sexta-feira, 4 de junho de 2010

Aos Teus Pés



Os meus pés fundiram-se aos teus na areia da praia.

O mar em mim revelou-se sombrio em bravios oceanos.

Se hoje sou deserto me faço flor na areia ao vento,

Pétala despetalada do pé e galho.

Onde estaria eu agora não fosse o teu amor?


Crescer me fez enxergar a vida e o mundo.

Poço sem fundo no sem fim de mim mesmo.

Meu mundo é poeira que esconde tesouros.

Mistério profundo em águas de ribeiros silentes.


Meus pés continuam ali, fundidos aos teus,

Assim, resgato o sentido da palavra: PAI.

O penúltimo que tive, ofuscou-me a visão e entenebreceu-me o olhar.

O Último que possuo é a mais doce razão de ser da minha frágil existência: opala.


A minha mãe nunca me levou à praia, à pisar na areia ou à tocar as ondas,

Porém, ela ensinou-me a te achar aonde quer que meus pés me guiassem.

Os meus pés sempre encontraram os teus.

Os meus pés nada são se não estão nas tuas pegadas.


Amo ser achado por ti quando me sinto perdido e só.

Perco-me em mim mesmo, desvendo-me e encontro-me em ti.

Pisei pedras e espinhos, caminhei sobre fogo de chão na terra do fogo,

deixei minhas pegadas pela senda da vida.


Por estradas mortas me fiz notar e de veredas antigas fiz-me distante.

Olhando para trás já não via as tuas pegadas,

Sinto-me só. Sozinho em mim!

Solidão do tipo que os meus pés sentem quando os teus não estão por perto.


Senhor, ainda estás ai?

Quero voltar à areia para ver as estrelas do chão onde recostamos a cabeça.

Podes me contar histórias novamente?

Não olhes para as mudanças do meu corpo envelhecido, o menino ainda mora aqui.


Quero sentir os teus pés maiores que os meus.

Quero que notes que te admiro ao perceber tua grandeza.

Quero que sintas o meu destino feito das estradas que rumam para o teu coração.

Quero simplesmente que notes que eu ainda estou aqui: uma eterna criança.


Quero perseguir a tua sombra,

Te contar segredos meus, vividos nas terras distantes,

Quero te dizer o quanto foi duro viver pródigo por ai.

Ensina-me o caminho de volta à inoscência.


Na estrada, longe de casa, vi pessoas que como eu, te amam,

Feridas, cansadas, mas que ainda preservam o brilho no olhar,

O sofrimento não foi capaz de apagar a lembrança da tua face terna.

Senhor, eu só desejo uma coisa e peço-te que não me negues: perdoa-me.


Os meus pés estão aqui grávidos de destinos,

Todavia, ampara-me os pés entre os teus dedos firmes.

Como um filhote de leão pisa as pegadas do pai,

Eu quero sentir as tuas, para possuir-te, pois eu quero ser como tu.

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