quarta-feira, 18 de agosto de 2010
Sobrevoo - Espinho - Portugal - 18/08/10
domingo, 15 de agosto de 2010
Sopro de Deus
sexta-feira, 13 de agosto de 2010
Eu, Entre Abismos
A vida é um caminho que esconde abismos.
A gente nunca sabe onde eles estão e porque.
Há abismos entre o céu e a terra,
Há outros nos mares,
O ser é abismo como abissal é o silêncio.
Mas, estes, não são mais profundos que os do coração.
Os meus abismos são profundos demais para explicar.
Crateras se abrem entre o olhar e os sonhos.
O tempo é abismo,
O medo também o é.
Infindos são os dias e a fé é ponte entre abismos.
Eu queria ser fleumático, para não sofrer tanto ante os contrastes,
Porém, isto é íngreme o bastante para mim,
E os meus pés escorregam para um poço sem fundo.
Desejei ser colérico, para afoito me lançar sobre tudo e todos,
No entanto, a minha alma rejeitou friamente tal façanha.
Não sei ser outra coisa senão uma doce mistura;
Em mim transporto a fusão,
Sou portador de dois mundos,
Universos paralelos que me habitam o ser.
O sanguíneo em mim habita as estrelas e me faz voar por ai,
O melancólico em mim esconde-me em cavernas e grutas da
Alma, enquanto verto na face lágrimas.
Esmurro-me e venço-me às vezes,
Mas, quando me dou conta, vejo-me andando em voltas,
No circuito de mim mesmo.
Serei o único nessa desventura?
Se não me basto, do que importa os outros?
Quando criança eu queria ser aviador ou fuzileiro,
Não tornei-me nenhum nem outro,
Fiquei no meio do caminho cuidando das almas,
Sou pastor de ovelhas e lido com rebanhos.
Todo pastor é poeta por ser sensível.
Sua alma migra para o além sem desprezar as coisas de aquém.
Todo poeta é pastor de sua própria alma,
É cantor de suas próprias intrigas.
Pastor das idéias e das palavras,
Porque lida com o cuidado das duas coisas.
Eu queria ser só sanguíneo,
Pois, tocaria os meus dias solfejando alegres cantos,
No entanto, minha melancolia despedaça as partituras;
Encosta meus instrumentos de melodias infindas,
E no juazeiro a beira da estrada pendura a minha viola.
Essa é a minha ambiguidade,
Dialética em mim, que nasce, morre e renasce todos os dias.
Eu queria ser diferente, meu senhor,
Mas, a raiz de mim é híbrida e plantada em chão profundo.
Aos que me amam rogo paciência,
Aos que toleram não rogo nada: apenas sou eu mesmo, como sou.
Vou indo para o porto desejado: espera que nunca acaba.
Cindido,
Sem resposta,
Apenas fazendo o caminho caminhando.
Tentando alegrar a outros como eu,
O quais vivem fendidos,
Entre abismos, na bifurcação de si mesmos.
quinta-feira, 12 de agosto de 2010
Onde Não Há Mais Trilhos
sexta-feira, 6 de agosto de 2010
Uma Visita à Ovar - Portugal
Quando criança eu desejava cruzar os mares a procura de cavernas, colinas e montanhas distantes.
Eu imaginava aventuras nos raios do sol e viagens em bolhas de sabão, destas que flutuam livres por ai.
No fundo eu sabia que os melhores tesouros estavam escondidos, como escondidos estão os segredos.
Segredos feitos vinhos velhos de adegas à beira do D´ouro.
Entretanto, eu sempre pensei que os tesouros precisam continuar longe dos olhos.
De outro modo, o que seria dos piratas?
Não haveria mais aventuras,
Buscas ou narrativas de estórias mil.
Piratas não subsistem à tesouros revelados.
Se não há tesouros e aventuras, piratas morrem.
Não há sonhos,
Não há navios nos mares,
Nem garrafas de rums para entremear nostalgias.
Não há batalhas de canhões, nem de espadas se as pedras preciosas estão nas vitrines.
É certo que os piratas de hoje são citadinos, moram em favelas e habitam edifícios.
Não navegam mais, senão na internet ou na ilusão de entorpecentes.
Não há mais canções ouvidas entre neblinas e névoas escuras.
Tampouco há mais papagaios em ombros de capitães caolhos.
O que restou dos piratas foram os fantasmas, um mar vazio e ilhas desertas sem tesouros escondidos.
Já não há mais sonhos que parem aventuras.
Os piratas de hoje são paladinos de terno e gravatas.
Carregam a cruz, mas são ateus,
Saqueiam casas, almas e consciências,
Estão nas ruas sem mar e sem amor.
Por aqui, meu senhor, precisa-se ir longe para se viver aventuras.
Sete mares sem marés, nas quais navegam as naus que transportam esperança.
Hoje viajo mar afora,
Não mais de navio, mas de trem ou apenas em pensamento.
Foi assim que chegeui à Ovar.
Terra onde os peixes desovam seus segredos.
Lá estava ela, um tesouro de grande esplendor.
Oitenta e seis anos,
Vinte à espera de alguém que viesse de outros sonhos.
À espera de alguém que lhe partisse o pão da alegria.
À espera de alguém que não erigisse a cruz para a morte, mas que anunciasse a vida que dela advem.
Vinte anos sem quem lhe desse a beber o cálice da Aliança.
Que tesouro há mais preciso que este?
Que aventura pode ser mais atraente que esta?
A verdadeira vida habita a vida.
Dona Emília, o tesouro.
Sua fé brilhava enquanto enternecia a face para cantar.
Era apenas uma menina, uma criança à espera de seu Senhor.
Amou-me simplemente,
E feliz, pronunciou os nomes de piratas de suas aventuras aprazíveis: Caligari, Carlos Antônio e agora o meu.
Uma velha canção se fez ouvir quando o Capitão do barco veio abraçá-la.
Foi maravilhoso senti-lo ali,
Ele veio dançar no navio a valsa da alegria.
Sentiu-se amado,
Lembrado,
Desejado.
A ilha não estava mais deserta.
Ninguém sabe ao certo por quanto ainda resistirá o tempo.
Sobre suas bengalas, vertia-se em lágrimas de amor ao vestir-se de silêncio profundo.
O Senhor das marés, dos osceanos e dos sete mares estava entre nós.
Veio visitá-la,
Mas ela, somente ela o via com o coração.
Os marinheiros, apenas notaram o quanto Ele a amava.
Sou pirata anacrónico, mesmo na modernidade, porém sem mar, sem aventuras e sem tesouros escondidos a minha alma definha.
Espero que o Capitão da embarcação da vida me leve ainda por oceanos profundos.
Permita-me encontrar outros mares, ilhas e terras em que seus tesouros não foram roubados.
Sinto-me à espera de mais uma partida,
Não sei em que direção Ele me levará,
Todavia, sigo as estrelas e sigo os raios do sol.
O vento sopra forte,
Vejo-me içando as velas,
Tomarei a direção do sol.
O que faço agora é esperar.
A minha alma ainda sente o cheiro das flores dos canteiros da última parada.
Ali onde o tesouro resiste ao tempo, aos maus piratas e à poeira.
Ali onde o Olhar de Emíllia Lisboa denuncia a eternidade flagrante de um Deus que sabe esconder suas pedras preciosas do olhar de piratas sangrentos.
Ela simplesmente está ali, à espera do retorno do seu Amado.
E quanto a mim, com o coração no céu,
Vou seguindo as gaivotas dando-me ao mar simplesmente por amor e por amar.
Há sempre um mar no amor,
Há mar em amar,
E esta será sempre a mais doce aventura.