.

Decidi escrever porque a mente não consegue conduzir o meu corpo para outra atividade.

Refiro-me à letargia que a alma insatisfeita produz e provoca no corpo.

A alma é tirânica, egocêntrica e infantil, visto que exige a subserviência do corpo.

Não dialoga, não transige nem negocia.

Respiro fundo.

Suspiro profundo.

Vou ao fundo, bem fundo das coisas que quero negar.

Fujo das minhas buliçosas angústias.


A cortina azul da minha sala lembra-me o céu que daqui não posso ver.

Ausculto-me e nada escuto, e assim, discuto comigo mesmo: monólogo sem fim.

A guerra se instala em mim, entre Ego, Superego e Id: nada se resolve nesse triângulo assassínio.

Assentado ali, assento a poeira da refrega de ontem, olhando a rua.

Vejo-me menino correndo na chuva,

Ao léu, açoitado pelo vento,

Sem rumo,

Sem solidão ou máscaras,

De mãos dadas com a alegria, minha eterna companheira.


Numa manhã de chuva e sol,

Daquelas que a gente se sente criança de novo anafando-se de algazarras.

Imagino-me voando por ai,

Como um Ícaro ou sobre um pégaso afim de acordar a alva.

Pés descalços. Aliás, para que os pés se as asas nos libertam do chão?

Decanto-me num canto, posto num canteiro, como flor de ir embora.

Sigo a estrada que me leva de volta para casa.

A cidade está deserta e eu aqui, sou só areia.

As ruas destilam silêncio.

O meu olhar encontra o mar,

E o mar se faz amor.

Ternura de um olhar que quer a vida que se esconde do outro lado da flor.

A flor de ir embora.

E lá vou eu,

Alço vôo,

Atravesso nuvens,

Vou até os confins de mim mesmo.

Estrada que ruma para a eternidade de um sorriso singelo.



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