quarta-feira, 2 de junho de 2010

Balangue-dangues



Ontem fui menino pobre que vagava por ai absorto.

Chutei latas, brinquei com pneus velhos e bolinhas de gude.

A fome não foi capaz de deter a ânsia de vida e prazer.

A fumaça do tempo encobre as minhas lembranças,

Como um véu posto na face de quem deseja o oratório.

Sinto cheiro de outonos e dos invernos quero o silêncio.

Meninos pobres são assim: reinventam a vida a cada manhã.

Hoje sinto saudade dos meus irmãos: ligeiros corações alados.

Vejo-me descalço sobre a laje de casa: desnudo de orgulho

E vestido de aventura, alegria e um futuro incerto.

O futuro chegou e eu me dei conta que cresci.

Crescer é ruim.

Prefiro os balangue-dangues e empinar pipas por ai.

Esse mundo de trabalho e contas a pagar me enfada.

Tenho um cordão umbilical preso a partes do meu passado.

Sinto saudade de alguma coisa que paradoxalmente permanece em mim.

Como sentir saudade do que permanece comigo?

Não sei dizer, só sei sentir.

Sinto e não me culpo; apenas me dou ao direito de reviver.

Quero continuar criança, mesmo que o corpo resista.

Resisto a tudo que se chama espera.

Sou nascido de sete meses e vou bem, obrigado!

Parece que estou preso no tempo, na alma e na existência.

Sinto saudade da minha mãe e da minha querida irmã Mida.

Ali onde nos escondíamos em grutas feitas com a palma da mão.

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